Familiares de presos aguardam informações na porta do presídio
O Globo - A rebelião que culminou com ao menos 31 presos mortos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo, em Roraima, repetiu as cenas de brutalidade vistas no motim que matou 56 detentos em Manaus no dia 1º de janeiro. Segundo o secretário de Justiça e Cidadania de Roraima, 30 foram decaptados, alguns ainda vivos. Alguns deles tiveram o coração arrancado. Familiares dos presos se concentram na porta do presídio em busca de informações.
Os próprios presos filmaram suas ações e divulgaram um vídeo em grupos de Whatsapp. As imagens mostram os criminosos armados com facas arrancando, uma a uma, a cabeça dos detentos enfileirados no pátio do presídio. Eles ainda arrancam o coração e outras partes dos corpos das vítimas. “Está aqui a resposta para vocês, mataram os nossos irmãos em Manaus e agora vão pagar por isso (sic)”, diz um dos bandidos.
Segundo os agentes penitenciários de Roraima, uma briga começou por volta das 3h da madrugada, quando apenas 15 agentes estavam trabalhando. No presídio, há cerca de 1.700 presos, mas a capacidade é de cerca de 700.
Em entrevista ao GLOBO, o secretário disse que a penitenciária de Monte Cristo só tinha presos do PCC ou sem ligação com qualquer grupo criminoso, a partir de separação feita pelo estado em novembro passado, para retirar integrantes do Comando Vermelho e de outras facções do local.
— Não tem porque ser vingança, retaliação ao que houve em Manaus. Há uma rivalidade entre eles mesmos, e agora estão querendo falar em vingança, mas não há porque fazer vingança se não havia membros de outra organização criminosa dentro deste presídio — disse Castro.
Sangue no chão da Penitenciária Agrícola Monte Cristo, em Roraima - Divulgação/Sindicato dos Agentes Penitenciários de
Roraima
O ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, afirmou que conversou com a governadora de Roraima, Suely Campos (PP), e que as informações iniciais são que a chacina não ocorreu por vingança e sim por um acerto de contas entre presos da própria penitenciária Agrícola de Monte Cristo.
— Trata-se de um acerto interno de contas.
Na terça-feira, o governo do Amazonas emitiu alerta para Roraima no intuito de avisar sobre possíveis confrontos entre presos nas unidades do estado. O secretário titular da SSP-AM, Sérgio Fontes, ressaltou que Roraima e Rondônia tiveram recentemente confusões nos seus sistemas prisionais.
Em outubro, 11 detentos foram mortos na penitenciária de Roraima durante um confronto entre o PCC e o CV. Alguns presos foram queimados e outros decapitados.
As autoridades de Roraima ainda tentam entender o que ocorreu exatamente nesta sexta-feira porque, em novembro do ano passado, depois dos 11 homicídios, houve uma separação de membros do PCC e do CV. A penitenciária de Monte Cristo ficou reservada ao integrantes do PCC. E membros do Comando Vermelho foram para outras unidades.
As informações sobre a guerra entre as duas facções foram levantadas pela inteligência do sistema prisional de Roraima ainda no segundo semestre do ano passado. As autoridades flagraram um movimento intenso de “batismos” de novos integrantes por parte dos dois grupos criminosos. Uma facção ordenou a morte de quem se batizasse na outra, culminando nas rebeliões do ano passado. Agora, o governo investiga se o novo massacre também tem relação com a guerra.
Rebelião na Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru, em outubro de 1992 Foto: Nellie Solitrenick/Agência O Globo
CarandiruEm outubro de 1992, 111 presos foram mortos após a Polícia Militar entrar na Casa de Detenção de São Paulo, conhecida como Carandiru, para conter uma rebelião. Setenta e quatro policiais chegaram a ser considerados culpados pela morte de 77 das vítimas (os outros 34 teriam sido mortos por outro detentos), mas o julgamento foi anulado em 2016.
1 Comentários
Pessoas de bem que cumprem suas obrigações como cidadãos dificilmente vão parar em um presídio todos os que estão lá estão simplesmente colhendo aquilo que plantaram, a minha preocupação é com a família que perdeu um ente por causa da ação desses vagabundos que hoje estão presos.
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