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O BRASIL DEU CALOTE NO COMPROMISSO - James Walker





O combate à corrupção é o eufemismo máximo do sistema de justiça criminal do país, a legitimar todo tipo de atitude antidemocrática.

A república está ferida em sua gênese - a constituição - que sofre ataques reiterados, sempre em nome do combate à corrupção.

Mas quem é a favor da corrupção?

Ao menos no meu seio social, desconheço quem o seja.

Então alguns, apropriando-se dessa bandeira de combate ao flagelo social contemporâneo, justificam o injustificável, messianicamente.

Evidente que a população enxerga, na corrupção, a genealogia de todos os seus sofrimentos.

Não duvido que os problemas da saúde, educação, segurança, habitação e tantos outros, perpassam por atos anteriores de corrupção, que determinam a prestação pífia estatal desses serviços.

Isso não está em questão, não é o cerne da nossa reflexão, ao menos neste momento.

Refiro-me à apropriação do discurso, ou da justificativa deste, absolutamente subvertido pela lógica punitivista, que pretende (in)utilizar os instrumentos de garantia do Direito Penal, contra o cidadão.

O direito e o processo penal existem como garantias ao exercício ilimitado e autoritário do jus puniendi estatal, e isso desde a transição do estado absolutista monárquico para as repúblicas democráticas.

Aquela centralidade humana na ordem jurídica, o ser humano como "centro da meta jurídica" no estado democrático, parece que, ao menos no Brasil, vai dando lugar ao primado do estado para o estado e pelo estado.

O Brasil não consegue mais esconder uma posição (ainda que momentânea), de retrocesso democrático institucionalizado.

O judiciário chancela todo tipo de ofensas  aos direitos e garantias fundamentais, que por estes tempos, estão sob ataque.

Nem mesmo os compromissos internacionais de defesa da dignidade humana são honrados, a exemplo, o Pacto de São José da Costa Rica virou uma espécie de "Rainha Decorativa" do ordenamento jurídico pátrio, mesmo que internalizado por decreto.

Parece que o Brasil está afogado em sua arrogância punitivista e não enxerga os efeitos internacionais do seu "calote convencional ".

Os que se prevalecem do exercício do poder estatal se regozijam, celebram a infantilidade pueril de serem os xerifes da vez.

Mas o tempo passa, e com ele arrasta o poder, altera políticas e políticos, alterna posições, mas o desserviço ao direito e à democracia, estes são deletérios, demandarão gerações para serem reparados.

Assisto atônito à inércia da Suprema Corte em conter os abusos que vêm de baixo.


A história cobrará o preço dessa conta antidemocrática e antirrepublicana, não somente aos que "matam a borboleta azul" (em Lenio Streck), mas igualmente, aos que professam o silêncio coautor.

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