About Me

BVO-news.jpg

TIPO ASSIM...


Teatro de Zé Celso chega a Brasília para gritar: Não vai ter golpe!

Um dos maiores artistas do teatro latino-americano, José Celso Martinez Corrêa, estará em Brasília, em temporada, até 24 /04, na Caixa Cultural, com a montagem “Pra Dar Um Fim no Juízo de Deus”, obra-chave do genial Antonin Artaud.
O Grupo de Teat(r) oOficina Uzyna Uzona chega, no momento, em que o processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff promete levar às ruas milhares de pessoas para ocuparem uma Esplanada dividida ao meio por um muro ideológico.
Nesta entrevista exclusiva ao Metrópoles, o Exú das Artes Cênicas (é o título de que ele mais gosta) fala de como seu teatro está em consonância com as forças contraditórias das ruas.
Qual o significado de apresentar essa peça, em Brasília, centro da crise política brasileira?
Imagine que no dia 24/04, dia da votação do golpe do Impeachment, estaremos no fim de nossa temporada em Brasília. Nas duas semanas em que estaremos atuando, as águas vão rolar – e nós com elas. Mas sabemos nadar e adoramos a mutação de apoteose. A peça é um sistema nervoso e afetivo que capta tudo diretamente da Capital do Brasil e nos inspira. Tanto minha pessoa, a mais velha, quanto os muitos outros artistas mais jovens, estaremos vendo e vivendo esse muro construído para os dois campos de luta não se suicidarem. O Brasil está dividido em dois. Nós queríamos mais que uma frente ampla, uma roda ampla que comesse esse golpe.
O teatro não gosta de guerra, pois ele contracena com todas as contradições, cultua seu Inimigo"
Dionísio ensina:
“Qual é o mais lindo Presente?
Que os deuses dão por mortais
O que é mais lindo
É o que é mais amigo
Ter a cabeça do Inimigo nas mãos
E a sabedoria de tocar
Pra ele ver de Pé
A Nossa Vitória!”
Como o contexto político brasileiro afetou essa montagem?
O golpe do impeachment é uma criação de teatro cover, em seu desejo de imitar o golpe de 1964, repetindo as datas-chaves comemorativas. O profeta Karl Marx já disse: a repetição da história dá em farsa: não a de Janaina Paschoal, querendo matar a cobra (ecologistas, não permitam); a da saída do governo do PMDB (um dos atos públicos mais cafonas da história do Brasil); a das marchas do rebanho verde-amarelo (à moda da Coreia do Norte, comandadas por um pato! O pato narigudo da Fiesp, que copiou e não pagou direitos autorais ao inventor desse objeto que define essa Farsa Disney Worldian). É obvio que a peça de Artaud afetada se desinfeta dessa zika, peidando, cagando, esporreando, expulsando essa farsa como Jesus fez com os mercadores de seu Templo Teatro.
É verdade que personalidades como Moro e Temer perpassam a narrativa da peça?
É tem mais: Gilmar Mendes, o Ogro; Cunha e Janot, finalmente juntos, tentando amarrar, com a mesma camisa de força, uma mulher, sem máscara, que até podia ser nossa presidenta Dilma, encarnada pela grande Atriz Sylvia Prado. AÉpocaVeja (e etc.) forneceram ao Carnaval as novas máscaras da farsa brasileira golpista. O teatro brasileiro agradece.
Qual o papel do teatro hoje na defesa da democracia?
O Teatro é, em si, quando não vem enlatado, o lugar da anarquia, da democracia anárquica coroada: trágica, cômica e tesuda!
O teatro é o lugar do avesso das pessoas ditas direitas, da direita"
 O teatro brasileiro está na luta?
Os chamados teatro de rua, sim. Os dos shoppings, não. Esses estão em seus bunkers, já se protegendo. A geração teatral em Sampa que está off shoppings luta com o Inimigo comum: a especulação imobiliária. Essa geração luta pela cidade florescente, fora das torres. Mas agora luta mais que nunca, pela liberdade imortal, para livrar os humanos de seus automatismos de rebanho que querem o golpe travestido no impeachment.
O senhor viveu tempos de horrores na ditadura militar…
Sim, mas atravessei, como muitos atravessaram, na minha vida teatral, na cultura da vida, do corpo, mesmo torturado. A arte é maior. Só que esses horrores continuaram na PM, por exemplo, e na burrice de eliminar a cultura como o poder vital do humano de todas as espécies vivas, como o ser vivo e humano: a Terra. Mas isso não aconteceu, paradoxalmente, durante a ditadura civil militar, onde o cultivo da cultura foi das causas primordiais de sua queda.
Hoje, a formação exclusiva, principalmente nas universidades privadas para a formatação do ser humano para o mercado, trouxe essa onda de burrice, tipo Coreia do Norte, de todo mundo vestido de verde-amarelo sem ter o que dizer, a não ser ir à caça dos bodes expiatórios"
Quais os riscos que o senhor observa neste momento?
Estamos em plena luta de classes, mascarada de combate à corrupção. Quando minha geração sofreu os golpes de 1964, fomos pegos de surpresa. Hoje, não.
Está tudo escancarado e se quiserem vir com golpe, desde os índios, os sem-terra, os sem-teto, os jovens que ocuparam as escolas e não arredaram de lá, os operários, os maconheiros, as mulheres, os gays, os trans, os poetas, os intelectuais, os artistas, não vão deixar barato"
Em que o senhor acredita?
Acredito que só a cultura da vida viva é um poder. E está recalcada, miserabilizada, E somente ela, a cultura, e, sobretudo, a cultura antropofágica vinda dos Índios Caetês, nessa crise política fake, só a cultura pode nos levar à paz da comunicação devoradora dos obstáculos. Por isso eu, Zé Celso, pessoalmente, dedico a parte que me cabe nesse trabalho, nestas duas semanas em Brasília, ao grande bode expiatório de toda esta situação: Dilma Rousseff, a bela e corajosa presidenta do Brasil. Faço votos que ela, além de resistir, reexista aproveitando essa situação pra uma grande virada no poder da culturabrazyleira!
Artaud está na raiz do Oficina. Como essa montagem atualiza a energia orgiástica do coletivo?
O próprio coletivo orgiástico da multidão, que está em plena redescoberta da arte do teat(r)o, nos trouxe, na peça de Artaud, essa energia, na fina sintonia com o tempo. Era fim de 2014. Sentia-se no ar a poluição dos ressentimentos dos que perderam as eleições presidenciais: um quantum excessivo de “representações”, atitudes “fakes”, ódios que foram dar num mal estar brazyl, que acabou se fixando numa nuvem parada, no baixo astral da invenção de uma crise política. Essa situação explodiu nos “em mim(s)”, no mais que desejo, na necessidade, na exigência de cair de boca, no corpo a corpo, sem mediação no teat(r)o.
E como o público recebeu esse espetáculo?
Precisávamos estar em cena; muitos ao mesmo tempo, intuímos, que viriam se atirar nos braços “deste enjeitado: o Teatro Brasileiro”. Desde a estreia de “Pra Dar Um Fim no Juízo de Deus”, em 2015, os Portões do Teat(r)o Oficina, ao se abrirem, o milagre se deu:  viraram comportas jorrando o mar da multidão que lotava as galerias e a pista da “Rua Lina Bardi”.
A loucura de Artaud, que põe o teatro hierarquizado ao chão como se fosse “fezes”, ganha potência na estética carnavalesca e caótica do Oficina…
Artaud é o “Momo” Carnavalesco, o Palhaço de Deus, o Anarquista Coroado, e o Teat(r)o Oficina é um dos seus Terreiros no mundo, onde ele baixa mesmo. Em tempos de golpistxs, corruptxs, evangélicxs da verdade única, da moral patriarcal, do juízo politicamente correto de Deus, a peça de Artaud, mais que tudo diverte, solta a franga. E cresce pelo avesso, “como no delírio dos bailes de rua”.
 Como o senhor se desfaz das máscaras de diretor para se tornar o xamã nessa cerimônia?
Não tenho máscara de diretor; Mãe Stella, da Bahia, me batizou de “Exú: Senhor das Artes Cênicas”. A honraria que mais amo e mereço"
Fonte: metropoles

Postar um comentário

0 Comentários