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A VOZ DO DONO E O DONO DA VOZ

Imagem: Fátima Miranda


De Danilo Otoni


Quatro dias após as eleições presidenciais de 2014, a oposição já contestava o resultado das urnas. Não sei se pela dor de cotovelo ou pelo simples fato de não saber aceitar a derrota. Só sei que deste dia em diante, a ex-presidenta Dilma não teve um momento sequer de paz, nem pra governar, nem para viver.

E quando ficamos acuados, agimos com pressa e sem precisão. Levantamos o moral do inimigo que começa a nos ver de cabeça baixa, desguarnecidamente. Logo, tudo de ruim que acontece no mundo virou responsabilidade do governo. Dilma se tornou inabilitada de uma madrugada pra outra. Qualquer suspeição virou sinônimo de condenação, disseminação do ódio, viralização da culpa, exposição ao opróbrio. E isto aumentou de tal maneira que virou verdade absoluta na cabeça da população imediatista que povoa o Brasil.

Vamos pra rua protestar contra a corrupção! Mas o nome da Dilma não apareceu em nenhuma delação, e a do candidato derrotado foi citado em oito. Então vamos pra rua acabar com o PT, o partido mais corrupto do país! Mas na lista de quadros presos por corrupção o PT aparece em nono lugar, atrás do DEM, PMDB, PSDB, PP. Ah, mas vamos pra rua a favor do Sérgio Moro! Mas o governo nunca interferiu nas investigações, pelo contrário, foi sempre a favor das apurações doam a quem doer. Uai, então vamos pra rua pra, sei lá, passear com o cachorro.

E a multidão foi na onda. O que me fez lembrar do poeta italiano Carlos Alberto Salustri, mais conhecido como Trilussa, que viveu no auge do fascismo. Humanista, satírico e sagaz, incomodava Mussolini que, obviamente, mandou lhe prender. O que rendeu uma interessante poesia:

- Valho pouco, é verdade.
Disse o um ao zero.
Mas você, o que vale?
- Nada, mesmo nada!
Seja na ação ou no pensamento,
é sempre uma coisa vazia e inconclusiva.
- Eu, ao contrário, se me coloco na frente da fila
de cinco zeros tais e quais você, 
sabe o que me torno? Cem mil!
É uma questão de números.
E junto com o Um, é como acontece ao ditador
que cresce de potência e de valor
quanto mais zeros lhe vão atrás

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