Se favorável à terceirização irrestrita, o STF estará generalizando a injustiça social e ignorando a valorização social do trabalho e da dignidade humana.
Após
várias decisões do STF prejudiciais à classe trabalhadora, a mais alta corte
marcou para o próximo dia 09/11 o julgamento de Recurso Extraordinário 958.252
que questiona a limitação da terceirização nas chamadas atividades-meio. A
decisão do Supremo terá repercussão geral, ou seja, pode liberar a
terceirização para todas as atividades e provocar enorme impulso da contratação
precarizada. A terceirização é fundamental para baratear custos e aumentar
lucros através da redução dos salários e direitos trabalhistas e sociais,
permitindo ao capitalista se apropriar de uma parcela maior da renda do
trabalho.
A
terceirização e outras formas precárias de contratar força de trabalho
constituem-se mecanismos decisivos para a concentração de riqueza e
transferência da renda do trabalho para o capital, além de fragmentar a
organização e a resistência, dificultando, inclusive, o sentimento de
pertencimento e a noção de classe trabalhadora.
Esse
tipo de contratação de mão-de-obra se acelerou fortemente nas últimas décadas,
produzindo efeitos perversos àqueles que vivem da venda da sua força de
trabalho. Jovens, mulheres, negros, indígenas, LGBTs, imigrantes são, em geral,
os setores mais atingidos pela contratação precária de trabalho.
PRESSÃO
EMPRESARIAL
A
despeito disso, as entidades empresariais pressionam pela liberalização total
da terceirização, buscando aniquilar qualquer restrição à prática que, em
realidade, permite que uma empresa (terceira) se estabeleça para intermediar
trabalho para outra empresa (a tomadora de serviços), obtendo lucros com a
venda ou aluguel de pessoas.
Em
2015, o famigerado deputado Eduardo Cunha e a bancada financiada pelos grandes
empresários aprovaram na Câmara dos Deputados o PL 4330. A votação provocou
forte rejeição popular, pois parcela da opinião pública – inclusive dos setores
médios - percebeu a gravidade da medida para a qualidade dos empregos, dos
salários, dos direitos e das condições de trabalho. O projeto foi encaminhado
ao Senado, onde tramita apesar da pressão contrária da classe trabalhadora.
Por
outro lado, o STF e a presidência do TST assumem uma postura completamente
servil ao grande capital e se colocam à disposição para implantar a agenda
regressiva de direitos, livrando Temer e o congresso do desgaste popular. Para
contornar a pressão social sobre o governo golpista, o STF se dispõe a fazer a
reforma trabalhista para dizimar direitos estabelecidos na Constituição.
CONTRATAÇÃO
FRAUDULENTA
A
rigor, apesar de a Súmula 331 do TST restringir a terceirização total, muitos
trabalhadores que atuam em atividades-fim já se encontram submetidos a
contratos terceirizados ou pejotizados, o que se constitui como contratação
fraudulenta. Diante dessas práticas empresariais, cada vez mais trabalhadores
procuram o sindicato ou o Ministério Público do Trabalho, que ingressam com
ações na Justiça do Trabalho e, muitas vezes, têm seus direitos reconhecidos.
Ou seja, a terceirização e a precarização só não é geral porque a prática
produz um passivo trabalhista e o empresariado não tem segurança jurídica para
seguir fraudando o contrato de trabalho dos demais trabalhadores e
trabalhadoras.
Se
o STF acatar o Recurso Extraordinário 958.252, a terceirização fraudulenta
estará praticamente liberada. Assim, milhões de trabalhadores e trabalhadoras
perderão seus empregos diretos e terão de se contentar com empregos
terceirizados, precarizados, pejotizados, sem os direitos e conquistas dos
Acordos e Convenções Coletivas, com salários e direitos sociais muitos menores,
submetidos às jornadas de trabalho mais extensas e ainda mais expostos à
rotatividade e acidentes de trabalho.
Ou
seja, se a decisão do STF for favorável à terceirização irrestrita, o
judiciário estará legalizando a fraude, generalizando a injustiça social e ignorando
os princípios constitucionais da valorização social do trabalho e da dignidade
da pessoa humana, rasgando a própria Constituição Federal e dando passos largos
à barbarização das relações de trabalho no Brasil.
LUTA
POR GARANTIAS
A
sociedade brasileira não pode permitir a ampliação do trabalho precário. Ao
contrário, o que deveria estar em debate é como garantir aos milhões de
trabalhadores já terceirizados os mesmos salários e direitos daqueles
diretamente contratados pelas empresas.
Por
isso, os próximos dias têm de ser de pressão total também sobre o judiciário. A
juventude que corretamente ocupa escolas e universidades contra a PEC 241,
dando grande exemplo de luta ao povo brasileiro, precisa se atentar para esse
julgamento do STF, pois o judiciário estará determinando o presente e o futuro
da enorme maioria do povo brasileiro, principalmente dos jovens.
Os
movimentos sociais, em particular as centrais, que preparam para o próximo
11/11 um Dia Nacional de Paralisações têm, ainda mais razões, para cruzar os
braços e impedir o desmonte dos direitos sociais. É preciso construir a greve
geral por nenhum direito a menos, contra a terceirização, a reforma trabalhista
e previdenciária e a entrega do pré-sal!
E
até o dia 09 é fundamental que todos se posicionem e se somem à pressão em
defesa do trabalho. Vale, inclusive, mandar mensagens aos ministros da corte:
www.stf.jus.br/portal/centraldocidadao
STF,
não legalize a fraude! Diga não à terceirização irrestrita! Chega de
precarização.
*Edson
Carneiro Índio, Secretário Geral da Intersindical, membro da Frente Povo Sem
Medo e do Fórum em Defesa dos Trabalhadores Atingidos pela Terceirização.
Créditos
da foto: Lula Marques/ AGPT
Fonte:
cartamaior
2 Comentários
Todos os juízes, advogados e procuradores deveriam usar preto, pois o STF poderá matar os direitos dos trabalhadores. Se isso ocorrer, a Justiça do Trabalho ficará de luto! Se o STF julgar contra o trabalhador, o dia 09/11/2016 será o marco inicial para saber quem irá sair da classe média, pois muitos trabalhadores serão trocados como mercadorias baratas por terceirizados! O trabalho será precário e iremos retroceder!
ResponderExcluirTodos os juízes, advogados e procuradores deveriam usar preto, pois o STF poderá matar os direitos dos trabalhadores. Se isso ocorrer, a Justiça do Trabalho ficará de luto! Se o STF julgar contra o trabalhador, o dia 09/11/2016 será o marco inicial para saber quem irá sair da classe média, pois muitos trabalhadores serão trocados como mercadorias baratas por terceirizados! O trabalho será precário e iremos retroceder!
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