Por Alex Solnik, do 247 - Com histórico de se relacionar bem tanto com petistas quanto com tucanos, o secretário municipal da Cultura de São Paulo, André Sturm, afirma nessa entrevista exclusiva ao 247 não ter filiação partidária: “Eu não sou de nenhum partido, eu sou do PC: Partido da Cultura”.
Para ele, “PT e PSDB são partidos progressistas que têm apoio da maioria da população”. Sobre as teorias conspiratórias geradas pela morte de Teori Zavascki, lembra que os americanos também as adoram, conta como Stanley Kubrick virou suspeito de “ter filmado a descida na Lua” e dá o seu veredicto: “Não foi o mordomo”.
Comenta o rombo milionário do Teatro Municipal detectado na gestão Fernando Haddad: “O diretor-geral da Fundação cometeu atos, como diremos... desagradáveis. Ele, inclusive, já é réu confesso”. Mas garante: “Não há nenhuma evidência de que o maestro John Neshling tenha roubado”.
É de esquerda? “Eu não sei... teoricamente Cuba é um governo de esquerda e um pichador que escreveu ‘morreu Fidel’ ficou preso 40 dias”. Explica por que não tomou posição durante o processo do impeachment de Dilma: “Qualquer coisa que eu falasse eu ia incomodar algum dos meus parceiros. É claro que no meu coração eu tinha a minha opinião que eu continuo guardando para mim”.
A respeito do debate que se iniciou depois que o prefeito João Dória mandou apagar os grafites dos muros de arrimo da Avenida 23 de Maio, é categórico: “Eu acho que grafite é arte, claro”. Garante, também, que “o prefeito não é contra o grafite, claro que não é”. Mas tudo tem limites: “Pichação é vandalismo. É outra história”.
Para ele, o grande responsável por não haver uma só revista de humor no Brasil atualmente é a onda do politicamente correto: “O politicamente correto é igual a igreja da Idade Média. A blasfêmia... a fogueira... Você não pode falar um monte de palavras mais. Porque você vira um herege”.
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André, você já fez “Sonhos Tropicais” que é um filme excelente e, no entanto, você largou o cinema. Por que?
Obrigado. Não é que eu larguei o cinema. Mas eu acabei assumindo compromissos que me obrigaram a deixar o cinema em segundo plano. Eu trabalhei um período na Secretaria da Cultura do Estado e, mesmo que o cinema brasileiro seja feito com dinheiro federal, eu achava que ficava estranho. Aí eu fui pro MIS e no MIS eu achei que conseguiria ter tempo para isso. Até comecei a trabalhar num projeto em 2011, 2012, mas aí o MIS virou um projeto muito grande, o Belas Artes voltou, eu fiquei muito ocupado em 2014. Quando eu comecei a pensar em fazer um projeto de novo, que foi no ano passado, era um outro projeto, uma ideia que eu tive, comecei a trabalhar achando que “ano que vem vou fazer um filme”. Recebi esse convite, esse desafio, resolvi aceitar, então a carreira cinematográfica foi postergada novamente.
E os temas estão aí...por exemplo, essa história do Teori é um filme pronto, não é? Já deve ter alguém fazendo o roteiro.
É... não sei se alguém está fazendo o roteiro, mas deve estar pensando já.
Você achou que foi atentado ou acidente? Como é que você faria esse roteiro?
Ó...ah, essa é uma história tão complicada...eu acho que dá muitos filmes, né? Não é uma teoria só.
A teoria do Teori...
Não foi o mordomo, com certeza, né?
Não, o mordomo estava em Brasília...
(Risos)
Nem o Lula, nem a Dilma. Mas impressionante como as teorias da conspiração florescem no Brasil. Perto de casa picharam um muro com a frase “treinaram Moro nos EUA e agora mataram Teori”. O que tem a ver uma coisa com outra? Nada! O avião não conseguiu aterrissar... não tinha nenhuma visibilidade...os fatos são esses...
Claro...
Ele voou baixo, a asa bateu no mar e pronto. E tem o seguinte: atentado em avião se faz com bomba.
É...
Não dá para fazer uma sabotagem nos equipamentos de modo que precisamente no fim da viagem eles falhem e o avião caia.
Vamos lá... eu acho assim...as pessoas adoram, né. E não é só no Brasil. Nos Estados Unidos também. Quantos livros já escreveram sobre o assassinato de John Kennedy? As teorias mais variadas, né.
Tem aquela outra: que os americanos não foram à Lua...
É...
“Foi tudo filmado no deserto”.
Tem um documentário, um falso documentário, que “prova” que Stanley Kubrick fez um filme sobre o homem pousando na Lua. Que aquele filme do Neil Armstrong foi feito pelo Stanley Kubrick e que a prova disso é que o Stanley Kubrick conseguiu emprestado da NASA as lentes especiais que a NASA tinha feito para ele filmar “Barry Lyndon”. Foi tudo armado! Você acha na internet... chama-se “Out of the room”, uma coisa assim...e eles pegam depoimentos de pessoas que falam sobre a vida delas e de repente dizem “aquele dia, o Stanley falou com o Neil”... Eles pegam esse pedacinho e põem no meio de um monte de coisas para justificar... “tá vendo, ele conhecia o Neil Armstrong”! Não era o Neil Armstrong, era o Neil... é muito divertido ver o nível de paranoia a que as pessoas chegam.
As pessoas não se dão conta de que um foguete foi lançado ao espaço, se ele não foi à Lua ele foi aonde? Deu uma volta na terra, foi até o deserto, os caras desembarcaram lá, para a filmagem e depois subiram de novo para voltar à Terra de cima?
Claro...
Dessas coisas óbvias ninguém se lembra... só falam da bandeira que tremulava, mas não podia tremular...
A sombra...a sombra não estava do lado certo...
É impressionante, né.
Mas a gente tem estado cheio dessas histórias...teve o Eduardo Campos dois anos atrás...teve um monte de teoria...
A primeira coisa que disseram os lunáticos é que a Dilma o matou...ninguém se perguntou como ela o matou? Como ela fez?
E porque o avião só caiu na hora de aterrissar? Se tivessem tirado um parafuso o avião cairia antes. Não, foi tudo calculado milimetricamente para o avião cair naquele horário quando teve a tempestade...
Isso porque a tecnologia de atentados é muito avançada no Brasil. Mundo afora eles explodem aviões, aqui, não, é muito mais sofisticado.
Aqui é milimétrico...
“Vamos sabotar o King Air exatamente na hora de aterrissar”. Vão passar anos discutindo isso.
É uma diversão...
É uma coisa muito maluca...André, você é um cara que, além de todo mundo falar bem de você, você é bem visto tanto no PSDB quanto no PT.
Que bom...
... o que é uma façanha...talvez você seja a pessoa mais certa para dizer porque esses dois partidos e as pessoas dos dois partidos começaram a brigar e se tornaram inimigas. Você consegue entender?
Eu acho que até tem gente do PT e do PSDB que se dá bem...e tem as pessoas que brigam. Eu acho que são as questões das disputas eleitorais...uma hora as coisas estão do lado de cá, outra hora estão do lado de lá...eu acho que faz parte do mundo da política e...se tornaram os dois partidos principais do país e aí as disputas acontecem. Mas você vê que tem muitas pessoas nos dois partidos que têm convivências harmônicas, fazem coisas juntas. E eu acho até que tem muitas... se você for olhar, ali, os objetivos, os dois partidos têm muitas coisas em comum. São partidos progressistas, são partidos que tem apoio da maioria da população, então acaba sendo muito em função das pessoas que ficam brigando, por interesses de disputas, né, mas, enfim, eu acho que aí são questões político-partidárias das quais eu não faço parte. Eu não sou de nenhum partido, eu sou do PC: Partido da Cultura.
Achei legal a tua ideia de que o Teatro Municipal não tem que ser exclusivo para ópera. Já não era em 1922 quando aconteceu lá a Semana de Arte Moderna...vai ter outras coisas lá, não é?
Sim, sim, até convidei o Ismael Nery para dirigir o Balé da Cidade, para dar visibilidade ao balé... o Roberto Minczuk é muito mais... ele é um maestro de concerto que também já trabalhou com ópera, mas ele não é um especialista em ópera, justamente porque eu acho que o Teatro Municipal tem que ter uma programação diversificada, ele não pode ser só da ópera, acho isso muito exclusivista.
E o que aconteceu no Municipal, hein? Quais foram os problemas?
Houve uma pessoa que passou por ali que foi... não sei exatamente o cargo que ele tinha, mas foi uma pessoa que foi... ele era o diretor-geral da Fundação e cometeu atos, como diremos... desagradáveis. Que a polícia está apurando. Ele, inclusive, já é réu confesso. Declarou isso, se dispôs a devolver uma parte do dinheiro que tirou de lá... coisas que acontecem...infelizmente foi no Teatro Municipal. Aí, as pessoas ficam dizendo “ah, o Teatro Municipal tem problemas”. Não tem problemas no Teatro Municipal. Por favor. O Teatro Municipal é incrível. O que houve foi uma administração calamitosa. Mas que já foi consertada, inclusive, na gestão anterior, importante dizer, teve uma pessoa que esteve lá, o Dallari, ele fez uma arrumação absolutamente eficaz, deixou pra gente tudo... claro, tem um rombo causado por esse dinheiro que desapareceu...
Vinte milhões, é isso?
É... falam dezoito, falam vinte, falam vinte e dois, de qualquer forma, na ordem de grandeza, é um bom dinheiro para o orçamento de um teatro, né, então tem um rombo ali, mas que a gente vai dar um jeito...
Não tem nada que ver com John Neshling, ou tem?
Olha, não há nenhuma evidência de que o Neshling tenha prevaricado, que tenha pego dinheiro. Há críticas ao estilo dele... a ele ter dado uma prioridade muito grande para a ópera... em vez de ter dado atenção para outros corpos do teatro...mas não há nenhuma evidência de que Neshling tenha roubado e eu, pessoalmente, não acredito que isso possa ter acontecido. Eu acho que ele às vezes é uma pessoa difícil, tem um estilo do qual se pode gostar ou não gostar, mas ele não é uma pessoa que faz esse tipo de coisa... acho que os defeitos do Neshling estão em outra área que depende até da opinião da pessoa, mas não esses. Eu diria que não foi e não há nenhuma evidência, nenhuma prova em relação a isso. A pessoa que fez isso foi o diretor do teatro.
Maestro geralmente tem esse gênio...é o cara que manda... mestre... maestro...
Claro, já começa pelo nome, né.
É normal... daí a fazer coisas obscuras vai uma longa distância...
Exatamente... ele foi diretor da OSESP durante anos e ninguém questionou a conduta moral dele. Teve talvez excessos do ponto de vista pessoal... às vezes fazia programação muito cara... talvez não faça sentido gastar 5 milhões para fazer uma ópera no Teatro Municipal de São Paulo... “ah, ficou bom”... Ficou bom, mas será que não podia custar menos? Mas não é porque roubaram... gastou-se muito. Então, quanto ao Neshling, são essas as questões, ninguém nunca questionou e, pela relação... não tenho amizade com ele nem inimizade...mas, tudo o que a gente tem nos relatórios nada aponta que ele tenha tido esse tipo de atitude.
Escuta, você que se dá bem com os dois lados, como é que você ficou no tempo do impeachment da Dilma? Você ficou de um lado ou de outro?
Veja, eu, por ser uma pessoa muito militante no mundo da cultura e o mundo da cultura ser muito sensível nessas questões políticas e ter ficado ainda mais nesse período, eu realmente me abstive de qualquer manifestação pública porque eu podia comprometer os projetos nos quais estava envolvido. No MIS, que é um museu ligado ao governo do Estado... e eu sou sócio do Cine Belas Artes que recebeu apoio da Caixa Econômica Federal que é ligada ao governo federal, apoio financeiro e apoio institucional da prefeitura, então, qualquer coisa que eu falasse eu ia incomodar algum dos meus parceiros. Então, por respeito a eles, eu sempre me abstive de fazer qualquer comentário público sobre a questão, até porque eu não podia fazer nada a respeito, certo? Eu não ia votar, eu não era promotor e essa foi a minha atitude. É claro que no meu coração eu tinha a minha opinião que eu continuo guardando para mim.
Quando a ditadura acabou você tinha uns 18 anos, não é?
Quando eu entrei na faculdade ainda tinha algumas coisas, mas já era um período, se a gente pode dizer assim, um período mais suave da ditadura, que é o período do Figueiredo, já... no período do Médici eu era uma criança... mesmo na época do Geisel a ditadura já não era uma ditadura assassina, vamos dizer... era uma ditadura de privar liberdades... o período que a gente ouve dizer que foi realmente os anos de chumbo é ali em 68 até 73... Costa e Silva e Médici...
Se bem que em 75 mataram o Vlado Herzog na tortura no DOI-Codi...
Eu ainda era um garotinho. Não dá pra dizer que eu lembro muito disso.
No tempo do Geisel houve aquele problema com a linha dura, que tentou derrubá-lo...
E ele segurou...
Naquele tempo você era contra a ditadura, é claro.
Eu vou te falar uma coisa... muito cedo na faculdade, a FGV eu me envolvi com o movimento estudantil e com o movimento cineclubista. E o movimento cineclubista era um movimento de esquerda para extrema esquerda. Então, eu acabei tendo uma convivência com as pessoas que tinham participado da luta contra a ditadura de maneira muito intensa, embora eu mesmo não tivesse participado porque eu tinha ali meus 17, 18 anos quando entrei no movimento cineclubista e a maioria das pessoas era de 30, 40, então pessoas que realmente tinham participado. Então, eu pude ter essa convivência ali por osmose. Mas desde jovem, para mim, sempre foi o maior valor a liberdade. Eu acho que a liberdade é fundamental. E viver sem liberdade é impossível. Eu sempre tive muita crítica a qualquer tipo de... não bagunça, liberdade... a qualquer tipo de política, de medida que privasse as pessoas de liberdade de pensar, de se manifestar, sempre fui contrário a isso.
Você seria, então, um cara de esquerda?
Eu não sei, né, porque essa palavra “esquerda” é complicada, né, porque assim...teoricamente Cuba é um governo de esquerda e um pichador que escreveu “morreu Fidel” ficou preso 40 dias. Eu sou contra isso. Então é difícil hoje dizer o que é esquerda ou direita. A Coreia do Norte é de esquerda...
Para mim, o comunismo não é de esquerda...eu concordo com você: esquerda é sinônimo de liberdade. Eu nasci e vivi a infância na Rússia e sei o que é o comunismo...
Você sabe o que é, né.
Aquilo não é esquerda, aquilo é ditadura. Pra mim ditadura é o contrário de esquerda.
Como a esquerda ficou vinculada...
Pra mim esquerda sabe o que é? A Dinamarca.
Ah, bom, então nós estamos de acordo...
Isso é que é esquerda...
Acho que o importante é a gente ser progressista...ser a favor do bem-estar das pessoas...
O que as pessoas desejam na vida? Viver bem...então... os melhores exemplos de países com menor desigualdade social são Dinamarca, Suécia, Noruega...aqui no Brasil floresce tanto a cultura da corrupção quanto a cultura da repressão...”vamos acabar com a corrupção”. “Como”? “Prende todo mundo”! Aí você examina os países que são menos corruptos. Dinamarca. Teve alguma Operação Lava Jato na Dinamarca para ela ser o país menos corrupto do mundo? Não. As pessoas simplesmente sabem que não podem pegar o que não é delas. O que não é meu não posso pegar. É uma coisa óbvia. Não precisa ter Operação Lava Jato para acabar com a corrupção. Isso não acaba com a corrupção.
Claro...
Está uma bagunça muito grande...todo mundo virou jornalista na internet sem ter formação de jornalista. Para você ser cineasta ou jornalista precisa estudar alguma coisa. Não é uma decisão voluntária: eu sou jornalista e pronto. Não é assim. Você precisa confirmar a fonte da sua informação, não pode escrever se não tem provas, não é porque alguém falou que tal coisa é verdade ela é verdadeira. É preciso checar.
Claro...
E a internet é uma terra de ninguém. Todo mundo acha que é jornalista e escreve qualquer coisa. É como a coisa da pichação. Quem picha é artista? Ou o grafite é que é arte? Grafite é a arte da rua, mas nem por isso todo mundo tem o direito de fazer grafite, tem que ter algum talento, tem que ser artista...o que você acha?
Eu acho que grafite é arte, claro. Desde que eu fui convidado, eu já tinha falado com o prefeito sobre um programa de arte urbana na cidade, apoiar o grafite, São Paulo já é uma referência internacional em relação ao grafite e eu acho que uma das vocações de São Paulo é o turismo cultural, ninguém vem a São Paulo por causa de praia, o Rio de Janeiro é imbatível nisso. Agora, São Paulo é uma cidade que tem um dinamismo cultural enorme. Então, a gente já tinha esse projeto. Pichação é vandalismo. É outra história. Agora, não cabe à Secretaria da Cultura combater nada. A Secretaria da Cultura promove. Vai promover, vai estimular o grafite. Somos super a favor do grafite e não é na oratória. A gente vai lançar um programa de arte urbana que a gente pretende chamar de Museu da Arte Urbana, tem que ter um nome, é claro, e no máximo na semana que vem a gente deve lançar esse programa até para as pessoas pararem com essa história de que o prefeito é contra o grafite. O prefeito não é contra o grafite, claro que não é. Hoje está correndo na internet que o prefeito vai mandar apagar o Beco do Batman. Imagina, gente! Isso nunca esteve em pauta!
O cara que pinta tem que ser pintor, o Beco do Batman tem grafites de alto nível artístico. Esse projeto da prefeitura tem que ter concurso, tem que escolher os melhores...
Claro...
É assim que funciona na arte... os melhores se destacam, os outros têm que fazer outras coisas... “ah, mas o Zé não sei das quantas também pinta”. Tudo bem, quando ele for um bom pintar poderá pintar na rua, e não antes.
A gente tem que ter espaço para todo mundo, mas com o mínimo de qualificação para fazer aquilo. Qualquer tipo de projeto que a gente vá fazer aqui de grafite vai ter uma comissão, pessoas que entendem do assunto, não vou ser eu que vou escolher, será uma comissão, as pessoas vão fazer seus projetos e os que forem mais interessantes a gente vai escolher.
Para construir Brasília foi escolhido o melhor projeto, não o projeto do Zé da Silva... há uma confusão ideológica muito grande... o povo no poder... todo mundo tem o direito de fazer tudo, mesmo que não tenha talento...
Isso tem a ver com o conceito de liberdade...que é o seguinte: a liberdade, antes de tudo, é o direito do outro pensar diferente, não é liberdade para você fazer o que quiser...eu acho que liberdade é isso, é garantir que todo mundo tenha o seu espaço, não só o seu espaço, o do outro é fundamental.
Se o cara picha uma parede minha, ele não perguntou pra mim se eu queria que ele pintasse...
Exatamente. O direito de pichar não se sobrepõe ao seu direito de fazer o que quiser na sua parede.
Uma coisa que falta em São Paulo sabe o que é? Museu da Caricatura. Um artista, o Jal, está tentando há anos fazer um, ele tem guardados uns 5 mil originais e não tem onde expor. Não é só São Paulo, o Brasil não tem um Museu da Caricatura. Uruguai, daquele tamaninho, tem dois. A Argentina tem cinco, ele me disse.
É verdade. Se você pensar, sem sair do que você está falando, é uma ampliação, não tem um Museu do Humor em São Paulo.
Pode juntar as duas coisas, é claro.
Se você andar para trás um tempo, na imprensa brasileira anos 10, 20 a caricatura era de uma riqueza incrível. Quando eu fiz o “Sonhos Tropicais” pesquisei muito Oswaldo Cruz. Ele foi o brasileiro mais caricaturizado da história do Brasil! Com aquela história de combater mosquito, depois combater a varíola... e é verdade, eu tinha recortes e mais recortes de caricaturas dele...
E o Jal me disse que atualmente o campeão das caricaturas é o Delfim Neto...
Olha só...
O Delfim tinha a seguinte estratégia: ele mandava comprar o original do artista sempre que saía uma caricatura dele.
Ah...
Então, se um caricaturista estava duro desenhava o Delfim porque sabia que ele compraria... (Risos)
(Risos) Ele gerou um mercado de caricaturas...
E ele criou um grande acervo... tem mais de 300 originais...
Que legal... bacana isso...mas olha, essa é uma ideia boa. Não sei se construir um museu, mas a gente tentar adaptar algum espaço que seja nosso, que de repente está com uma personalidade indefinida...tem espaço vazio ou subutilizado...é uma ótima ideia... seria uma coisa que com certeza teria muito público, interesse, custo baixo de manutenção, porque não são obras que precisam de uma preservação sofisticada...
E as obras já estão com o Jal... conhece o Jal?
Conheço de nome...
Não é só que o Brasil não tem um Museu da Caricatura... você já reparou que não tem um jornal ou uma revista de humor nas bancas? Na ditadura Vargas teve, na ditadura militar teve, mas agora não tem.
É verdade.
Por que será?
Bom, também ficou difícil fazer piada.
Por que? As piadas estão prontas?
Não, ao contrário, você não pode falar nada que você é reprimido. O politicamente correto virou o fim da liberdade. O politicamente correto é igual a igreja da Idade Média, não é? A blasfêmia... a fogueira... não é? Eu tomo um cuidado pra falar com quem eu não conheço bem. Porque você não pode falar um monte de palavras mais. Porque você vira um herege.
Vai pra Lava Jato! Porque a Lava Jato é a Inquisição.
Exatamente. Inquisição. É isso. Culpado por suspeita. É muito grave.
O Paulo Caruso, esse grande caricaturista, não tem onde desenhar fora o “Roda Viva”.
É incrível...
Então a culpa é do politicamente correto?
É. Porque as pessoas ficam... como é que você vai fazer uma revista de humor se você não pode fazer piada sobre nada mais?
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