Pergunte
para Samsung, Mitsui, Toyo Setal, Lusitânia Group, Carioca Engenharia, Engevix,
OAS…
Série:
coisas que a mídia procura (total ou parcialmente) esconder
Aposto
R$ 1 que ninguém sabe os nomes dos corruptores de Eduardo Cunha (ou, pelo
menos, de todos os seus corruptores). Sabemos das estrepolias do Cunha e de sua
mulher, das suas contas, dos seus gastos etc. Mas muito pouco sobre os detalhes
dos atos dos corruptores, os que pagaram propinas. Por que isso acontece? Nossa
repulsa não deveria alcançar os dois polos da corrupção? Da cena do crime, no
entanto, a mídia financista elimina (sempre que as instituições e os costumes
permitem) o corruptor poderoso. Por quê?
Nos
países extrativistas onde a concentração da riqueza pelas oligarquias/elites
políticas e econômicas é absurdamente anormal, os grupos midiáticos poderosos
fazem parte do restrito clube cleptocrata dos donos do poder (digamos que sejam
1%), conquistando fortunas politicamente favorecidas em detrimento da maioria
(digamos 99%).
A
prosperidade ou fracasso das nações depende da criação de círculos virtuosos ou
viciosos. Os países que conquistaram sucesso, num determinado momento, adotaram
instituições políticas e econômicas inclusivas (criando círculos virtuosos).
Sob instituições econômicas inclusivas a riqueza não se concentra nas mãos de
um pequeno grupo (oligarquias /elites), que explora determinada atividade sob a
forma de monopólio ou oligopólio (este último é o caso dos grupos midiáticos
brasileiros).
Os
grupos econômicos muito poderosos usam seu poder econômico para fazer crescer
de modo desproporcional seu poder político, chegando a ponto de até mesmo
sequestrar a democracia. Somente sob o império de instituições econômicas
inclusivas é que os ganhos são naturalmente mais limitados pela concorrência
efetiva (capitalismo não cartelizado), o que significa reduzir os incentivos
para grupos e aventureiros individuais gananciosos tentarem assumir o controle
do Estado e das rendas do país (Acemoglu e Robinson, Por que as nações
fracassam, p. 283).
A
mídia financista, ao fazer parte do clube da cleptocracia (uma das suas
atividades consiste em se enriquecerem de forma politicamente favorecida),
sempre que possível esconde (com ressalva daqueles que caem em domínio público:
caso das empreiteiras brasileiras) os nomes das grandes empresas corruptas que
corrompem ou aceitam pagar propinas para agentes públicos com o propósito de
aumentar seus rendimentos.
Todos
fazem parte do mesmo clube (da cleptocracia). A diferença (quando existente)
reside no modus procedendi para se concentrar a riqueza: ora se atua de forma
politicamente favorecida (essa é a regra nos grupos midiáticos), ora a fortuna
é conquistada de maneira vergonhosamente corrupta (quando envolve propinas) ou
aberrantemente macabra (como é o caso do trabalho escravo ou do
neoescravagismo).
O
caso Eduardo Cunha é emblemático. As primeiras notícias de uma corrupção
costumam ser completas. Em seguida, só se fala do funcionário e do Estado
corrompidos. E por que a mídia faz isso?
Precisamente
porque a mídia financista faz parte do mesmo clube das oligarquias/elites
econômicas extrativistas, ela está alinhada com a tese de que o mercado é puro,
poluto, eficaz e independente. Com isso, corrupto é só o Estado (e os
funcionários). Estigmatiza-se somente o Estado (não as empresas), quando na
verdade em todos os casos de corrupção sempre vamos encontrar num dos polos
algum agente podre e extrativista do mercado.
Os
grandes grupos midiáticos fazem parte do 1% que se enriquece com a cleptocracia
extrativista, em detrimento dos 99% restantes. A História não é um destino
insuperável. Mas nos países com tradição extrativista, as oligarquias/elites
políticas e econômicas são extremamente resistentes a qualquer tipo de mudança,
criando círculos viciosos onde a prosperidade não é da nação, sim, delas mesmas
(umas alimentando outras).
É
por isso que as mídias extrativistas procuram reproduzir velhos pensamentos
ajustados às suas finalidades. Por exemplo: o velho pensamento sociológico no
Brasil afirma que o patrimonialismo é algo exclusivamente estatal e que a
corrupção (consequentemente) também o é.
Ideologicamente,
a mídia empenhada não quer macular o (supostamente imaculado) mercado (leia-se:
o podre mundo das elites empresariais que surrupiam o dinheiro público), que
também faz parte do clube extrativista da cleptocracia brasileira. As
instituições extrativistas enriquecem as oligarquias/elites políticas e
econômicas e essa riqueza constitui a base da continuidade do seu domínio
(Acemoglu e Robinson, citados).
Os
sinais exteriores do imenso poder de Cunha é divulgado amplamente. Quanto a
seus corruptores, não vale a mesma regra (sempre que possível).
Editorial
do Estadão (11/6/16) indaga como Eduardo Cunha se tornou esse “senhor feudal”
mostrado aos quatro cantos do país? Vejamos:
“
(…) Mesmo fora da presidência da Câmara, Cunha continua a manobrar para evitar
sua cassação, em franco desafio ao Supremo”;
“
(…) Como um senhor feudal, formou uma bancada de vassalos dedicada dia e noite
a impedir que prospere a ação contra ele e a chantagear o governo”;
“
(…) Mesmo sem Cunha e seus ardis, a Câmara já não seria um exemplo de retidão e
de defesa dos interesses públicos; com ele, impune e desafiador, o Legislativo
reduziu-se a pouco mais que um balcão de negócios”;
“
(…) Mas o País também precisa se perguntar como foi possível que um único
deputado pudesse causar tantos estragos, mobilizando tão formidável bancada
pessoal no Congresso, totalmente indiferente ao voto recebido de seus eleitores
e devotada apenas à proteção de seu suserano”;
“
(…) A derrota desse parlamentar não pode ser o fim do esforço para sanear o
Legislativo. É preciso ir além e desmontar o sistema que permitiu que alguém
tão desqualificado para a vida pública pudesse amealhar tanto poder”.
Eduardo
Cunha conquistou a reputação de cara de pau “habilidoso” (sobretudo depois do
impeachment de Dilma, que tinha mesmo que ser afastada), mas não é um mágico,
muito menos um fabricante de dinheiro, sim, um barão ladrão de renome
internacional, com patente alta no clube da cleptocracia brasileira, onde
poucos integrantes das oligarquias/elites políticas e econômicas extrativistas
e patrimonialistas (digamos 1%) surrupiam grande fortuna em detrimento dos
muitos (digamos 99%).
Eduardo
Cunha é poderoso (um “senhor feudal”) porque muitas empresas (nacionais e
internacionais) deram-lhe muito dinheiro corrupto para obter benefícios em
prejuízo do país e da população, transformando-o num senhor absolutista muito
poderoso, com condições de financiar campanhas eleitorais dos seus colegas
(hoje, seus vassalos, que ostentam no currículo o pouco honorário título de
membro da “tropa de choque do Eduardo Cunha”).
Sua
fortuna, portanto, não nasceu do nada nem lhe foi assegurada por favelados. Não
caiu das nuvens como chuva nem brotou da terra como grama. A mídia financista
(conivente ao clube dos poderosos que dominam o poder e o Estado) faz de conta
(para seus leitores doutrinados) que não sabe de onde vem o poder de Eduardo
Cunha. Os leitores fazem de conta que a mídia financista não sabe disso.
Tudo
faz parte do jogo escabroso dos donos poder cleptocrata. A mídia financista
assim como o pensamento sociológico clássico entende que corrupto é só o
Estado. Por isso que ela esconde tanto quanto possível os nomes dos corruptores.
Quando
Edwin Sutherland foi publicar a primeira edição do seu livro White Collor Crime
(década de 40 do século XX), a editora exigiu o expurgo do capítulo 3º que
mencionava os nomes das grandes empresas corruptas estudadas pelo autor.
Somente em 1983 se conseguiu publicar o livro na íntegra (quando o autor já
tinha falecido).
Eis
alguns dos arquétipos cleptocráticos envolvendo Eduardo Cunha:
- Foyers cleptocráticos: “A denúncia da PGR contra Cunha aponta que os US$ 5 milhões recebidos pelo peemedebista fariam parte de uma propina de cerca de US$ 40 milhões acertada com Júlio Camargo, representante da Samsung Heavy Industries; Fernando Baiano, lobista que intermediava o negócio em nome de Cunha; e Nestor Cerveró, e diretor internacional da Petrobras que aprovou a compra. As embarcações, especializadas na perfuração de águas profundas, foram adquiridas entre 2006 e 2007, pelo preço de US$ 1,2 bilhão, pagos ao estaleiro num contrato sem licitação. Para ocultar a origem, a PGR diz que Cunha recebeu os valores em várias parcelas no exterior, por meio de contas”offshore” (abertas em países pouco fiscalizados) e empresas de fachada (com contratos simulados) e até direcionando doações para uma igreja. A acusação também diz que, para pressionar Camargo a retomar o pagamento das propinas, Cunha teria articulado, na Câmara, pedidos de informações para fiscalizar a Samsung junto ao Tribunal de Contas da União (TCU) e ao Ministério de Minas e Energia” (ver G1). No mesmo contrato também teria havido propina paga pela Mistui.
- Foyers cleptocráticos: “A suspeita é de que o parlamentar [Eduardo Cunha] tenha solicitado e recebido propina do consórcio formado por Odebrecht, OAS e Carioca Christiani Nielsen Engenharia – que atuava na obra do Porto Maravilha – no montante de cerca de R$ 52 milhões” (G1).
- Foyers cleptocráticos: “Em 2007, o empreiteiro José Antunes Sobrinho recebeu um recado de um dos sócios de sua empresa, a Engevix: o deputado federal Eduardo Cunha, do PMDB do Rio, gostaria de conhecê-lo. Antunes sabia que Cunha dividia com o Partido Republicano, PR, o controle de cargos na diretoria de Furnas, na qual a Engevix tinha R$ 177 milhões em contratos. Preferiu evitar o encontro. Não conseguiu, no entanto, escapar, segundo ele, do pedido – ou achaque – para pagar propina. Na proposta de delação premiada que entregou ao Ministério Público Federal, que ÉPOCA publicou com exclusividade, Antunes diz, para manter os contratos que detinha em Furnas, topou pagar R$ 2,5 milhões a operadores do PR e R$ 1 milhão a operadores do hoje presidente da Câmara, Eduardo Cunha..
- Foyers cleptocráticos: “O empresário português Idalécio de Oliveira é apontado como a origem da propina repassada ao presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Ele é dono da Lusitânia Group, grupo que controla a Compagnie Béninoise des Hydrocarbures (CBH), que explorou campo de petróleo em Benin em parceria com a Petrobras. As informações são da Folha de S. Paulo” (Congresso em Foco).
Professor
Jurista
e professor. Fundador da Rede de Ensino LFG. Diretor-presidente do Instituto
Avante Brasil. Foi Promotor de Justiça (1980 a 1983), Juiz de Direito (1983 a
1998) e Advogado (1999 a 2001). [ assessoria de comunicação e imprensa +55 11
991697674 [agenda de palestras e entrevistas] ] Site: www.l...
Fonte:
JusBrasil
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