Michel
Temer está aprendendo, na prática, o que é ser telhado de vidro. E seu inferno
astral está só começando. Mas começou em grande estilo, com delações
bombásticas contra si e contra seus novos aliados.
Os
leitores sabem que não tenho simpatia nenhuma pela instituição da delação
premiada, ainda mais da maneira como é conduzida no Brasil, com uso de tortura
prisional.
Mas
devemos considerar aqui não apenas a questão jurídica, e sim a questão política
e midiática.
Naturalmente,
Michel Temer tem a Globo a seu lado, e a Globo detêm a hegemonia da narrativa
para a maioria da população.
Sem
autorização da Globo pode haver dezenas de delações contra um indivíduo, que
não dá em nada. É preciso aparecer um ministério público suíço, como se viu no
caso de Cunha, para que as coisas andem.
Entretanto,
a Globo não tem controle de tudo. Setores crescentes da sociedade não assistem
mais seus telejornais e se informam diretamente da internet.
Neste
sentido, as delações de hoje caíram como bomba sobre a reputação de Michel
Temer. Dilma Rousseff jamais sofreu qualquer abalo deste tipo, e nunca foi
citada numa dessas delações.
Michel
Temer, Aécio Neves, Sarney, Jucá, Renan, a turma que forma o núcleo do governo
interino é campeã de citações e denúncias.
A
própria Lava jato agora ganha um dinâmica nova, porque será um tanto ridículo
que Sergio Moro e delegados voltem a cuidar dos pedalinhos de Atibaia diante
das delações envolvendo cifras monstruosas de Sergio Machado.
Uma
eventual prisão de Lula soará mais absurda para a opinião pública, que
perguntará: ué, por que não prenderam Cunha, Aécio, Renan, Jucá, e o próprio
Temer, todos mergulhados em incontáveis denúncias, muitas delas inclusive
anteriores à Lava Jato.
A
presidenta Dilma, por sua vez, emerge desse lamaçal com uma imagem limpa. Foi
em seu governo, afinal, que a luta mais encarniçada contra a corrupção, tão
encarniçada que acabou se enroscando em si mesma e a própria luta se corrompeu.
O
problema da Lava Jato é o seguinte: evidentemente é uma estupidez que, num país
com mais de 5 mil juízes e outros milhares de procuradores, todos os grandes
processos nacionais fiquem em mãos de apenas um juiz de primeira instância. É
absurdo que se confunda a luta contra a corrupção, obrigação de todas as
instituições, inclusive aquelas não judiciais, com a Lava Jato, que é apenas
uma entre centenas, quiçá milhares de investigações em curso contra desvios de
dinheiro público.
Temer
se mostra, além disso, um presidente fraco e desequilibrado, sem controle sobre
as bestas feras que nomeou para ministérios e estatais.
Na
EBC, temos ouvido que os diretores nomeados às pressas por Laerte Rimoli,
presidente da estatal por alguns dias, iniciaram um acelerado, quase histérico,
desmonte de programas que já existiam há décadas.
A
delação de Machado, envolvendo Michel Temer, Aécio Neves e o PSDB em geral,
caiu como uma bomba no Senado, subsidiando os parlamentares antigolpistas com
argumentos sólidos para mostrar que o impeachment foi um golpe sórdido
articulado por traidores e corruptos.
Ela
também reforça a denúncia da imprensa internacional de que o impeachment foi um
golpe contra uma presidenta honesta, articulado por punhado de ratos com medo
da ratoeira.
Até
mesmo as últimas articulações do TCU, produzindo novos factoides contra a
presidenta, ficam abafadas diante dos escândalos cabeludos revelados pela
delação de Sergio Machado.
A
situação, nitidamente, se inverteu. Depois do golpe, Dilma conseguiu reconstruir
laços com diversos setores sociais importantes que tinham se afastado. Esses
laços crescem dia a dia. A cada novo arbítrio de Temer contra Dilma, cortando
comida, avião, assessoria, tentando isolá-la do mundo, mais cresce a empatia
social com ela, porque é humano sentir empatia pelo oprimido e antipatizar o
opressor.
Temer
encarnou estupidamente o papel de vilão. Dilma tinha problemas de imagem,
seríssimos, e que ela só fazia agravar ao não estruturar uma equipe competente
de comunicação. Mas Dilma nunca teve a imagem de corrupta, vilã, ardilosa,
traidora que Michel Temer vem assimilando rapidamente.
Com
as manchetes envolvendo seu nome, Temer perde também o apoio da classe média
udenista, que foi às ruas pedindo o impeachment de Dilma por causa de corrupção.
A
irritação com Temer ainda não amadureceu. Mas vai. As pessoas precisam
contemplar o rosto draculesco de Temer ainda por algumas semanas, associando-o
a tantas coisas ruins, para que a paíxão negativa contra Temer se incendeie e
faça a classe média retirar de vez o seu apoio ao governo interino.
Temer
ficará então completamente isolado socialmente, contando apenas com a simpatia
da Globo, empresa que apostou alto demais em Temer para deixar agora a peteca
cair tão fácil. Mas que, ao optar por ficar tão junta a Temer, a Globo dá
margem para que a população anseie derrubar esses dois núcleos de forças
golpistas.
Se
já tínhamos uma crise de liderança com Dilma, que foi eleita duas vezes
seguidas pela maioria do povo, e que cometeu erros crassos nos dois primeiros
anos de sua segunda gestão, a crise se aprofunda com Michel Temer, homem sem
carisma, sem nenhum traço de empatia com o povo brasileiro.
Fonte:
brasil247
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