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A maioria dos brasileiros precisa virar povo, mesmo que não saiba


Por Roberto Bitencourt da Silva, no jornal GGN

Amesquinhamento absoluto do ensino médio, decidido às portas fechadas entre oligarquias políticas, sem consulta e debate com a sociedade. Eliminação de históricos direitos trabalhistas e previdenciários. Alienação dos valiosos patrimônios das nossas Petrobras e Eletrobras. Violação de garantias constitucionais elementares para a saúde e a educação.

Desinvestimentos na produção do conhecimento, em ciência e tecnologia. Incremento da desnacionalização do setor produtivo. Defesa de chacinas e outras intervenções ou ações, incompatíveis com qualquer noção minimamente relacionada a uma sociedade que se possa atribuir atenção com padrões de civilidade, justiça social, democracia e interesse nacional.

O golpismo, o entreguismo e o reacionarismo encarnados na abjeta figura do presidente Michel Temer (PMDB) impõem flagrantes e imensuráveis retrocessos culturais, políticos e econômicos ao Brasil.

Os personagens espúrios que formam o ilegítimo governo Temer demonstram, aberta e despudoradamente, o que são e o que pensam as classes dominantes no Brasil: fazendeirões, multinacionais, especuladores financeiros e imobiliários, bancos.

Essa estrutura de poder, de fato, revela nenhum compromisso com o País. Absoluto desprezo com a sorte do Povo Brasileiro.

Contudo, micros, pequenos e médios empresários que apoiam esse estado de coisas terão que superar os seus preconceitos antissindicais, antiesquerdas, antipovo. Escantearem suas visões americanófilas, incompatíveis com as vicissitudes e os interesses brasileiros.

Isso se não quiserem se suicidar de vez, enquanto setores de classe. Terão que observar que a única saída que possuem é defender os direitos sociais e trabalhistas, o poder de consumo e o emprego dos trabalhadores. Defender o País. Senão, podem fechar as suas portas. Precisam virar Povo.

O mesmo vale para algumas frações dos estratos altos e médios dos assalariados. Se ficarem mergulhados na baboseira reacionária e entreguista, como encontram-se, teleguiados pela cantilena vende pátria da Globo e de outras megacorporações de mídia, amanhã não terão sequer o que comer. Precisam virar Povo e perceberem que sua sorte existencial guarda estreita relação com os destinos da Nação.

Quanto ao “povão” mais humilde, na formulação delineada pelo grande Darcy Ribeiro – "povão" subempregado, desempregado, altamente marginalizado, arrochado na superexploração do trabalho –, que conforma a maioria dos trabalhadores assalariados, por enquanto, encontra-se na mera e triste condição de plebe.

Isto é, integrado por amplas faixas da população vivendo como párias em nosso solo pátrio: amorfos, sem identidade política, totalmente abandonados e atomizados. Um objeto, sem projeção de futuro, sem capacidade de ação.

Mas, isso não é fenômeno dado pela natureza. Essa multidão heterogênea e politicamente apassivada pode perfeitamente constituir-se e cerrar fileiras nas lutas do Povo Brasileiro, em defesa dos mais altos interesses populares e nacionais. Exemplos brasileiros e de outras paragens, hoje e ontem, aqui e alhures, não faltam.

Povo é uma construção política, como bem interpreta o cientista político argentino Ernesto Laclau. Uma plataforma de sujeitos e de segmentos sociais e classes com potencial antissistêmico. Uma miríade de setores sociais com demandas e necessidades desconsideradas pelas instituições hodiernas e pelo bloco de poder.

O Povo, para ser formado, precisa ser interpelado politicamente, ser estimulado a converter-se em sujeito que conte e aja. Precisa ter identidade e ser incentivado. Compreender que tem capacidade de ação e que conta nas decisões relativas aos rumos da sociedade e do Estado.

Mas, para o "povão" - hoje sob a condição de plebe -, assim como para demais setores sociais em destaque, virarem Povo, com identidade e ação dotada de sentido, fazem muita falta entidades coletivas capazes e consequentes – partidos, movimentos sociais, sindicais etc.

Faltam também grandes líderes. Todos artigos escassos no obscuro momento brasileiro e que precisam crescer e aparecer. O antipovo, a antinação está bastante atuante e desavergonhada, acabando de vez com o Brasil. O seu contraponto precisa emergir. O quanto antes.

Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.

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