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Lula fez muito bem em denunciar Moro ao mundo. Por Paulo Nogueira



Num mundo menos imperfeito, Lula jamais teria que recorrer a um tribunal internacional para se defender de acusaçÔes que lhe são feitas no Brasil.
Mas este mundo em que vivemos Ă© muito imperfeito — e isto quer dizer que Lula agiu muito bem em bater nas portas da ComissĂŁo de Direitos Humanos da ONU.
No centro do apelo de Lula estĂĄ o que todos sabem, embora poucos falem: Moro Ă© um juiz parcial, tendencioso, inconfiĂĄvel.
É um juiz da plutocracia, um homem que nĂŁo faz cerimĂŽnia nenhuma em aparecer ao lado de homens como os irmĂŁos Marinhos em celebraçÔes.
É evidente que ele vai condenar Lula, quaisquer que sejam as circunstñncias, se puder. Condenar e prender.
Os fatos nĂŁo contarĂŁo nada, assim como no julgamento de Dilma pelo Senado.
Moro Ă© um juiz da linha de Gilmar Mendes. VocĂȘ consegue ver Gilmar julgando qualquer causa relativa ao PT que nĂŁo seja com uma tonitruante condenação?
É uma medida extrema a de Lula, mas tempos excepcionais demandam açÔes igualmente excepcionais, para lembrar a grande frase do rebelde britĂąnico Guy Fawkes.
Fingir que Moro e a Lava Jato sĂŁo neutros sĂł serve Ă  plutocracia e a ambos, Moro e Lava Jato.
Um dos erros graves de Dilma e do PT nĂŁo foi, lĂĄ para trĂĄs, ter reagido Ă  altura quando se caracterizaram os abusos da Lava Jato. NĂŁo tardou que ficasse claro que o objetivo de Moro era extirpar Lula, Dilma e o PT — e nĂŁo a corrupção.
Dilma, Lula e o PT sempre contemporizaram com a farsa de Moro e da Lava Jato, dentro de uma estratégia fracassada de republicanismo suicida.
Coube a Lula, ainda que com atraso, dizer verdades sobre Moro, primeiro no plano interno e agora no cenĂĄrio internacional.
As pessoas lĂĄ fora desconhecem o que se passa no Brasil. O jornalista americano Glenn Greenwald disse nunca ter visto uma mĂ­dia como a brasileira. Ele sĂł viu o horror por viver aqui. O advogado australiano contratado por Lula foi na mesma linha: disse ser inconcebĂ­vel, em sua terra, um juiz como Moro.
Vivemos uma guerra movida pela plutocracia. O jornalismo que se pratica nas corporaçÔes é de guerra. A justiça que se faz nos tribunais mais elevados é de guerra.
Que essa guerra seja, ao menos, reconhecida e denunciada por suas vĂ­timas.
O recurso de Lula estĂĄ impregnado de um forte componente simbĂłlico. A direita brasileira tradicionalmente aumenta a violĂȘncia contra a democracia quando nĂŁo hĂĄ resposta a seus ataques.
Lula respondeu. Jogou em escala mundial luzes sobre o carĂĄter de Moro e da Lava Jato.
Moro vai ter que ser mais cuidadoso com seus passos, para nĂŁo dar completa razĂŁo a Lula.
Ele serå observado pelo mundo, uma situação nova e desconfortåvel para quem jamais recebeu nenhum tipo de fiscalização no Brasil e por isso pÎde cometer abusos em série.

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