A retirada das favelas dos mapas de turismo, revelada em setembro, gerou muitas críticas e revolta na sociedade carioca. A Sputnik Brasil conversou com exclusividade com o presidente do Fórum de Turismo da Rocinha, Ailton Araujo Pereira, sobre a luta das favelas pela inserção no mercado de turismo da Cidade Maravilhosa.
Depois da polêmica retirada das favelas cariocas dos mapas da cidade em folhetos distribuidos para turistas no Rio em setembro deste ano, a Riotur informou durante audiência pública da Comissão de Turismo da Assembleia Legislativa do Rio, realizada ontem (19), que já está em contato com o Instituto Pereira Passos, órgão responsável pela criação do mapa oficial do município para corrigir as imperfeições na publicação.
© FOTO: FERNANDO FRAZÃO / AGÊNCIA BRASIL
'Nova administração' anuncia mudanças na RocinhaSobre o assunto, a Sputnik Brasil conversou com exclusividade com presidente do Fórum de Turismo da Rocinha, Ailton Araujo Pereira, o Aílton Macarrão, de 52 anos, nascido e criado na favela da Rocinha. Atualmente, ele administra a Rocinha Original Tour, a primeira agência de turismo criada dentro da comunidade.
Segundo ele, a retirada das favelas cariocas dos mapas da cidade "causou estranheza", tendo em vista que há uma luta de quase 10 anos "para mudar o modelo de turisno que foi implementado, principalmente na Rocinha" e os avanços que foram feitos desde a gestão passada neste aspecto.
"A gente ficou surpreso, porque a gente já vem neste processo há bastante tempo, e quando a gente viu que foi estancado todo um processo de luta e de informação pra inserir todos esses empreendedores, esses profissionais da área de turismo na favela, a gente fica muito triste e resolvemos buscar caminhos alternativos", disse Ailton.
Na ocasião, a Riotur alegou que as áreas ocupadas pelos morros Dona Marta, em Botafogo, da Babilônia, no Leme, e do Cantagalo, em Ipanema, apareciam apenas como regiões de mata por conta de uma recomendação técnica da empresa de cartografia que elaborou os mapas.
Ailton Macarrão falou sobre o processo de inserção das favelas na dinâmica do turismo no Rio de Janeiro que vem desde o fim dos anos 80 e estourou com a realização da Conferência da ONU Eco-92, realizada no Rio.
"A gente como morador achou que o turismo ia trazer benefício, ia vir capacitação, o governo iria ajudar os moradores a serem inseridos neste processo, mas nada disso aconteceu, foram vindo mais empresas, mais ricos, mas vans, e a comunidade sempre sendo deixada de lado, nem com nenhum tipo de parceria", comentou.
Segundo ele, daí veio a ideia de criar um fórum para discutir que tipo de turismo pode gerar emprego e renda, e ajudar a fomentar a economia da região, criando, assim, a agência Rocinha Original Tour.
© REUTERS/ RICARDO MORAES
Tiros, prisões, abusos e medo: ação com militares na Rocinha não tem prazo para terminarAo responder se o turismo é fundamental para diminuir a distância entre o asfalto e a favela, Ailton declarou que o turismo "serve para reverter toda a questão social das favelas".
"O Rio de Janeiro tem mais de mil favelas, só que as mais contempladas por essa questão do turismo são as da Zona Sul, as mais próximas do comércio, dos hotéis, a logística fica mais fácil. Mas toda favela tem sua característica […] tem sua cultura, sua história. O ideal é que todas as favelas fossem contempladas com capaacitação, qualificação, e próprio carioca e o brasileiro conhecer", observou.
De acordo com o diretor jurídico da Riotur, Christian Teixeira os mapas temáticos digitais vão ser trocados imediatamente e os físicos vão ser corrigidos quando a Riotur tiver recursos para produzir uma nova tiragem. Ele explicou que, devido a problemas financeiros, o órgão teve que utilizar mapas que já existiam desde 2013 para colocar nos novos postos de atendimento aos turistas inaugurados nos últimos meses.
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