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ANTES DE SE MATAR, REITOR DEIXOU CARTA SOBRE VEXAME A QUE FOI SUBMETIDO



247 - Encontrado morto nesta segunda-feira 2 no Beiramar Shopping, em Florianópolis, o reitor afastado da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Luiz Carlos Cancellier, denunciou na semana passada o que chamou de "humilhação e vexame" a que foi submetido.

Por meio de nota, a assessoria do shopping informou que um homem teria cometido suicídio nesta manhã, se jogando do vão central do empreendimento. Cancellier era alvo da Operação Ouvidos Moucos, que apura desvios de recursos e irregularidades em cursos de ensino à distância no programa Universidade Aberta do Brasil (UAB).

Ele foi preso pela Polícia Federal no dia 14 de setembro, junto com mais seis suspeitos, sendo liberado no dia seguinte, mas ainda proibido de entrar na universidade. Em um artigo publicado há quatro dias no jornal O Globo, ele nega com veemência ter obstruído a Justiça, conforme apontava a acusação contra ele.

Também em nota, a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) afirma ser "inadmissível que o país continue tolerando práticas de um Estado policial" e o Núcleo da União da Juventude Socialista na UFSC fala em "perseguição política". Confira abaixo a carta de Cancellier e as duas notas:

"Reitor exilado"

"Não adotamos qualquer atitude para obstruir apuração da denúncia

A humilhação e o vexame a que fomos submetidos — eu e outros colegas da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) — há uma semana não tem precedentes na história da instituição. No mesmo período em que fomos presos, levados ao complexo penitenciário, despidos de nossas vestes e encarcerados, paradoxalmente a universidade que comando desde maio de 2016 foi reconhecida como a sexta melhor instituição federal de ensino superior brasileira; avaliada com vários cursos de excelência em pós-graduação pela Capes e homenageada pela Assembleia Legislativa de Santa Catarina. Nos últimos dias tivemos nossas vidas devassadas e nossa honra associada a uma "quadrilha", acusada de desviar R$ 80 milhões. E impedidos, mesmo após libertados, de entrar na universidade.

Quando assumimos, em maio de 2016, para mandato de quatro anos, uma de nossas mensagens mais marcantes sempre foi a da harmonia, do diálogo, do reconhecimento das diferenças. Dizíamos a quem quisesse ouvir que, "na UFSC, tem diversidade!". A primeira reação, portanto, ao ser conduzido de minha casa para a Polícia Federal, acusado de obstrução de uma investigação, foi de surpresa.

Ao longo de minha trajetória como estudante de Direito (graduação, mestrado e doutorado), depois docente, chefe do departamento, diretor do Centro de Ciências Jurídicas e, afortunadamente, reitor, sempre exerci minhas atividades tendo como princípio a mediação e a resolução de conflitos com respeito ao outro, levando a empatia ao limite extremo da compreensão e da tolerância. Portanto, ser conduzido nas condições em que ocorreu a prisão deixou-me ainda perplexo e amedrontado.

Para além das incontáveis manifestações de apoio, de amigos e de desconhecidos, e da união indissolúvel de uma equipe absolutamente solidária, conforta-me saber que a fragilidade das acusações que sobre mim pesam não subsiste à mínima capacidade de enxergar o que está por trás do equivocado processo que nos levou ao cárcere. Uma investigação interna que não nos ouviu; um processo baseado em depoimentos que não permitiram o contraditório e a ampla defesa; informações seletivas repassadas à PF; sonegação de informações fundamentais ao pleno entendimento do que se passava; e a atribuição, a uma gestão que recém completou um ano, de denúncias relativas a período anterior.

Não adotamos qualquer atitude para abafar ou obstruir a apuração da denúncia. Agimos, isso sim, como gestores responsáveis, sempre acompanhados pela Procuradoria da UFSC. Mantivemos, com frequência, contatos com representantes da Controladoria-Geral da União e do Tribunal de Contas da União. Estávamos no caminho certo, com orientação jurídica e administrativa. O reitor não toma nenhuma decisão de maneira isolada. Tudo é colegiado, ou seja, tem a participação de outros organismos. E reitero: a universidade sempre teve e vai continuar tendo todo interesse em esclarecer a questão.

De todo este episódio que ganhou repercussão nacional, a principal lição é que devemos ter mais orgulho ainda da UFSC. Ela é responsável por quase 100% do aprimoramento da indústria, dos serviços e do desenvolvimento do estado, em todas as regiões. Faz pesquisa de ponta, ensino de qualidade e extensão comprometida com a sociedade. É, tenho certeza, muito mais forte do qualquer outro acontecimento".

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