Nunca
se viu tamanho abuso.
Nunca antes um réu, com tantas acusações nas
costas, afastado por tempo indeterminado do mandato de deputado e da
presidência da Câmara desrespeitou e peitou tanto o STF quanto Eduardo Cunha.
O seu showzinho de ontem foi mais um
capítulo dessa novela deprimente que poderia se chamar “Que réu sou eu”?
Não por coincidência ele voltou à cena logo
depois da derrota no Conselho de Ética do que se depreende que seu intuito foi
mostrar que, apesar de tudo, quem manda na Câmara dos Deputados ainda é ele.
Foi tão acintoso que provocou reação
indignada de Rubens Bueno, líder do PPS, até anteontem um de seus fiéis aliados
que protestou no plenário pelo fato de seu show-off ter sido transmitido
diretamente pela TV Câmara.
“A TV Câmara somente cobre atividades do
parlamentares e Cunha está afastado das atividades parlamentares” reclamou ele,
aos brados, demonstrando claramente que perdeu a paciência com o reincidente.
Não é só Bueno que está “porrr aqui” com
Cunha. O PSDB – que é o principal avalista do governo Temer depois do PMDB –
ameaça lançar candidato próprio à cadeira de Cunha, em parceria com o PT, o que
não faria se não avaliasse que o reinado dele está por um fio, seja por meio de
renúncia, de cassação ou de prisão.
Cunha deu, na verdade, um tiro no pé. Ou
seja: reforçou os argumentos de Janot, que pediu a sua prisão preventiva ou
medidas mais severas justamente porque ele descumpre o que o STF determinou e
continua a mandar na Câmara com a mesma desenvoltura e petulância de sempre.
Em vez de ficar na moita, quieto em seu
canto, como cabe a um réu atolado em problemas no STF, na Lava Jato e até na
Suíça, ele extrapolou, mais uma vez, expondo à execração pública e ao ridículo
duas instituições ao mesmo tempo: a Câmara e o STF.
A sua demonstração de força poderá ser a
gota d’água que faltava para Teori Zavaski finalmente acatar a ação cautelar de
Janot que está há quase um mês sobre a sua mesa, sem resposta.
Janot oferece, como alternativa à prisão,
medidas que efetivamente mantenham Cunha longe das decisões da Câmara, tais
como a proibição de se comunicar com deputados e autoridades por qualquer meio,
seja telefone, e-mail ou outro qualquer, obrigação de não sair de casa no
horário em que se realizam as sessões e ser vigiado por meio de tornozeleira
eletrônica.
Se Teori não se indignar como ficou
indignado o líder do PPS vai parecer que Cunha manda não só na Câmara, mas
também no Supremo.
E também no governo, a julgar pela reação
amistosa de Temer.
Falando a Roberto D’Ávila, em sua primeira
entrevista exclusiva à televisão, mais de relações públicas do que de
jornalismo propriamente dito, ontem à noite, ao comentar a fala de Cunha, o
presidente interino chamou-o de “batalhador”, uma avaliação condescendente
demais para quem é, para o STF, um réu; um sério candidato a acertar contas com
a Lava Jato e, nas palavras de Janot, “um delinquente”.
Passarinho que come pedra sabe o estômago
que tem.
Fonte:
brasil247
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