O
deputado federal e presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB), conseguiu o que
queria: votar o impeachment em um domingo, dia 17 deste mês. Movimentos contra
o governo já marcam manifestações para a data, com direito a telão na Avenida
Paulista, ao vivo no Fantástico. A política virou BBB, um espetáculo midiático.
Fica
cada vez mais claro que o impeachment da presidenta Dilma Rousseff é uma
manobra política de um setor bem específico da sociedade. Esse grupo soube
lidar muito bem com a insatisfação popular, principalmente da classe média,
utilizando do discurso anti-corrupção como ferramenta de manipulação.
A
pauta corrupção é isso. Manobra política, midiática.
Se
não fosse, o mais correto não seria o impeachment, e sim apertar reset em todos
os cargos ocupados em Brasília. Veja bem: só de presos, a Operação Lava Jato
chegou ao número de 139 pessoas, sendo 64 prisões preventivas, 70 prisões
temporárias e 5 prisões em flagrante. Estamos falando de grandes empresários,
políticos com foco de atuação no Congresso e em ministérios ou estatais. A
presidenta Dilma Rousseff, apesar dos questionamentos óbvios sobre sua conduta,
não é sequer investigada pela Polícia Federal nessa operação.
Ao
contrário da pessoa que tomaria o seu lugar caso o impeachment for aprovado. O
vice-presidente, Michel Temer (PMDB), foi citado mais de 4 vezes por pessoas diferentes
em delações da Lava Jato. Temer era considerado o “padrinho do PMDB” nas
nomeações para a Petrobras. Seu currículo é tão grande quando o assunto é
corrupção que, em 2014, durante investigações da Lava Jato, a Polícia Federal
descobriu o possível envolvimento do vice-presidente em casos de desvios e
recebimento de propina nos anos 90. Sim, mais de 20 anos atrás.
Claro,
não podemos esquecer dele: o próprio Eduardo Cunha.
Em
um país onde as instituições realmente funcionassem, um homem com a sua carga
de acusações a nível internacional não seria capaz de presidir o Parlamento.
Mas, tudo bem, certo? Afinal, ele quer tirar a Dilma do poder. E durante anos
uma verdadeira onda de manipulação midiática fez questão de enfatizar no
imaginário popular que o Partido dos Trabalhadores é o maior representante da
ilegalidade, da corrupção, da imoralidade.
Os
vazamentos seletivos existem, e estão ai pra provar. Imagine só: um deputado
estadual petista, em um governo estadual petista em São Paulo presidindo a
Assembleia Legislativa. Esse deputado é envolvido em um escândalo absurdo com
desvios de dinheiro da merenda escolar. Gravações comprovam a sua participação,
delações apontando o seu envolvimento como líder da quadrilha. O quão isso
seria divulgado? Será que esse deputado petista continuaria comandando a
Assembleia Legislativa com tantas acusações nas costas?
Não
sabemos. Porém, sabemos que o deputado estadual Fernando Capez (PSDB) continua
livre, com seu cargo de deputado e com seu posto de líder da Alesp. Sem nenhum
plantão na Globo, sem nenhum editorial no Estadão.
A
grande mídia, que durante os últimos 13 anos recebeu bilhões de reais de verba
federal para publicidade, parece ainda não gostar do Partido dos Trabalhadores.
Talvez porque o outro lado tenha oferecido mais condições, menos
regulamentação, mais verbas.
E
ai começa o espetáculo.
A
votação do impeachment será no próximo domingo, dia 17 de março. Algo que
tucanos haviam negado semanas atrás, mas que Eduardo Cunha já havia planejado
nos bastidores com seus aliados.
Eles
querem atenção, claro.
Querem
mostrar para o povo brasileiro, com seus discursos que já estão sendo ensaiados
provavelmente, quem é “a favor do povo” e quem é “contra o povo”. A favor do
povo é aquele que quer o fim desse governo corrupto. Contra o povo é aquele que
não quer permitir que o impeachment avance.
Nas
ruas, movimentos que receberam dinheiro de ONGs estrangeiras para articular um
governo neoliberal e derrubar o Partido dos Trabalhadores já se organizam para
o dia 17. O Estudantes pela Liberdade (nome de fato do Movimento Brasil Livre)
já separou uma verba do seu caixa financiado pela sua sede Students for Liberty
para levar manifestações de ônibus para Brasília, em caranavas. O Vem pra Rua,
mais conhecido como “amigos da Fiesp” já determinou que dia 17 vai ter até
telão gigante para que o povo possa acompanhar a votação em tempo real. E
claro, vai ser horário do Fantástico, na Globo.
O
circo tá armado, o teatro montado.
Em
maio, eles já esperam que Michel Temer esteja no cargo, colocando em prática o
prometido: medidas de austeridade para ampliar o ajuste fiscal antes aplicado
por Dilma Rousseff. E claro, os tucanos e amigos de Cunha (além do próprio)
também esperam um verdadeiro abafa na Lava Jato, com grande ajuda da mídia
corporativa. Vazamentos serão coisa do passado. Manifestações “contra a
corrupção” devem sumir, já que seus idealizadores devem entrar na política
ainda esse ano.
Eles
vivem dizendo: “Vamos ouvir a voz do povo, que tá cansado dessa corrupção!”.
Bom,
se ouvissem de verdade, abririam mão de seus cargos e chamariam por novas
eleições gerais — claro, sem a participação deles, envolvidos em escândalos.
Mas
sem o povo na rua, isso é impossível. Que tal fazermos eles ouvirem?
Texto
por Francisco Toledo, co-fundador e fotojornalista da Agência Democratize
Fonte:
medium
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