Por Tadeu Porto*(@tadeuporto), no site Diálogo Petroleiro
Alguns
fatos se apresentam como uma facada, causando feridas difíceis de estancar e
superar. É o que podemos verificar, por exemplo, hoje com a notícia de que a
Petrobrás decidiu, deliberadamente, abrir mão de um campo altamente produtivo
do Pré-sal por míseros 2,5 bilhões de dólares.
Os
números podem até parecer positivos a priori, todavia, a título de comparações,
a nossa estatal vendeu a sua prima norueguesa um pedaço da maior descoberta
recente do mundo do petróleo por um preço que se equivale a cifras presentes em
estádios esportivos pelo mundo. Em outras palavras, se a Petrobrás quisesse
comprar a vista os estádios Stade de France e Wembley ela poderia até
conseguir, mas sem ficar com troco
algum.
Estamos
falando de valores tão baixos que nos proporciona comparar o mercado de óleo e
gás, principal fonte de energia do mundo, com o mercado do futebol (não me
estranharia ver Temer trocar dois poços do pré-sal para ter o Neymar de volta).
Para
se ter uma ideia do péssimo negócio feito pela maior petrolífera da América
Latina [pelo menos por enquanto, a se considerar o andar da carruagem] vamos
comparar os números de produção do pré-sal com o valor pago:
Consideremos
o valor do barril U$ 45,00 (cotação de 29/07/16 estava U$ 46,17); Suponhamos,
ainda, que a Statoil gaste quase o dobro da Petrobrás para produzir na bacia de
Santos, ou seja, U$15,00. Por fim, tomamos com exemplo a produção de um poço no
campo de Lula, o 7LL27RJS (que vou chamar carinhosamente de LuLinha), que há
mais de um ano mantém a média de produção próxima a 33 mil barris de óleo por
dia.
Oras,
com um valor líquido de U$30,00 o barril, se a empresa escandinava furar um
único poço do potencial do LuLinha ela conseguirá ganhar, aproximadamente, U$ 1
milhão por dia. Consequentemente, com 2500 dias – ou pouco menos de sete anos –
a companhia pagaria o que gastou para ter o campo com apenas um único poço
mantendo seu potencial.
Não
fica difícil abstrair, ainda, que se a Statoil conseguir a não difícil tarefa
de furar sete poços do potencial do LuLinha (reparem que no boletim de produção
mensal da ANP, os cinco primeiros poços possuem produção acima dos 30mil barris
de óleo por dia) ela paga o investimento com um ano.
Bom,
claro que muitos céticos vão duvidar
dessa “conta de papel de pão” – apesar de eu a ter feito na calculadora
do Google – e que empresa nenhuma faria essa besteira sem um planejamento
sério. Em primeiro lugar, eu incentivo fortemente esse tipo de indagação,
afinal, sou a favor de uma educação crítica em que fatos são constantemente
questionados (conhecida hoje em dia por escola com partido). Em segundo lugar,
argumento que fiz uma previsão conservadora dos números envolvidos, pois não
considerei, por exemplo, o preço do gás que o campo pode proporcionar. Por fim,
por mais que consideremos os impostos envolvidos no mercado – podemos fazer
também outra previsão conservadora e dizer que os encargos fiscais dobrariam o
custo – ainda sim a Statoil precisaria de cinco anos de produção para pagar,
com muita folga, o investimento que fez.
Vale
ressaltar, nesse sentido, que esse tipo de transação faz parte de uma política
vira-lata e entreguista que visa os retornos de curto prazo dos Royalties – que
a exploradora vai ter que pagar – e abre mão da soberania nacional e,
principalmente, de uma vantagem estratégica na concorrência na disputada e
acirrada geopolítica do petróleo (ou alguém acha aí inteligente deixar os
noruegueses aprenderem a explorar abaixo da camada pré-sal, com centena de
outros mares no mundo para explorar?).
Ou
seja, o que o PMDB de Temer, Pezão, Renan e cia querem é colocar a mão numa
receita fiscal mais facilitada abrindo mão de uma política mais estadista e de
longo prazo, que gere empregos, tecnologia e conhecimento genuinamente
nacionais.
Que
o Brasil tinha virado uma república de bananas com um golpe tão absurdo e
nefasto todos nós, a essa altura, já sabíamos. A apunhalada nas costas vem,
justamente, da descoberta que nossas riquezas serão negociadas a preço dessa
iguaria que tão bem acompanha um açaí.
Tadeu
Porto é colunista do cafezinho e diretor do Sindicato dos Petroleiros do Norte
Fluminense.
Fonte:
ocafezinho
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