Por Lisandra Paraguassu
Reuters - A uma semana do início das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o Ministério das Relações Exteriores decidiu destituir o chefe do cerimonial, embaixador Fernando Igreja, responsável por toda a organização da recepção de chefes de estado da Rio 2016, por questões políticas.
De acordo com fontes ouvidas pela Reuters, o embaixador foi retirado do cargo por ser visto como ligado ao governo da presidente afastada Dilma Rousseff, já que foi o chefe do cerimonial do Itamaraty por três anos e meio, e ter clara simpatia pelo governo anterior.
O governo tenta tratar a saída de Igreja – que será enviado para chefiar a embaixada brasileira em Cuba – como uma mudança de rotina. A informação oficial do Itamaraty é que o embaixador está saindo "a pedido" para iniciar seu período no exterior. A amigos, o próprio Igreja diz que estava cansado e repete a versão oficial de que surgiu a oportunidade de assumir a embaixada.
Na organização dos Jogos do Rio, no entanto, a mudança repentina provocou apreensão, especialmente entre os que cuidam diretamente da organização da recepção e da segurança dos chefes de estado. Até agora são 50 confirmados e cerca de 30 com "indicações de presença" – desses, a maior parte virá, mas por questões de segurança a confirmação só é feita nas últimas horas.
"São milhares de detalhes que ainda precisam ser decididos nos próximos sete dias. Ele tinha tudo na cabeça", disse uma das fontes.
Um dos problemas para a organização é que nem mesmo há um substituto indicado. O cargo deve ser assumido interinamente por outro diplomata, o ministro João Mendes, que, apesar de não ser do cerimonial, vinha auxiliando Igreja. Outros dois conselheiros estão tocando o dia a dia. Mas, de acordo com a fonte, apesar de conhecerem bem a organização, não têm a autoridade de Igreja.
De acordo com outra fonte, a saída de Igreja a uma semana do início das Olimpíadas não se justifica, já que, mesmo indicado para a embaixada em Cuba, serão alguns meses para o embaixador assumir o cargo.
A comunicação ainda precisa ser feita ao governo do país, que precisa então dar o chamado agrèment, o aceite ao novo embaixador. Depois disso, Igreja precisa passar por uma sabatina no Senado. Uma semana não teria alterado substancialmente esse processo, diz a fonte.
Igreja cuida da recepção de chefes de estado no país desde a metade de 2012. Chefiou a organização do cerimonial da Copa do Mundo, em 2014, e todas as visitas de estado ao Brasil desde então, além de eventos como o BRICS, em Fortaleza, em 2014. Nas Olimpíadas, trabalha há pelo menos um ano na organização.
Discreto, o embaixador era sempre visto nos bastidores dos eventos, mas sem ser protagonista. Virou notícia há cerca de um ano quando, ao assumir interinamente a chefia do cerimonial do Planalto pois seu titular, Renato Mosca, estava em licença médica, barrou a entrada de Dilma Rousseff em um cerimônia porque a passagem estava bloqueada pela entrada de atletas cadeirantes, que seriam homenageados. Levou uma bronca da chefe, o que não o impediu de manter a simpatia pelo governo.
Fontes ouvidas pela Reuters confirmam que Igreja tinha um ótimo relacionamento com Dilma. Em sua página em uma rede social, podem ser vistos posts compartilhando notícias como a de que a perícia do Senado não via responsabilidade da presidente afastada nos decretos usados com base para o impeachment ou abaixo-assinados contra o impedimento da presidente.
A posição política do embaixador incomodava o Palácio do Planalto, confirma uma fonte, e também ao ministro das Relações Exteriores, José Serra – que, ainda assim, manteve uma boa relação com Igreja nos dois últimos meses. Os dois estiveram juntos na semana passada em uma reunião sobre as Olimpíadas, no Palácio do Planalto e, depois, em uma audiência com o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha.
(Reportagem Lisandra Paraguassu)
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