247 – Henrique Meirelles, ministro da Fazenda do governo interino de Michel Temer, já não é mais unanimidade entre os analistas econômicos. O motivo é um só: embora tenha prometido realizar um duro ajuste fiscal, Meirelles ampliou o rombo para R$ 170 bilhões neste ano e sinalizou que irá repeti-lo em 2018.
Isso ocorre porque Meirelles tem-se mostrado um ministro fraco diante da lógica política de Temer. Na interinidade, Temer abriu os cofres públicos para tentar comprar apoio parlamentar (as liberações de emendas foram multiplicadas por doze vezes em junho) e um pouco de popularidade, como se viu no aumento do Bolsa-Família acima até do que havia sido prometido pela presidente Dilma Rousseff.
Temer gasta agora, prometendo fazer o ajuste, com suas "medidas impopulares", depois da votação final no Senado. No entanto, não há nenhuma certeza de que essa estratégia irá vingar.
Miriam Leitão, colunista econômica do Globo, afirmou que "falta clareza fiscal" ao governo. Vicente Nunes, analista econômico do Correio Braziliense, bateu mais duro. Disse que "num país sério, a máscara do ministro já tinha caído há muito tempo".
Leia, abaixo, texto de Miriam Leitão:
Falta clareza fiscal ao governo
POR MÍRIAM LEITÃO
A cada nova notícia sobre o déficit fiscal de 2017, a previsão fica pior. A “Folha de S. Paulo” apurou que, dentro do governo, a estimativa para o rombo no ano que vem está entre R$ 135 bi e R$ 150 bi. Está faltando clareza fiscal ao governo e coerência para combater o desequilíbrio das contas públicas. É preciso explicar o que está acontecendo.
A reportagem conta que o governo tenta destravar as privatizações para reduzir o déficit do ano que vem. A estimativa é que as vendas e concessões de ativos podem gerar até R$ 30 bi. Mesmo com as medidas para reforçar a arrecadação, o déficit ficaria em níveis elevados, após os rombos de R$ 118 bi em 2015 e dos R$ 170,5 bi previstos para este ano.
A projeção para o ano que vem era de déficit de R$ 65 bi em abril; na semana passada, o ministro do Planejamento disse que o rombo pode superar R$ 100 bi. A revisão tinha que ser feita porque o governo afastado realmente havia superestimado as receitas e subestimado as despesas. O cenário exige medidas contundentes para equilibrar as contas. Mas também é necessário explicar a real situação fiscal e por que as revisões sempre apontam para um quadro pior. No mínimo, a equipe tem que vir à público e contar as razões da piora. A previsão oficial sobre 2017 deve ser divulgada na semana que vem.
O governo também tem que responder pelas contradições. Ao mesmo tempo em que envia ao Congresso as propostas para controlar gastos, aprova aumentos de gastos. Falta coerência no combate ao déficit fiscal.
Ouça o comentário feito na CBN.
Leia, abaixo, texto de Vicente Nunes:
Governo mantém a política econômica de Dilma. E sem nova roupagem
Por Vicente Nunes
A cada dia, está mais claro que a equipe econômica do governo interino de Michel Temer está sem criatividade e repetindo a mesma política econômica de Dilma Rousseff. Só mudaram os personagens, mas a roupagem é a mesma.
Os gastos continuam a todo vapor, a política de adoçar a boca de políticos por meio da liberação de emendas se mantém ativa e, agora, descobre-se que o plano de privatização que prevê arrecadar até R$ 30 bilhões em 2017 é o mesmo vendido como salvação por Joaquim Levy e Nelson Barbosa, ex-ministros da Fazenda.
A meta é vender parte do capital da Caixa Seguridade e do Instituto de Resseguros do Brasil (IRB) e se desfazer de participações que a Infraero detém em aeroportos, além de incrementar concessões de rodovias e aeroportos. Ora, não há nada de novo nesse pacote. Isso já vem sendo prometido há anos.
Com essa maquiagem, a equipe do ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pretende criar fatos positivos a fim de acalmar os ânimos dos investidores e especialistas, que já perceberam que mudou o governo, mas tudo continua como sempre esteve na política econômica.
Meirelles chegou à Fazenda prometendo mundos e fundos. Contudo, nada de concreto fez até agora a não ser repetir o que seus antecessores faziam: prometer medidas e aumentar as previsões de rombo nas contas públicas.
A sorte de Meirelles é que ele conta com a proteção da maior parte da mídia e de analistas que odeiam Dilma Rousseff. Num país sério, a máscara do ministro já tinha caído há muito tempo.
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