EDUARDO
GUIMARÃES
Eduardo
Guimarães é responsável pelo Blog da Cidadania
“Não
foi uma decisão muito inteligente”, disse Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente
do Senado, sobre a debandada do PMDB na semana que finda. Para ele, a decisão
majoritária do partido de entregar os cargos no governo Dilma e passar à
oposição pode ter vida curta, daí a precipitação que viu nessa atitude. Fatos
posteriores mostrariam que Renan sabe das coisas.
Some-se
a isso declaração de outro presidente do Legislativo federal, o também
peemedebista e presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), no
sentido de que “Se por acaso o governo conseguir evitar a abertura do processo
de impeachment, ele vai ter que governar no outro dia, e não vai governar com
esse número”.
Renan
e Cunha têm razão. E a fala de um explica a do outro. Renan disse que a decisão
do PMDB de deixar o governo foi pouco inteligente e precipitada e Cunha disse o
óbvio, que Dilma “não vai governar com esse número” de parlamentares que
ficarão do seu lado contra o impeachment. E não vai mesmo.
O
que Cunha não disse, mas sabe, é que Dilma não vai governar com esse número de
aliados, mas vai governar com número muito maior pelo que explicou Renan em sua
fala sobre a falta de inteligência da decisão do PMDB de pular do barco antes
de o naufrágio se mostrar irreversível.
Ao
ser questionado sobre qual seria a situação do PMDB caso a presidente Dilma
consiga uma “salvação” ao evitar o processo de impeachment que enfrenta no
Congresso Nacional, Renan disse não acreditar que o partido passe a liderar uma
corrende de oposição ao governo.
Renan
é uma das duas raposas políticas que comandam o Poder Legislativo brasileiro.
Ele e Cunha sabem muito bem que o PMDB não sobrevive fora do Poder. Por conta
disso, integra todos os governos desde a redemocratização.
Dilma
está recompondo a base aliada. Partidos que estavam de fora do arranjo
anterior, agora correm para o governo em busca dos melhores cargos, os quais
estavam todos nas mãos do PMDB. A oportunidade é única e os movimentos todos
contra o impeachment vistos no Brasil e no exterior criaram a narrativa
perfeita para quem estava de fora da festa governista finalmente assumir o filé
deixado pelo PMDB.
Ah,
você, golpista de plantão, qual virgem na zona vai dizer agora que esse arranjo
político – e, se for bem cara-de-pau, pode chamar de “loteamento político”
mesmo – é “imoral”. É mesmo, é? Ora, vá se catar! É assim que funciona o
governo brasileiro desde sempre e é assim que funcionará com ou sem Dilma no
Poder.
Simplesmente
porque ninguém governa o Brasil sem maioria no Legislativo. Todos estão vendo o
país afundar justamente por falta de governabilidade, palavra que andou
demonizada mas que simboliza as condições de o governo manter o país
funcionando ou até de fazê-lo avançar.
Não
gostam do “loteamento de cargos”? Vamos mudar a estrutura
político-administrativa do país, vamos fazer uma reforma
político-administrativa no país. Agora, o que não dá é para alguns caras-de-pau
ficarem dando uma (repito) de virgens na zona, monstrando-se “escandalizados”
com a forma como o poder tem que ser exercido por quem governa.
Seja
como for, o impeachment subiu (de novo) no telhado. Pode descer, claro. A Lava
Jato está aí para ficar caçando factoides para permitir o golpe político. Mas
quem ouviu a fala do ministro Luís Roberto Barroso, do Supremo Tribunal Federal
(STF), a estudantes contendo uma crítica ao PMDB como “alternativa de poder”,
sabe por que o golpe está difícil de sair.
Há
um roteiro muito provável para o fim dessa novela.
Os
partidos que ficavam com as sobras do PMDB pulam no barco governista para
repartirem o filé, agora amparados pelo repúdio estridente ao golpe que está
sendo entoado no Brasil (com menos sucesso, devido à crise) e no exterior (com
muito mais sucesso devido ao caráter golpista do golpe).
Com
isso, o impeachment não passa por falta de votos a favor, mesmo sem ter votos
suficientes contra – mesmo que o governo não obtenha 171 votos a favor de Dilma
na Câmara, deputados podem faltar à votação, negando os 342 votos contra a
presidente necessários à abertura do impeachment.
O
PMDB, na verdade, ainda não entregou nada. Continua sentadinho nos seus
ministérios. Até agora, só fez um showzinho. Com a reversão das expectativas
pró impeachment, vai continuar sentadinho onde está. Contudo, os palhaços que
deram o showzinho terão que voltar ao colo da mamãe Dilma com o rabinho entre
as pernas.
Fonte:
brasil247
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