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Espiando o poder — o faroeste eleitoral e a salvação da economia nacional - Luis Edmundo



Destrinchar o que se publica hoje na grande mídia, em meio ao golpe armado, imaginado e incitado com a ajuda primordial dela, da imprensa corporativa, familiar ou qualquer outro nome que irrite os donos de jornais, redes de televisão, rádio e afins.
Este é o singelo objetivo da coluna que agora se inicia aqui no Cafezinho, de autoria deste jornalista que fez carreira basicamente na mídia impressa até o fim do quase bicentenário Jornal do Commercio, e que agora pede passagem pra entrar em outra seara, muy necessária, a propósito, nesses tempos difíceis 
por Luis Edmundo Araujo, colunista político do Cafezinho
Crise acelera a volta dos empregos sem carteira assinada, diz a manchete de hoje da Folha de São Paulo, mas não no alto da primeira página, não. A manchete com o subtítulo dando conta do aumento da atuação informal na construção civil (11%), também no serviço doméstico (3,4%), vem em três colunas, embaixo desta foto aí de cima, aberta em cinco, enorme, com o sujeito saindo do carro de arma na mão, no meio da rua, e pedestres ao fundo, desfocados, um deles a senhora com a mão na testa, vendo o outro sujeito que está no chão, morrendo.
Candidato é morto a tiros, diz o título em uma coluna, acima da manchete, sobre a morte de José Gomes da Rocha, que disputava a Prefeitura de Itumbiara (GO) e foi assassinado durante carreata de campanha pelo sujeito com a arma na mão na foto, que aliás também morreu na ação. Ontem, no Globo, a foto da manchete era do caixão com o corpo do candidato a vereador Marcos Falcon, presidente da escola de samba Portela; hoje, a Folha escancara o faroeste e a sensação é de que esse negócio de eleição vai ficando perigoso, perigoso demais.
O vice-governador de Goiás, José Eliton (PSDB), ficou ferido no tiroteio que ganhou chamada no alto, no canto da primeira página do Estado de São Paulo, sem a foto que não é exclusiva da Folha, não foi captada por fotógrafo algum do jornal, o que poderia justificar a exposição de tamanha violência na capa de um jornal que antes, em eras mais arejadas, mantinha certos pudores com relação, ao menos, à sua primeira página. A imagem é reproduzida do WhatsApp, diz a legenda, e aparece grande também no Globo, em alto de página mas não na primeira, que resume o caso com a chamada que tem o nome, no jargão jornalístico, de seca, uma frase apenas, mais nada.
Depois do caixão sendo carregado de ontem, da violência física, fatal, na campanha eleitoral, a capa do Globo de hoje foca no medo da crise, da recessão, em tudo o que deve ser feito, segundo o jornal, para salvar a economia nacional, a começar pelo corte de benefícios sociais e de direitos dos trabalhadores.
Reforma prevê desvincular pensões do salário mínimo, grita a manchete do Globo sobre a proposta do governo Temer para reformar a Previdência, que tira dos novos pensionistas a chance de rendimento integral e estipula a correção apenas pela inflação também a quem já recebe o piso.
Logo abaixo da manchete, na chamada para sua coluna, Míriam Leitão avisa que é um risco para a economia não mexer na CLT, a Consolidação das Leis do Trabalho promulgada por Getúlio Vargas em 1943, que instituiu direitos como o 13o salário, as férias remuneradas e o FGTS (Fundo de Garantia do Tempo de Serviço), e que rege a relação, sempre desigual, entre patrão e empregado. Embaixo dela, Flávia Oliveira diz que o desemprego já ameaça o convívio das famílias, marcando a velha dobradinha entre a CLT e o fantasma de ficar sem emprego, com a qual buscam justificar, há muito tempo já, a volta da negociação individual com o empregador acima, brandindo a foice da demissão, e o empregado abaixo, desprotegido, com medo.
A matéria da manchete, sobre os cortes previstos na Previdência, incluindo os benefícios da Loas pagos a deficientes ou idosos pobres, que também seriam desvinculados do reajuste do salário mínimo, abre o caderno de economia do Globo. Oito páginas antes dela, abrindo a editoria Rio vem a matéria sobre o custo exacerbado, inviável, dos coronéis reformados da Polícia Militar e dos Bombeiros do estado do Rio de Janeiro, e o Globo segue mostrando, em todas as editorias possíveis, que não há solução para a crise que não passe, claro, pela supressão de direitos senão dos tais coronéis da reserva (que certamente vão gritar, lutar e muito provavelmente manter suas aposentadorias do jeito que estão), mas ao menos das classes menos favorecidas.
E no alegre revezamento que parece até combinado, imagina, entre os grandes jornais, enquanto marcha o golpe, a galope, pelo País, cabe hoje ao Estadão a pitada de condescendência, pra fingir imparcialidade.
O jornal foi o único a citar na capa a declaração dada só agora pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski, em aula na Faculdade de Direito da USP, de que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff foi "um tropeço na democracia". Como presidente do STF à época, Lewandowski foi o responsável pela condução do julgamento de Dilma no Senado, e no título o Estadão escondeu a democracia. 'Impeachment foi tropeço', diz Lewandowski, e mais nada na primeira página cuja manchete trata da disputa pela Prefeitura de São Paulo, mas sem fotos de candidatos, como ontem.
No meio da capa do Estadão de hoje, a foto aberta em destaque é de outra matéria crítica sobre as ciclovias e mostra o ciclista parado, com a mão na cabeça, diante de carros atravessando a faixa destinada a ele. Mostra também que em meio ao faroeste dessa eleição perigosa, muito perigosa, é preciso barrar a recuperação do prefeito Fernando Haddad registrada pelas últimas pesquisas, depois que ele fez campanha ao lado do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

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