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Quando a vida escapava entre os dedos; quando a realidade escapa dos olhos


Certos  depoimentos, de quem viveu no dia-a-dia as agruras da vida, valem mais do que uma tese de doutorado. E não se trata aqui, de uma impressão de algo que se viu ou de que se ouviu falar.

Este, de um leitor do Tijolaço, é especialmente revelador:

“Sou médico. Em 1971 me formei e, levado pela minha consciência, fui trabalhar no nordeste e vivi um mundo que hoje não mais existe. Fazia medicina comunitária.

Carregava água no cesto como diziam os sertanejos. Assinava muitas receitas de medicamentos que nunca eram comprados e assinava pelo menos dois a três atestados de óbitos por semana de crianças que morriam de fome.

A vida escapava pelos meus dedos, minha ciência não dava conta da fome.

Antes de ser médico fui torneiro mecânico, como Lula, também formado no SENAI, e como ele, lutei contra a fome, mas eu carreguei água no cesto durante quinze anos e quase nada alterei a vida dos que assisti, só minorei os sofrimentos.

Ele, por sua vez, fez o bolsa família e acabou com a fome.

Na minha opinião só teve um erro, quando transformou o Programa Fome Zero em Bolsa Família, o primeiro estimulava o desenvolvimento da consciência política além de matar a fome, o segundo só ficou na resolução dessa condição material.

Esse homem hoje é homenageado com uma camisa listrada pelos midiotas, individualistas e egoístas.”

Antonio Ozzetti Neto (21/04/2016)

Pois é, Dr. Antonio, é que para certas pessoas o povo pobre do Brasil não vem ao caso.


Fonte: tijolaco

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