Passando pela base de todas as profissões e sociedades, ele(a) permeia, em algum momento, a formação de cada pessoa.
Seu poder reside na sua participação onipresente da história de cada cidadão, como mentor de escolhas e orientador de decisões que inauguram caminhos para toda vida.
Temido por sua capacidade de transformação individual e social, ele é sistematicamente pressionado e perseguido.
Em suas legítimas manifestações salariais, ou por melhores condições de trabalho, invariavelmente são tratados como inimigos do estado [1], justamente por serem assim considerados por aqueles que se apropriam da coisa pública e da vontade coletiva.
Os donos do poder sonhavam, em seus mais profundos devaneios dominatórios, que ele(a) fosse apenas mais uma classe de trabalhadores, um profissional, e que isso lhe bastasse.
Entretanto, para além da necessidade de manutenção de subsistência, ele(a) situou sua atividade, historicamente, no plano da “missão”[2], seu trabalho é um “postulado”[3], que não se define por habilidades meramente técnicas, mas, especialmente, pela vocação desses indivíduos.
Com efeito, é justamente essa vocação que o torna alguém extremante “perigoso” aos que exercem dominação social, sob qualquer perspectiva.
Aquela característica inata ao revolucionário, de transformar, atua em um espaço que, naturalmente, a força bruta não alcança, esse campo do subjetivismo humano denominado “pensamento”, que nas palavras de Bertrand Russell[4], “ tem o extraordinário poder de transformar as ideias do homem a respeito do mundo e de si próprio”.
Em uma quadra de vazio do pensamento, de manifestações acríticas sobre as mais relevantes questões do país, sobretudo no palco da mídia e das redes sociais, esse revolucionário poderia ser, caso valorizado, uma real ameaça ao legado de dominação histórica de repúblicas ocidentais, com as mesmas características do nosso país.
A alteridade encontrada na conduta revolucionária desses indivíduos, invariavelmente dispostos, em que pesem as dificuldades, a contribuir com as transformações psicossociais dos cidadãos, lhes defere uma singularidade tão louvável quanto inquietante.
Pelas mesmas razões o revolucionário é um ser essencial e admirável aos olhos da sociedade, e abominável e perigoso sob a ótica de manutenção do poder.
Essas análises transitam pela capacidade do revolucionário em transitar e influenciar naquilo que Gramsci denominou como “vontade coletiva”[5], que não pode ou deve ser confundido com o conceito de “vontade geral” introduzido pelo contratualismo de Rousseau.
Evidente que a perspectiva analítica de Gramsci emerge em Rousseau, entretanto, com muito maior conotação idealísta, ou seja, como afirmação de um dever-ser ético contraposto à "materialidade" dos interesses particulares, os quais seriam capazes de gerar somente a "vontade de todos" e não a vontade geral[6].
Neste ponto, vale uma especial citação daquele autor:
“O máximo fator da história [não] são os fatos econômicos, brutos, mas o homem, a sociedade dos homens, dos homens que se aproximam uns dos outros, entendem-se entre si, desenvolvem através destes contatos (civilização) uma vontade social, coletiva, (...).”[7].
Vem dessa constatação a periculosidade preciosa do revolucionário, da sua intrínseca capacidade de lapidar aquilo que o autor denomina “máximo fator da história”, leia-se, o homem, a sociedade dos homens.
Permitir que o revolucionário seja a principal alavanca de transformação do “máximo fator da história”, o homem, ou a sociedade dos homens, significa deferir a ele(a) o protagonismo do poder, a fórmula da não submissão, o primado sobre o proibido e não desejado estado de consciência que liberta.
Esse revolucionário é o professor(a), a quem Thomas Joseph Burke, em sua obra “O professor revolucionário: da pré-escola à universidade” definiu, sob a influência de Piaget, como um agente de intensa transformação pessoal e social.
Aquilo que Piaget[8] denominou “sujeito epistêmico ou cognoscente”, capaz de organizar seu desenvolvimento cognitivo por estágios de conhecimento, que transbordam à mera maturação neurológica, com especial influência do mundo à sua volta, defere ao professor, esse ser revolucionário, a singularidade nevrálgica de transferir conhecimento e, portanto, revelar-se fio condutor de transformações pessoais e sociais.
Hoje celebramos o dia da imprescindível periculosidade existencial desses revolucionários, detentores da generosa disposição de transmitir conhecimento, através dos tempos, protagonistas da única cura verdadeiramente possível e desejável à humanidade, a erradicação da ignorância.
Aos professores do mundo os meus aplausos, aos meus professores, minha gratidão eterna.
Aprendiz de revolucionário.
[2] Do dicionário Michaelis, algumas definições de Missão: 4. REL Discurso religioso ou sermão doutrinal, com o fim de fortalecer a fé ou converter descrentes. 5. REL Corpo de missionários pertencente a uma igreja ou a outra organização religiosa, cujo objetivo é propagar a fé que professam.
6 POR EXT Estabelecimento onde habitam e, às vezes, também trabalham os missionários.
7 A mais importante função de uma instituição ou organização.
8 FIG A principal razão de ser; fim, propósito.
Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/busca?id=PqjDA
[3] Postulado: 2 FILOS Princípio admitido.
3 REL Tempo de provações que antecede o noviciado de certas comunidades religiosas, que devem ser cumpridas por aqueles que pretendem professar. Disponível em: http://michaelis.uol.com.br/busca?id=3w9va
[4] RUSSEL, Bertrand. A história do pensamento ocidental. Ediouro, RJ, 1ª ed., 2004.
[5] GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Tradução de Carlos Nelson Coutinho com a colaboração de Luiz Sergio Henriques e Marco Aurélio Nogueira. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 1999. v. 1. [ Links ]
[6] O conceito de vontade coletiva em Gramsci1. The concept of the collective will in Gramsci. Carlos Nelson Coutinho. Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Disponível em: http://www.scielo.br/scielo.php…
[7] GRAMSCI, A. Cadernos do cárcere. Tradução de Carlos Nelson Coutinho. Rio de Janeiro: Editora Civilização Brasileira, 2004, p. 127.
[8] Piaget. O sujeito epistêmico. Disponível em:https://br.answers.yahoo.com/question/index…
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