Em entrevista ao jornalista Florestan Fernandes Júnior, do projeto Jornalistas pela Democracia, publicada no jornal El País, Ciro Gomes, que chegou em terceiro lugar na eleição presidencial de 2018, desfere violentos ataques ao Partido dos Trabalhadores e se apresenta como oposição "pós-PT": "O PT já foi. Agora eles encontraram alguém que tem coragem de encará-los. Eu sou pós PT", afirma; perguntado sobre as próximas eleições, diz que o partido pode cogitar seu nome na disputa à presidência, mas que é cedo para falar sobre o assunto, porque os próximos quatro anos serão uma montanha russa; mas admite que é necessário construir não uma terceira via, mas "a via"; Ciro xinga o PT de "partido corrupto" e "quadrilha"
Em entrevista ao jornalista Florestan Fernandes Júnior, do projeto Jornalistas pela Democracia, publicada no jornal El País, Ciro Gomes, que chegou em terceiro lugar na eleição presidencial de 2018, desfere violentos ataques ao Partido dos Trabalhadores e se apresenta como oposição "pós-PT".
"O PT já foi. Agora eles encontraram alguém que tem coragem de encará-los. Eu sou pós PT", afirma. Perguntado sobre as próximas eleições, diz que o partido pode cogitar seu nome na disputa à presidência, mas que é cedo para falar sobre o assunto, porque os próximos quatro anos serão uma montanha russa. Mas admite que é necessário construir não uma terceira via, mas "a via". Ciro xinga o PT de "partido corrupto" e "quadrilha".
Diante da questão se aceitaria o PT numa frente de oposição ao novo governo, o político cearense diz: "Acho que sim. Nosso inimigo não é o PT", para em seguida expor o verdadeiro sentido de suas opiniões sobre o partido de Lula. "Agora, nós precisamos não nos comprometer. Estou falando sob o ponto de vista histórico. Precisamos dar ao jovem brasileiro uma plataforma em que ele não precise de um salvador da pátria, de um guru, de um líder carismático que, preso, de dentro da cadeia, fica mandando recado. Isso é o fundo do poço. Não quer dizer que a gente abandone o Lula. A questão central do país não pode ser identitarista ou o salve Lula. Enquanto a agenda for esta, estamos fazendo exatamente o que o Bolsonaro quer que a gente faça. Ele não ganharia em hipótese nenhuma no Brasil que eu conheço se não fosse o antipetismo que o petismo cevou. O Palocci é réu confesso. E não é um petista periférico. Foi o homem que Lula escolheu para comandar a economia do Brasil por 8 anos e a Dilma escolheu para comandar o governo. O Levy foi escolhido pela Dilma. O Michel Temer foi escolhido pelo Lula. Se a gente ficar alisando essas coisas pela dor que tem do Lula estar onde está, não vamos pensar na questão brasileira. Cabe a oposição vigiar, cobrar. O que faz a burocracia do PT? Se retira da posse. Ora, quando o Aécio Neves nega o reconhecimento do sucesso eleitoral da Dilma, começa a plataforma do golpe. E o PT soube denunciar isso. Como é que se explica agora para o povo brasileiro que um adversário nosso, por mais deplorável que seja, não é reconhecido como vitorioso?".
Ciro Gomes faz contorcionismos verbais para explicar por que, tendo participado dos governos de Lula e Dilma, somente agora descobriu estes problemas do PT: "Eu fiz parte do primeiro mandato do governo Lula. Quando eles começaram a errar eu não aceitei mais ser ministro. Eu votei na Dilma contra todas as contradições, porque o outro lado era o PSDB e o Aécio, que eu sabia quem era. O que fiz desta vez? Disse: campanha pra eles eu não faço mais. Votei no Haddad como cidadão, mas não voto mais nesta burocracia do PT. Não faço campanha com eles nunca mais. De lá pra cá eles se corromperam. Essa é a triste, dura e sofrida realidade. Apodreceram. Tomaram gosto pelas benesses do poder".
O jornalista Florestan Fernandes Júnior insiste em questionar por que Ciro, "que já esteve tantas vezes junto com o PT, não apoiou o Haddad".
O pedetista então passa a tergiversar sobre o quadro político e eleitoral que marcou a primeira candidatura de Dilma, em 2010: "Eu já tinha feito isso com a Dilma. Lá atrás, a Dilma era uma pessoa sem nenhum treinamento, sem nenhuma vivência, nunca disputou uma eleição. E o Lula, aproveitando a justa popularidade que tinha, resolveu impor a Dilma contra todos nós. Estávamos eu, com predileção nas pesquisas, Eduardo Campos... E o PT não tinha nenhum quadro. E ele escolheu uma pessoa que nem tradicionalmente do PT era. Por que? Pra mandar". Misturando os fatos, tenta justificar sua posição na campanha de 2018, acusando o PT e Lula de terem mentido ao povo brasileiro: "Todas as pedras do caminho sabiam que Lula não podia ser candidato pela lei da ficha limpa. E eles impõem a candidatura do Lula, mentem para a população brasileira explorando a boa fé do nosso povo mais pobre para comovê-lo até o limite da eleição e botar uma pessoa sem autoridade".
Ciro Gomes vai ao extremo de atacar o próprio Lula e justificar sua prisão. Acha que a maior liderança popular da história do país não é preso político, mas preso comum: "[Lula] é preso comum. Se Lula fosse um preso político, não tinha que recorrer aos tribunais. Lula não é condenado pelo Sérgio Moro, que eu sempre critiquei. É condenado por unanimidade pelo Tribunal Regional Federal. Tentou diversos recursos no STJ e STF. Portanto, por definição, é um preso comum. Mas se ele entende que é um preso político, não podia estar recorrendo às instâncias formais. Eu acho a sentença que o condenou frágil. Mas isso não o transforma num preso político, porque ele aceitou a dinâmica".
O pedetista ataca o PT e o PSOL por terem decidido não comparecer à posse do presidente da extrema-direita: "Resolveram se omitir na posse. Nós ficamos. Temos o compromisso com a democracia, com os ritos, com os valores".
Ciro Gomes não esconde sua mágoa e sua raiva do PT, atribuindo aos seus militantes os atributos dos seguidores de Jair Bolsonaro: "O bicho mais parecido com o bolsominion (nome pejorativo para os seguidores de Bolsonaro) é o petista fanático. Tanto para o bolsominion como para o fanático do PT pode acontecer o diabo que eles relativizam o diabo".
Ciro justifica não ter apoiado Fernando Haddad contra Bolsonaro alegando que a "eleição estava perdida". Mas em seguida o pedetista diz: "O que eu não faço mais é campanha com esta quadrilha" (...) "O PT é uma força corrupta".
Na entrevista, Ciro Gomes faz críticas ao governo Bolsonaro e se proclama em oposição a este.
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