Crianças
bebiam a mesma água que o gado na fazenda Bonfim, zona rural de Codó, Estado do
Maranhão, de onde foram resgatadas sete pessoas de condições análogas às de escravo após denúncia de trabalhadores. Retirada de uma lagoa suja, ela era
acondicionada em pequenos potes de barro e consumida sem qualquer tratamento ou
filtragem, a não ser a retirada dos girinos que infestavam o lugar. Os
empregados também tomavam banho nesta lagoa, e, como não havia instalações
sanitárias, utilizavam o mato como banheiro.
Entre
os controladores da propriedade, aparece um deputado estadual. Não é a primeira
que um político é envolvido em casos desse tipo no Brasil. O Ministério do
Trabalho e Emprego já realizou operações semelhantes em fazendas pertencentes
aos deputados federais Inocêncio Oliveira (PR-PE), Beto Mansur (PP-SP), entre
outros. Neste ano, o Supremo Tribunal Federal já aceitou a denúncia contra dois
parlamentares por trabalho análogo ao de escravo: o senador João Ribeiro
(PR-TO) e o deputado federal João Lyra (PSD-AL).
A
libertação aconteceu em março e foi realizada por ação conjunta de
Superintendência Regional do Trabalho e Emprego do Maranhão, Ministério Público
do Trabalho e Polícia Federal. Abaixo, trechos da reportagem de Bianca Pyl, da
Repórter Brasil:
A
propriedade de criação de gado de corte em que foram flagradas condições
degradantes foi atribuída à empresa Líder Agropecuária Ltda, da família
Figueiredo, que tem como sócios o deputado estadual Camilo de Lellis Carneiro
Figueiredo (PSD/MA). Ele afirmou desconhecer as denúncias e disse que a fazenda
é administrada por seu pai, Benedito Francisco da Silveira Figueiredo,
ex-prefeito de Codó, que – por sua vez – nega que seja administrador e alega
que não há trabalhadores na propriedade, “apenas moradores”.
Os
trabalhadores resgatados cuidavam da derrubada do mato para abertura de pasto e
ficavam alojados em barracos feitos com palha. Os abrigos não tinham sequer
proteção lateral, apesar de serem habitados por famílias inteiras, incluindo
crianças. Os resgatados declararam aos auditores fiscais que em noites de chuva
as redes onde dormiam ficavam molhadas e que todos sofriam com o frio. Todos
comiam diariamente café com farinha pela manhã, e arroz com feijão nas demais
refeições. A maioria dos trabalhadores era de mesmo de Codó e estava há cerca
de dois meses na fazenda.
“Todas
as irregularidades e ilegalidades constatadas constituíram total desrespeito a
condições mínimas de dignidade da pessoa humana, distanciando-se da função
social da propriedade e ferindo assim, além dos interesses dos trabalhadores
atingidos, também o interesse público”, explica Carlos Henrique da Silveira
Oliveira, auditor fiscal do trabalho e coordenador da ação. As verbas
rescisórias totalizaram mais de R$ 25 mil.
Por
telefone, o deputado se disse surpreso ao ser informado pela reportagem sobre a
libertação na Fazenda Bonfim. “Isso de trabalho escravo é novidade para mim.
Até agora não tomei conhecimento desta situação, vou entrar em contato agora
para saber o que houve”, disse.
PEC
do Trabalho Escravo – A proposta de emenda constitucional 438/2001, que prevê o
confisco de propriedades onde trabalho escravo for encontrado e sua destinação
à reforma agrária ou ao uso social urbano, deve ir à votação no dia 08 de maio.
Os líderes da Câmara dos Deputados teriam acertado a entrada da matéria na
agenda de votações.
Aprovada
em dois turnos pelo Senado e em primeiro pela Câmara dos Deputados, a PEC está
engavetada desde 2004, por pressão de membros da bancada ruralista e por falta
de articulação por parte do próprio governo federal, que não foi capaz de furar
o “bloqueio” imposto à proposta. Ela faz uma alteração ao artigo da
Constituição que já contempla o confisco de áreas em que são encontradas lavouras
usadas na produção de psicotrópicos. Se considerarmos as versões anteriores do
projeto, a proposta está tramitando no Congresso Nacional desde 1995.
Fonte:
geledes
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