James Walker, em seu Facebook.
Eu estou o dia inteiro tentando entender a relação que algumas pessoas estão construindo, entre defensores dos direitos humanos e os 4 Policiais Militares vitimados na queda do helicóptero.
Sem pertencer a qualquer grupo de Direitos Humanos, ainda assim, declaro-me um defensor de seres humanos, de forma incondicional.
Solidarizo-me, evidentemente, com a família daqueles policias, vítimas de uma guerra que atende aos interesses de determinados grupos, ceifando vidas do "lado bom" e do "lado mau", deixando a cada intérprete, o direito de eleger a bondade ou maldade de acordo com seu próprio referencial.
Apenas tenho como certo, que tudo isso poderia ser evitado, ou drasticamente reduzido, se a "guerra às drogas" fosse repensada e encarada sob uma perspectiva menos militar.
Sinto-me absolutamente tocado e sensibilizado pela perda de jovens chefes de família, policiais em serviço, ou " à serviço" de uma guerra burra, que não era a guerra deles.
No dia seguinte, outros sete jovens são mortos, mas esses, segundo acabo de ouvir no programa que estou assistindo enquanto escrevo, esses são "supostamente traficantes".
Essa simples "suposição", tem o poder de anestesiar corações e mentes, fica tudo autorizado, afinal, "suposto traficante" não é gente, suposto traficante pode morrer, mesmo que seja para vingar "o lado bom", em que pese ninguém ter certeza se aqueles jovens pertenciam ao "lado mal".
Um alívio, sete mortos, fomos lá e demos "o troco" !!
Matem quatro dos nossos, "o lado bom" e, imediatamente, vamos lá e revidamos, matamos sete do "lado ruim".
Se eram do lado ruim?
Isso pouco importa, são "farinha do mesmo saco", a mesma clientela de sempre, cambada negra, pobre e favelada, se não fossem bandidos, o que estariam fazendo lá, na favela??
A resposta?
Estavam pagando o preço das nossas vidas burguesas, numa sociedade absolutamente injusta, egoísta e desumana.
Quer que o cidadão que nasceu e sempre viveu na favela esteja aonde, em Beverly Hills.
Favelado está sempre na favela, ou melhor, sempre não, eles também estão cuidando dos seus filhos como babás, lavando seu carro, aparando sua grama, na portaria do seu prédio, enchendo o tanque do seu carro no posto de gasolina, faxinando seu apartamento, passando suas roupas e, claro, morrendo como bichos, para satisfazer sua sede de vingança, que só alimenta mais ódio e fomenta, cada vez mais, a guerra de classes.
Não "passo a mão" na cabeça de criminosos, jamais faria isso.
Mas também não me torno um deles, a morte alheia jamais será motivo de alegria ou satisfação para mim.
Prezo pela vida humana, seja a do policial, a do favelado, a do burguês, a do intelectual, a do político preso, a da sua filha inocente, prezo por vidas, para além dos adjetivos.
Sentado em um confortável sofá na Barra da Tijuca, tomando um vinho e assistindo à televisão de 60 polegadas, nunca foi tão fácil e confortável odiar, sobretudo aqueles miseráveis, que parecem mesmo insistir em morar em guetos, zonas de exclusão do estado, do direito, da justiça, de luz, de água, de educação, de oportunidades e até de esperança.
Evidente que estão lá porque querem, afinal, por que não estão aqui comigo, no condomínio de luxo?
Gente diferente, nojenta, alimentam meu ódio, devem mesmo morrer, temos horror ao diferente.
Matam os que conservam a nossa paz, merecem morrer.
Não existem "supostos traficantes", se lá estão, na favela, naquela pobreza nojenta, "porque querem", então são todos bandidos, e quem defende esses bandidos, também é bandido, pois humanos somos nós, que temos crédito - de cartões - que não somos criminosos, nem supostamente.
Recuso-me a fazer parte disso, desse pensamento cruel, fascista, preconceituoso e elitista.
Não contem com meu ódio, não se iludam, não fomento vingança.
Defenderei sempre seres humanos e vidas, a minha, a sua e a nossa.
Não se alcança a paz pelo ódio!
"As vezes eu falo com a vida
As vezes é ela quem diz
Qual a paz que eu não quero conservar
Pra tentar ser feliz". ( O RAPPA).
Notas sobre o autor:
James Walker
Advogado e professor, formado em direito em 1991, professor universitário no Rio de Janeiro, Pós-graduado e especialista em direito penal e processual penal, com especialização em Direito Penal pela Pontifícia Universidade Católica Argentina – UCA, especialista em Corporate Compliance pela Fordham University School of Law – N.Y, Especialista em Compliance e Direito Penal pela Universidade de Coimbra – Portugal, Doutorando em Ciências Jurídicas pela UAL – Universidade Autônoma de Lisboa, Presidente da ABRACRIM-RJ Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas, Presidente do IBC - Instituto Brasileiro de Compliance, Catedrático da Academia Brasileira de Ciências Econômicas, Políticas e Socias – ANE, ocupando a titularidade da cátedra nº 155, associado ao Instituto Brasileiro de Ciências Criminais – IBCCrim, sócio do escritório Walker Advogados Associados.
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