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Temer e a arte de governar por editoriais



Por Vinícius Silva, colaborador do Cafezinho.
Que o nome de Michel Temer apareceria a qualquer momento em áudios gravados às escondidas e/ou em delações premiadas, era somente questão de tempo, pouco, inclusive. Então surge o nome do ilegítimo presidente golpista na delação de Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro.
Porém o que chama mais a atenção neste um mês de governo interino ilegítimo não é a revelação da podridão dos que assaltaram o poder em mais um golpe na breve história democrática do país. As relações promíscuas e corruptas eram mais do que conhecidas, e apesar de toda a seletividade da mídia corporativa, a caixa de Pandora da intervenção “higienizadora”, seletiva e autoritária do Poder Judiciário foi aberta e haverá muito dificuldade em fechá-la novamente.
Quem analisa cotidianamente o jornal O GLOBO (e todos os satélites midiáticos que o cercam, como Época, Veja, CBN, Isto é, e congêneres) pode verificar que o pudor foi definitivamente jogado às favas. O termo “lulopetismo” escancara qualquer texto do jornal e a busca em legitimar de qualquer forma o “novo” governo chega às raias do desespero. Como não estamos em 1964, a disputa das narrativas ainda está em jogo.
Com toda a oligopolização e hegemonia dos meios de comunicação familiares no país, é óbvio que estas mídias ainda detenham um enorme poder na criação dos sentidos e percepções acerca da vida política.
Porém o jogo narrativo em tempos de internet torna as coisas mais complexas e interessantes. Nas redes sociais, através dos blogs e sites não alinhados (os “sujos”), nas comunidades acadêmica e artística e na mídia internacional, o discurso da ruptura do processo democrático está ganhando de lavada, e isto não é pouco diante do poderio absurdo das empresas de comunicação nacionais.
Então cria-se uma nova modalidade de governo/decisão no Brasil. É o governo editorial on line do jornal O GLOBO. Como suporte fundamental e decisivo ao golpe, o Grupo Globo achou como forma de pressionar, influenciar e até mesmo decidir ações do governo ilegítimo, a publicação de editoriais on line de O GLOBO e que são vinculados pelo site do jornal e no portal G1. Geralmente estes editoriais são disponibilizados depois do fechamento do impresso, portanto são escritos após as primeiras ações da manhã do governo ilegítimo.
O principal “alvo” dos editoriais é obviamente Temer, que até agora obedeceu a todos os “comandos”. Demitiu Jucá, demitiu o ministro da transparência. Ontem o alvo foi o STF. Vamos ver, então, se há algum pudor da corte quanto à sua autonomia, ou alguém acha que algum ministro do STF tem relação íntima com o Grupo Globo?
Vamos esperar os novos comandos editoriais do novo velho Brasil.

Vinícius Silva é doutor em planejamento urbano, cientista social, mestre em sociologia e antropologia, e professor do Colégio Pedro II. Lançou o livro Palavras Sobre Qualquer Coisa pela Editora Multifoco, em 2011.  Atualmente é um dos coordenadores do Núcleo de Ativismo Baixada Fluminense da Anistia Internacional. Lançou em 2015, pela Editora Kazuá, seu segundo livro de poesias:(in)contidos. Curador do Clube do Livro Saraiva Nova Iguaçu. Nascido em Nova Iguaçu, criado em Mesquita, morador de Belford Roxo. Defensor e crítico do território conhecido como Baixada Fluminense.

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