Em 2006, um delegado da Polícia Federal vazou fotos do dinheiro
que seria usado por petistas para comprar um dossiê contra o então
candidato tucano a governador de São Paulo, José Serra. Geraldo Alckmin
disputava o Planalto. Ele, o delegado, ao vazar as imagens na véspera do
primeiro turno da eleição presidencial se referiu a uma certa “foto da
Globo”. Seria aquela que saiu na capa de todos os jornais, um muro
cenográfico de notas para tirar votos de Lula, então candidato à
reeleição? A foto teria sido preparada pelos peritos como forma de fazer
propaganda eleitoral? Foi isso mesmo? A PPP do delegado com a Globo foi
denunciada pela blogosfera, mas o PT, depois da reeleição de Lula,
esqueceu do assunto e ficou tudo por isso mesmo. Na prática o delegado
nunca foi punido pelo vazamento que, de acordo com gravação da conversa
dele com repórteres, a autoridade policial pretendia atribuir a uma
faxineira.
Entenda como a Globo e autoridades atuam em “parceria público-privada” para perseguir Lula
Este texto é um registro, baseado em provas e fatos, não convicções,
de como funciona a dinâmica da parceria público-privada entre o maior
grupo de comunicação do país, de propriedade da família mais rica do
Brasil, e funcionários públicos que deviam servir a toda sociedade
brasileira, na perseguição de uma liderança política, reconhecida como o
melhor presidente da história do Brasil.
Como as acusações e processos contra Luiz Inácio Lula da Silva
costumam a nascer de matérias com graves incorreções e mentiras de
veículos das Organizações Globo. E como essas matérias dão origem a
custosas investigações por agentes públicos, que por sua vez são vazadas
prioritariamente também para a Globo, em um mecanismo que se
retroalimenta.
Assim será possível entender por que Lula diz que autoridades não
podem ser “reféns da imprensa” e por que os advogados de Lula dizem que
ele sofre um processo de “lawfare”, de uso de instrumentos jurídicos
para a destruição da imagem e inabilitação de um adversário político.
O jornal O Globo publicou, no dia 26 de outubro deste ano, a
reportagem: “Lava-Jato investiga outra cobertura usada por Lula”
(http://oglobo.globo.com/brasil/lava-jato-investiga-outra-cobertura-usada-por-lula-20357937),
assinada pelos repórteres Cleide Carvalho e Thiago Herdy. Ela versa
sobre uma nova frente da Lava Jato, aquela investigação que era sobre
milhões desviados da Petrobrás, mas que a cada dia vira mais uma
investigação de qualquer bobagem relacionada a Lula.
A matéria informa que os investigadores questionam o que seria “uma
operação de aluguel”. Com isso, querem dizer um aluguel de um imóvel
efetivamente contratado e pago por Lula, segundo o que já comprovaram os
próprios investigadores da Lava Jato.
Segundo a reportagem, “a operação” seria uma “simulação para dar
caráter formal ao uso do apartamento por Lula ”. Chegou-se ao ponto em
que se investiga como simulação de aluguel a própria definição de
aluguel: pagar para usar temporariamente a propriedade de outra pessoa.
A matéria recupera uma outra reportagem do mesmo Thiago Herdy, de 12
de abril de 2015: “Diretor da Odebrecht pagou ‘voo sigiloso’ de Lula
para Cuba em 2013”.
(http://oglobo.globo.com/brasil/diretor-da-odebrecht-pagou-voo-sigiloso-de-lula-para-cuba-em-2013-15850030)
Está escrito na reportagem: “A DAG foi usada pela Odebrecht para
bancar despesas de avião usado por Lula em 2013, numa viagem a Estados
Unidos, Cuba e República Dominicana. O voo custou R$ 435 mil e foi
classificado pela Líder Táxi Aéreo, responsável pela viagem, como
‘sigiloso’.
Essa viagem de Lula não tinha ligação oficial com os negócios da
empreiteira. No trecho dos Estados Unidos, o ex-presidente tinha
agendado um congresso de trabalhadores.”
O que Herdy escreve como recapitulação da matéria é pura e
simplesmente uma mentira republicada. É mentira que a viagem não tinha
relação com a Odebrecht. Lula deu uma palestra para a construtora na
República Dominicana, por isso ela pagou o voo. Palestra registrada em
vídeo, na imprensa local e com a devida nota fiscal. A classificação de
“sigiloso” no voo só existe em um documento da Líder com o qual Lula não
tem nenhuma relação. A viagem não era sigilosa. Foi divulgada por
release da assessoria do ex-presidente e contou com uma série de atos
públicos nos três países, devidamente registrados e divulgados. No
compromisso que Lula atendeu nos EUA, Alexandrino de Alencar não estava
presente.
Tudo isso é de conhecimento do Ministério Público e está provado em
documentos que já foram vazados para a imprensa. Mas o texto do repórter
induz o leitor a entender outra coisa. Que a viagem seria clandestina,
que teria sido paga pela Odebrecht de modo dissimulado e sem motivo, e
que Alexandrino teria acompanhado Lula aos Estados Unidos.
Mas por que essa insistência na informação errada 18 meses depois da
primeira matéria, já equivocada? Por conta das consequências da primeira
mentira. Tomando por base a matéria de O Globo que fala de uma viagem
sigilosa que não era sigilosa e outras notícias de jornais e da
internet, o procurador Anselmo Lopes, da Procuradoria da República no
Distrito Federal (PRDF), deu início a um procedimento investigatório,
chamado “Notícia de Fato”, oito dias após a publicação de abril de 2015
(saiba mais:
http://www.institutolula.org/nota-a-imprensa-sobre-abertura-de-inquerito).
Em seu texto inaugural, de apenas 50 linhas, sem apresentar qualquer
prova ou indício, o procurador Anselmo Lopes levantou a hipótese de que o
ex-presidente Lula “poderia”, “em tese”, ser suspeito de tráfico de
influência internacional, “caso se comprovasse” que teria recebido
favores da empresa Odebrecht para “supostamente” influir sobre
autoridades de países estrangeiros para que contratassem obras da
empresa. Criou-se uma notícia de fato sem fato, porque não apontou algo
concreto a ser investigado, e sim gerou uma tese sem elementos
concretos, tão somente baseada em uma notícia falsa de jornal.
Assim, a reportagem das Organizações Globo forneceu o elemento
necessário para se abrir uma investigação sobre uma pessoa, tentando lhe
atribuir um crime.
O procurador Anselmo Lopes disse que fez a notícia de fato após
receber uma manifestação que estimulou a redação do tal documento, mas
se recusou a dizer ao Conselho Nacional do Ministério Público quem ou
por que vias foi provocado a fazer essa notícia de fato. Disse apenas
que foi por via “informal”.
Nove dias depois, no dia 29 de abril, antes de qualquer parte ser
citada ou ter conhecimento do incipiente procedimento investigatório, o
repórter Thiago Bronzatto, então na revista Época, também pertencente às
Organizações Globo já estava sabendo da existência da notícia de fato, e
obteve formalmente o documento, como prova protocolo no Ministério
Público do Distrito Federal.
Já no dia seguinte, Época foi às bancas levando uma capa
espalhafatosa, onde mentiu ao dizer que se tratava de uma investigação
coletiva do MPF-DF o que era nada mais do que uma simples notícia de
fato, feita por um único procurador, a partir da própria imprensa. A
matéria, que contém vários erros jamais corrigidos pela revista,
(http://www.institutolula.org/as-sete-mentiras-da-capa-de-epoca-sobre-lula)
ampliou e muito a tese sem fatos do procurador e estimulou o avanço do
procedimento inicial a partir de uma reportagem mentirosa.
O inquérito, que segundo Época teria sido aberto em abril, foi
efetivamente aberto apenas em julho, por um procurador substituto, antes
do prazo dado pela procuradora titular do caso para receber os
documentos que ela mesmo tinha solicitado ao ex-presidente para análise (
http://www.institutolula.org/nota-a-imprensa-sobre-abertura-de-inquerito)
e 40 dias antes do término do prazo de procedimento inicial estipulado
pela própria procuradora.
A notícia da abertura do inquérito, então, foi vazada para a
Globonews, das mesmas Organizações Globo, no dia 16 de julho de 2015.
A partir dali, investigação do Ministério Público se estendeu por 14
meses, a consumir recursos públicos. No processo, vazaram para a
imprensa telegramas diplomáticos secretos do Estado brasileiro sem
nenhuma relação com o tema investigado, com consequências para a imagem
do Brasil no exterior, para a diplomacia brasileira. Levantaram todas as
viagens de Lula para o exterior após a presidência – qual era o avião,
companheiros de viagem, dia e local de saída e chegada. A revista Época
foi a principal beneficiada dos vazamentos, com ao menos duas capas
(sobre Cuba e África) com muitas insinuações, danos às relações
internacionais, mas sem nenhum crime encontrado.
Época, “patrona” da ação na imprensa, também teve acesso a documentos
do processo antes dos advogados de defesa, violando o sigilo da Justiça
em que corria a investigação. Um desses acessos, ilegal, foi dado pelo
procurador Douglas Kirchner, que depois foi demitido do Ministério
Público não por isso, mas pela acusação de agredir e torturar sua
ex-mulher
(http://www.conjur.com.br/2016-abr-06/cnmp-demite-procurador-republica-batia-mulher).
O Conselho Nacional do Ministério Público não puniu o vazamento de
informações protegidas por segredo de justiça. Os 14 meses de
investigação jamais confirmaram a tese inicial de “tráfico de influência
internacional” que estava na notícia de fato. Mas os procuradores já
estavam presos à primeira mentira e reféns da imprensa.
Em dezembro de 2015, derivaram a investigação em um inquérito da
Polícia Federal para investigar o filho do irmão da primeira esposa de
Lula, Taiguara dos Santos, apresentado como milionário em matéria da
revista Veja, por contratos da empresa Exergia com a Odebrecht para
obras em Angola.
Embora não tenha detectado nenhum centavo da Exergia nas contas de
Lula, nem tenha sido capaz de apontar qualquer ato ou conduta ilegal
concreta do ex-presidente, durante a presidência ou depois dela, o
Ministério Público Federal, após toda essa investigação, denunciou Lula
por corrupção, tráfico de influência no Brasil e lavagem de dinheiro por
conta dos contratos da empresa Exergia com a Odebrecht em Angola (a
ampla maioria deles, contratos entre duas empresas privadas, sem nenhum
recurso brasileiro direto ou indireto).
A tese criativa era de que Lula teria armado um esquema ao longo de
sete anos, envolvendo três países diferentes (Brasil, Angola e Portugal)
e mais de 7 bilhões de reais de liberação em créditos para ter, em
troca, o pagamento de alguns meses do plano de saúde do seu irmão por
Taiguara. Não faz o menor sentido, mas é essa a acusação na denúncia.
O Ministério Público, também após 14 meses de investigação, afirmou
que as palestras de Lula em Angola em 2011 e 2014 seriam “supostas”, não
teriam comprovação de terem sido feitos, apesar de terem informações
sobre data, local e foto das palestras, e de existirem vídeos
registrando os eventos.
Não é difícil adivinhar qual veículo de imprensa foi agraciado com a
informação em primeira mão de que Lula seria denunciado para explicar
eventuais irregularidades na liberação dos créditos. Claro que foi a
revista Época.
Se a investigação durou longos 14 meses sem chegar em lugar nenhum, a
denúncia foi aceita pelo juiz em apenas três dias, sendo que um deles
era feriado. A defesa do ex-presidente prepara a resposta à acusação,
onde irá evidenciar os devaneios da peça acusatória do Ministério
Público, produzida dentro da lógica do chamado lawfare (Guerra Jurídica)
para atender às demanda da imprensa, não do devido processo legal.
Esse procedimento se repete em outros casos. Foi o jornal O Globo que
publicou, em dezembro de 2014, que Lula seria dono de um apartamento
“tríplex” no Guarujá. Apesar das Organizações Globo martelarem que o
apartamento 164-A do Condomínio Solaris seria de Lula, a Justiça de São
Paulo e o próprio condomínio Solaris, em ação na Justiça de São Paulo,
que cobra condomínios atrasados e podem levar a propriedade a leilão, já
reconheceram que o apartamento é da OAS.
Mas como a Globo agora vai admitir que errou? Vai dar igual direito
de resposta a quem ofendeu de maneira tão feroz e sistemática? Como vai
escapar dessa situação? A Globo ainda não pediu desculpas nem pela
edição do debate de 1989…
A busca por holofotes ao acusar Lula é tão grande que apenas a
história desse apartamento envolve uma disputa entre dois Ministérios
Públicos – o Federal do Paraná, com Deltan Dallagnol, e o Estadual de
São Paulo, com Cássio Conserino – que fazem acusações diferentes,
contraditórias uma com a outra, e ambas sem provas em relação ao
apartamento
(http://lula.com.br/um-apartamento-duas-denuncias-nenhuma-prova) .
O
Jornal Nacional deu nove minutos para a acusação de Conserino, outros
dez para a acusação de Dallagnol. Nenhum registro sobre a Justiça de São
Paulo reconhecer a OAS como dona do apartamento. Ou para as
contradições entre as duas acusações que tiveram tanta publicidade no
principal telejornal do país.
É este é o ambiente de massacre midiático, guerra jurídica e pressa
desmedida para obter uma condenação de Lula em segunda instância antes
das eleições de 2018. Uma parceria público-privada contra a democracia e
o Estado de Direito.
Fonte: viomundo
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