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Trabalhadora negra é humilhada e demitida após denunciar racismo



Uma funcionária negra foi ridicularizada por usar tranças e acabou demitida ao denunciar a chefe por discriminação; caso aconteceu em uma grande empresa de marketing de São Paulo.
Por Matheus Moreira
Uma funcionária negra, de 35 anos, trabalhava no setor de vendas da Pr Newswire, empresa de marketing e relações públicas em São Paulo. Durante uma reunião, a presidenta da companhia, Thaís Antoniolli, ao entrar na sala, teria humilhado a funcionária negra por usar tranças. Segundo foi apurado pela Fórum, a chefe pediu que a funcionária desfizesse o penteado e disse que chamaria seus advogados após sua fala ser problematizada como racista.
A funcionária relata que, desde que entrou na empresa, foi discriminada. Em uma reunião com seu chefe direto, teria escutado que ela precisaria provar suas capacidades porque, para todo mundo, era “apenas uma negrita”. O gerente de vendas Ignacio Kimberlan é espanhol e a palavra costuma ser utilizada de maneira pejorativa em seu país de origem.
Mestre pela Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3 e graduada em Direito pela Universidade Presbiteriana Mackenzie, ela conta que se dirigiu a superiores e exigiu que as medidas necessárias fossem tomadas. Do contrário, faria uma reclamação formal ao setor de Recursos Humanos da Pr Newswire. Em resposta, recebeu a a sugestão de que o caso fosse abafado.
“Então eu disse: ‘Você pode falar do meu trabalho, mas não fale da minha cultura. Porque o fato é: uma mulher preta, usando trança, usando afro, não é somente um penteado, é cultura. O meu cabelo é de trança, é assim que se faz na minha cultura, na minha família, com meus amigos… as mulheres usam trança. Eu não tenho que me submeter a essa cultura branca invisível que há no escritório”, destacou.
Em reunião com o setor de Recursos Humanos, a ex-funcionária e a chefe ficaram frente a frente. A presidenta, de acordo com ela, rapidamente afirmou que o motivo de estarem ali era porque ela havia elogiado o cabelo da ex-funcionária e que esta não teria gostado. Ainda durante o encontro, a superiora sugeriu que a funcionária estava sendo “petulante” por exigir que pedisse desculpas a ela e aos colegas que presenciaram a cena.

“Disse que a presidenta era racista, preconceituosa e que aquilo não era profissional. Ela, então, disse que eu era racista e que ela era casada com descendente de negros e que se ela fosse mesmo racista, eu não passaria da porta”, contou.
A ex-funcionária relata que comentou, ao longo desta mesma reunião, que muitas pessoas reclamam das ofensas e grosserias da presidenta.
“Então ela chamou todo mundo para a reunião e disse para a gerente do RH anotar que ‘ninguém seria demitido contanto que dissesse a verdade’. Quando chegaram todos, ela perguntou: ‘alguém aqui acha que eu sou racista?’. Ninguém respondeu”, afirmou.
Ao fim, a presidenta teria pedido à responsável pelo setor de Recursos Humanos que ligasse para o advogado porque ela “não aceita ser chamada de racista”.
O caso foi reportado para a sede da empresa nos Estados Unidos e os funcionários foram entrevistados ao longo de uma semana. A ex-funcionária da PR Newswire fez o boletim de ocorrência contra a presidenta, seu chefe direto e a representante do RH.
Ela ainda criou uma página na internet chamada “Tira isso”, inspirada no episódio. Na mesma semana, a resposta da sede nos Estados Unidos voltou, apontando que não havia acontecido discriminação racial. Ao perceber que não havia mais nada a ser feito na empresa, ela passou a divulgar com maior intensidade a página.
Na última terça-feira (19), ela teve problemas de saúde e não foi trabalhar no dia seguinte. Na quinta, estava decidida a pedir demissão e levou sua carteira de trabalho à empresa. “Quando cheguei, fui chamada por funcionários, que demonstraram grande apoio, pedindo para que eu aguentasse um pouco mais porque seria efetivada em cinco dias. Eu me emocionei e decidi ficar”, contou.
Porém, no mesmo dia, Luanna Teófilo foi chamada pelo seu chefe em uma sala de reunião, ocasião na qual foi demitida por argumento de ter uma “baixa performance”.
Testemunhas, agressividade e ameaças
Para a reportagem da Fórum, uma fonte que preferiu não se identificar por medo de represálias disse que a presidenta chegou a afirmar que as tranças de Luanna “não iriam pegar bem com os clientes”. Logo que a funcionária rebateu as ofensas, apontando racismo, Thaís Antoniolli “ameaçou ligar para seu advogado para processá-la por injúria”.
Além de racista, a fonte afirma que a presidenta era conhecida por ser agressiva. “Ouvi também que, com as mulheres da equipe dela, ela fala assim: ‘Vai lá rebolar a bundinha de vocês para os clientes, que é disso que eles gostam’”, ressaltou.
Outro funcionário, que também não quis se identificar, disse que a presidenta descobriu sobre a publicação de Luanna em sua página, onde relata o ocorrido, e que isso teria piorado o clima.
A reportagem da Fórum apurou ainda que, nesta sexta-feira (21), Thaís Antoniolli teria feito uma declaração para os funcionários, dizendo que tudo não passou de um mal entendido e que as devidas providências seriam tomadas no âmbito jurídico.
Procurada pela reportagem na última semana, a PR Newswire não mandou qualquer nota sobre o assunto. Nesta segunda-feira (24), a empresa garantiu que enviaria seu posicionamento sobre a denúncia. A Fórum não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.
Arte: Vitor Teixeira
Fonte: revistaforum

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