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O MEDO DE SABRINA BITTENCOURT

Sabrina Bittencourt: 20 anos de militância Foto: Reprodução/Facebook


Em troca de mensagens com amiga na véspera de possível suicídio, ativista diz que estaria sendo perseguida e insinua que João de Deus oferecia casas populares em troca do silêncio de suas vitimas

Horas antes de supostamente pôr fim à própria vida na noite deste sábado, Sabrina Bittencourt, de 38 anos, ainda tentava expandir sua rede de apoio para checar denúncias contra o médium goiano João Teixeira de Faria, o João de Deus. Gabriel Baum, filho da ativista, Maria do Carmo Santos, a presidente do grupo "Vítimas Unidas", e Vana Lopes, fundadora do "Vítimas Unidas", confirmaram a morte dela. Segundo a ONG, Bittencourtestaria em Barcelona; já Baum afirmou que ela cometeu suicídio no Líbano. Até o momento, porém, nenhum corpo foi encontrado e ainda não há confirmação oficial da morte, apenas por meio da organização.


"Protejam a memória de Sabrina”, pediu Lopes, que conta que os homens denunciados por elas se uniram para realizar uma campanha de difamação contra Bittencourt. “Ela me falou na tarde de sábado que estava cansada."

Sob efeito de medicação para dormir e ainda com receio de falar com a imprensa, Lopes disse que também sofre constantes ameaças. "Tem um pessoal dizendo que sou assassina, incitando as pessoas a me odiarem. A pressão vem inclusive de advogados desses monstros."

Tudo teria piorado, contou Lopes, quando o grupo lançou um aplicativo. "Passamos a receber muito mais denúncias", disse ela, uma das vítimas do médico Roger Abdelmassih.

Para ela, Bittencourt teria sido forte para ajudar outras vítimas, mas não a si mesma. "Ela ajudou pessoas, mas, quando era para se ajudar, ficava tudo difícil. É uma quadrilha muito grande atrás de todas essas ameaças. Os abusadores se juntaram para destruir a Sabrina", acredita Lopes.

(Atualização: Gabriel Baum falou com ÉPOCA nesta segunda-feira. Ele disse que "nenhuma polícia, governo ou hospital atestará a morte" da mãe. )

A ativista ajudou a desmascarar João de Deus no final do ano passado, quando reuniu dezenas de vítimas de abuso sexual. Ela encaminhou os relatos ao Ministério Público de Goiás e à Polícia Civil. Sob pressão de pessoas ligadas ao religioso, preso em Goiás, Bittencourt denunciava as ameaças que sofria, motivo que fez com que ela saísse do Brasil.

Acostumada a recolher a dor da violência em Goiânia, a psicóloga Aparecida Alves foi procurada por Bittencourt na manhã do que seria o último sábado de vida da militante. Ela pediu a ajuda de Alves para entrar em contato com alguém que pudesse investigar casos em que o médium teria se utilizado de casas do programa "Minha Casa Minha Vida" para silenciar vítimas.

Na conversa a que ÉPOCA teve acesso, Bittencourt queria a lista de donos das casas em Itapaci, no interior de Goiás. Segundo ela, uma testemunha teria dito que o médium doava casas para suas vítimas a fim de que não o denunciassem.

Bittencourt pediu ajuda para investigar suposto esquema de João de Deus Foto: Reprodução

Troca de mensagens de Bittencourt com amiga Foto: Reprodução

Bittencourt relata ameaças sofridas por Paulo Pavesi Foto: Reprodução

Neste mesmo diálogo, a ativista confidencia a perseguição que sofria nas redes sociais por Paulo Pavesi. Em uma carta postada nas redes sociais, Bittencourtrepete o alerta.

Em seu perfil no Facebook, Pavesi se defendeu de acusações de que ele teria provocado a morte da militante. “Os apoiadores de Sabrina estão tentando fazer um ataque virtual contra mim alegando que ela se matou por minha causa”.

Na mesma conversa com Alves, Bittencourt alertou: “Uma guia que trabalha na Casa Dom Inácio de Loyola marcou vários dos matadores profissionais do João de Deus, pedindo para me localizarem”.

Para Alves, o Estado teria falhado em cuidar da saúde emocional de Bittencourt. “A violência tem impacto em nossa mente, que ninguém tem acesso. A vítima, como Sabrina, precisa de um acompanhamento médico”, explicou.

Segundo ela, a polícia e a Justiça colocam o peso sobre as vítimas e testemunhas.“Ela lutou até onde deu conta. Ela não sucumbiu. Não podemos endeusar, mas também não podemos esquecer seu empenho contra a perversidade do João de Deus. Ela merece nosso respeito”, acrescentou.

No final de janeiro, Bittencourt entrou no caso de denúncia coletiva de abusos de um médico no Tribunal de Justiça do Estado de Goiás (TJGO). Ela gravou dois vídeos em apoio às vítimas, subordinadas do médico Ricardo Paes Sandré. A defesa nega todas as acusações.

“Sabrina foi muito solícita, parecia indignada”, disse o jornalista José Mário, marido de uma das vítima do médico. “Realmente, uma pessoa que acreditava, se mostrava empenhada em denunciar.”

Fonte: epoca

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