Vão
dilapidar o que puderem e deixar uma armadilha para tornar Brasil ingovernável
caso Dilma volte
Houve
quem se surpreendesse quando a equipe econômica de Meirelles pediu autorização
ao Congresso para fixar uma nova “meta” fiscal extremamente folgada, uma meta
de 170 bilhões de reais. Afinal, o valor é o dobro da meta que a presidente
Dilma pediu e que na época foi considerado “irresponsabilidade fiscal” pela
imprensa e pelo Congresso.
O
que Meirelles quer não é uma meta, é uma autorização para gastar à vontade. Os
tais 170 bilhões de reais certamente correspondam ao maior déficit primário da
nossa história, em valores correntes. Muito estranho para um governo que foi
alçado ao poder em meio a uma campanha pela austeridade fiscal, a que Dilma,
supostamente, era avessa.
Se a Dilma está sofrendo processo de
impeachment por ter dado as tais pedaladas, na ânsia de cumprir uma meta fiscal
muito ambiciosa, que sentido faz dar um imenso cheque em branco para o governo
interino?
Tanta incoerência explícita, escancarada,
tanto cinismo militante incomodam. As réguas e as regras que valem para uma não
valem para outros? Noventa e seis bilhões de meta fiscal pedidos por Dilma são
irresponsabilidade, mas os 170 bilhões pedidos por Temer transmudam-se em
virtude.
Enfim,
considera-se normal que os políticos, na luta pelo poder, façam pronunciamentos
incoerentes, contraditórios.Desdizem hoje com toda ênfase o que declaravam com
fervor ainda ontem. Políticos que queriam o impeachment diziam uma coisa antes.
Agora dizem o contrário.
No entanto, o que mais assusta é que a mídia,
os economistas e “o mercado” finjam que não há incoerência, que não usam dois
pesos e duas medidas. Da crítica azeda, desaforada de antes ao entusiasmo de
hoje não decorreram sequer 30 dias.
Isso é grave, gravíssimo, pois indica que
faziam terrorismo com o déficit menor de antes e agora nem se importam com o
déficit muito maior. Enfim, ao que tudo indica, os políticos, “o mercado” e
seus economistas investiram pesado, até mesmo sua credibilidade, para viabilizar
o impeachment e agora investem pesado para viabilizar o novo governo.
Há
anos, todo santo dia, estamos acostumados a ler nos jornalões, a ver e ouvir na
mídia monopolista que o terror dos terrores para os economistas, para o
mercado, para as agências de risco, para os investidores, que o terror dos
terrores para eles é o déficit público crescente. Mas, agora, nada comentam
sobre o crescimento exponencial desse déficit proposto por Meirelles.
Isso
significa que esperam ganhar algo muito maior? O que será?
Antes
de conjecturar sobre isso, faço uma pequena explanação a respeito dos fatos já
conhecidos, para entender as estratégias que movem a atual equipe econômica:
1) A previsão de um déficit primário colossal
mostra que o governo está se preparando para adotar uma espamódica política
fiscal contra-cíclica keynesiana só para 2016 para recuperar a economia, mas
supostamente revertendo em 2017. Porém, na prática, para 2016 ao menos, será
muito mais arrojada do que a estratégia fiscal adotada por Dilma em seu
primeiro mandato. Estratégia essa, sabemos, objeto de todos os tipos de
críticas e xingamentos por parte da imprensa, dos economistas de mercado e da
antiga oposição.
2) Se o governo busca adotar uma política
fiscal arrojada, infere-se que ele esteja disposto a usar todos os meios para
fazer a economia crescer, inclusive radicalizar aqueles meios usados por Dilma
e que foram a base para o horror que “o mercado” e a “elite” têm da presidente.
3) Mas isso seria considerado uma loucura,
que precipitaria a explosão da dívida pública, se não fosse esperado pelo
“mercado” uma redução abrupta e substantiva dos juros.
4) Como a duplicação da previsão de déficit
foi digerida amistosamente pelo “mercado”, a redução dos juros já está acertada
entre “equipe econômica” e “mercado”.
5) Porém, o governo é fraco e continua na mão
de todos que viabilizaram o impeachment. Isso significa que o “mercado”, que se
regozija com os juros altos, está ganhando em troca algo muito melhor.
6) O que seria? O Pré-Sal?A radicalização das
privatizações? A suspensão dos direitos trabalhistas e dos direitos
previdenciários? A apropriação de uma gorda fatia dos recursos que iriam para
educação e saúde? Tudo isso e um tanto mais. Na verdade, essas medidas já foram
anunciadas pelo novo governo. Então, para ganhar tais prebendas, o mercado
aceita a política fiscal contra-cíclica em 2016 e juros baixos. Esse é o pacto
de que tanto se fala nesse novo ambiente político, o “pacto entreguista”.
7) Mas isso não é muito impopular para ser
realizado por um governo interino? Sim. E pode não dar certo e não dando certo
sempre existe a possibilidade da volta do governo eleito.
8) Nesse caso, a equipe econômica do Meirelles
estaria preparando uma armadilha para manterDilma amarrada aos compromissos e
políticas neoliberais propostas pelos interinos.
9) A armadilha chama-se “mecanismo de fixação
do teto da dívida” obrigando que os gastos públicos fiquem congelados em 2017,
em termos reais!
10)
Sabemos que a trégua do “mercado” à política fiscal irresponsável do governo
interino se deve ao “pacto entreguista”. No entanto, na mídia, Meirelles vende
que a trégua do mercado se deve à proposição do “mecanismo de fixação do teto
da dívida”. Ou seja, o “mercado” está dizendo: “Eu não me preocupo com o fato
de Temer ter um déficit duas vezes maior do que Dilma, porque Meirelles vai
aprovar no Congresso um mecanismo que congela os gastos públicos em 2017, mesmo
se Dilma voltar ao governo”.
11)
Se isso acontecer, o Estado e o país ficarão ingovernáveis, no caso de volta de
Dilma. Ou no mínimo, colocará Dilma novamente de joelhos frente ao Congresso e
ao dono do Congresso, a mídia.
12)
Caso Dilma não volte, Temer fulmina essa armadilha facilmente com o apoio que
tem no Congresso, na mídia e no “mercado”.
13)
Mas, antes disso, irão aprovar todo tipo de entrega do país. E Dilma, caso
volte, estaria tão fraca e tão à mercê Congresso que não poderia reverter nada
e teria que dar continuidade e implementar as políticas neoliberais de
Meirelles.
14)
O ex-ministro Nelson Barbosa já deu indicações de que deve continuar a mesma
política de Meirelles, caso volte, pois, segundo ele, o que o governo interino
está fazendo “não é novidade” e que propostas que ele mesmo lançou em março,
como ministro de Dilma, Meirelles está anunciando agora.
15)
Meirelles quer colocar o país entre o fogo e a frigideira. Logo, precisamos
combater essas medidas.
Fonte:
brasil247
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