Ontem
conversei com um professor do Iesp (Instituto de Estudos Sociais e Políticos,
um dos mais importantes da América Latina, vinculado à UERJ), que me contou
sobre um seminário ocorrido na instituição, na semana passada, para discutir as
“jornadas de junho” de 2013.
Um
dos professores fez uma abordagem mais crítica, e identificou o embrião,
naquelas manifestações, de um novo tipo de fascismo, o qual, desde então, só
vem crescendo, com apoio de importantes forças políticas, em especial a mídia.
Espero
voltar a este assunto, inclusive entrevistando o professor, mas por enquanto
fiquemos apenas nesta menção.
Recentemente,
a rua onde mora o apresentador Jô Soares foi pichada com uma ameaça de morte:
“JÔ
SOARES, MORRA”.
A
razão: Jô Soares entrevistou a presidenta da república, eleita em outubro
passado com 54 milhões de votos.
Vou
falar de novo: um apresentador foi ameaçado, publicamente, no lugar onde mora,
porque entrevistou a presidenta da república de um país democrático.
Por
mais que o apresentador tente fingir que não dá bola para isso, e leve na
esportiva, é claro que ele deve ter ficado profundamente abalado, assim como
todos os apresentadores de tv do país.
É
um recado do Brasil fascista ao Brasil democrático: “não insista, nós,
fascistas, temos a mídia, temos o dinheiro e queremos o poder!”
Jô
Soares, apesar de ser um apresentador da Globo, não foi defendido pela Globo.
Não
vimos nenhum editorial, nenhuma reportagem, nenhuma cobertura decidida da Globo
contra os ataques fascistas a um de seus apresentadores mais tradicionais.
Ao
contrário, a Globo empurrou Jô Soares para o horário mais vazio da madrugada. A
própria entrevista com Dilma não foi sequer aproveitada devidamente nos
telejornais da emissora.
Por
que a Globo nem nenhum outro canal, nenhum jornalão, fez uma defesa decidida de
Jô Soares contra os ataques fascistas que recebeu, os quais, aliás, não se
limitaram a pichação de sua rua, mas também ofensas e amaeças em massa nas
redes sociais?
Porque
a nossa mídia não iniciou imediatamente uma campanha contra essa escalada
fascista que atinge profundamente a liberdade de expressão no país?
Afinal,
que apresentador de TV terá coragem de entrevistar a presidenta Dilma, uma
presidenta eleita duas vezes consecutivas pelo povo brasileiro?
Simples.
A
mídia não defendeu Jô, porque ela é a matriz do novo fascismo brasileiro.
É
duro dizer isso, mas é a pura verdade.
A
criação da figura de um juiz-justiceiro, idolatrado pela classe média,
ovacionado nos saguões dos aeroportos, e que não respeita direitos de defesa, e
que prende ricos e poderosos, integra uma narrativa clássica do fascismo.
O
fascismo, para se consolidar perante a opinião pública, precisa de figuras e
narrativas que galvanizem a massa.
E
como o fascismo esconde, no fundo, uma ideologia profundamente elitista,
antissocial e antidemocrática, a única maneira de ganhar apoio das massas é
sacrificando cordeiros gordos no altar do populismo penal.
Os
fascistas de outrora faziam isso com judeus ricos.
As
massas aplaudiam, entusiasmadas, a repressão a toda uma classe de ricos
burgueses de ascendência judaica.
Os
fascistas de hoje querem fazer o mesmo com empreiteiros que financiaram a
ascensão do PT.
Não
importa que os mesmos empreiteiros também financiaram, até em maior escala, a
oposição.
É
preciso promover um circo para o populacho.
Enquanto
o populacho segue distraído pelo espetáculo, os representantes do capital fazem
avançar sua pauta no congresso, destruindo leis trabalhistas e vendendo o
patrimônio público para interesses estrangeiros. É o que fazem Eduardo Cunha e
José Serra, faturando em cima do fato da esquerda estar sendo encurralada pelas
agressões crescentes de movimentos fascistas.
O
capital sempre usou o fascismo para promover seus interesses, como quem solta
uma fera em cima de seus adversários.
De
que outro nome chamar a pichação contra Jô Soares?
De
que outro nome chamar essa onda ultrarreacionária e ultraviolenta que corre o
Brasil, culpando menores de idade pela violência urbana, mesmo que as pesquisas
apontem que estes respondem por menos de 0,3% dos crimes contra a vida?
Temos
fingido não ver a ascensão do fascismo no Brasil, como quem se recusa a
acreditar no horror, mas é exatamente isso que está acontecendo. Não é mais um
movimento marginal, periférico, insignificante, de grupos radicais nas redes
sociais.
Não,
é um movimento de massa, que bota milhões de pessoas nas ruas.
As
manifestações de 15 de março e 12 de abril foram positivamente fascistas. Qual
a solução apontada para elas para a crise política?
Intervenção
militar.
Derrubada
do governo eleito.
Essas
bandeiras não eram “minoritárias”. A maioria das pessoas nessas manifestações
apoiaria uma intervenção militar.
O
repórter do Telesur que entrevistou pessoas numa dessas marchas, em Copacabana,
me contou que 9 entre 10 pessoas com que falou defendiam a intervenção militar.
Viam-se
faixas pedindo intervenção militar do início ao fim das manifestações. Os
grupos que defendiam intervenção militar tinham carros de som que ocupavam as
partes centrais dos protestos.
Outra
característica das manifestações fascistas é a mitificação da figura do
juiz-justiceiro, modelo máximo da falsa meritocracia fascista. O líder
não-eleito, o representante histórico da classe dominante.
E
sempre se nota, em toda parte, uma carga de preconceito muito pesada contra o
voto popular.
Tenta-se
fazer o povo se envergonhar de seu próprio voto.
Olha
só o comentário de um internauta lá no Cafezinho:
“NÃO
É CERTO ESCREVER O TEXTO E NÃO ASSINAR. O COMUNISTA ASQUEROSO Q ESCREVEU O
TEXTO DO BLOG TEM Q ASSINAR PARA SABERMOS SEU NOME. ASSIM ELE TBM PODERÁ SER
PERSEGUIDO E PRESO QUANDO OS MILITARES TOMAREM O PODER.”
O
meu texto tinha assinatura, sim, o fascistinha é que, de tão nervoso, não viu.
Esse tipo de manifestação tem crescido de maneira avassaladora, e agora ocupa
as ruas.
Com
apoio da mídia.
A
imprensa democrática teria a obrigação moral e política de iniciar uma grande
campanha contra o avanço do fascismo político na sociedade.
Mas
não o faz, porque ela, a imprensa, não é democrática. A imprensa comercial
brasileira tem o DNA da ditadura e do fascismo. Os atuais jornalões
consolidaram seu poder durante a ditadura.
Beneficiaram-se
da ditadura.
A
ditadura matou seus concorrentes. Matou economicamente, politicamente e até
mesmo fisicamente.
O
Brasil que emerge no pós-ditadura era um sombrio deserto jornalístico, onde
meia dúzia de oligarcas nacionais, coligados a algumas dezenas de oligarcas
regionais, estabelecem um domínio absoluto sobre o mercado de opinião pública.
A
democracia brasileira está órfã na imprensa comercial, que rasgou a sua pose
democrática que adotou durante o final da ditadura e os anos de
redemocratização.
Hoje
ela voltou a ser o que é: uma imprensa fascista, golpista, a serviço da
preservação dos velhos privilégios de sempre, além de submissa aos interesses
do imperialismo americano.
Com
Lula e Dilma, a esquerda conseguiu vencer a batalha do estômago. A fome foi
vencida no país. Agora vem a batalha mais difícil: a dos corações e mentes, que
é onde a direita tem mais poder, por seu domínio sobre os meios de comunicação.
Mais
uma vez, é uma batalha de David contra Golias.
Os
setores sociais que escaparam da lobotomização midiática, que engoliram a
pílula vermelha e decidiram ver a realidade como ela é: uma paisagem sombria e
devastada, repleta de conspirações diárias, na qual praticamente todos,
absolutamente todos, os fatos jornalísticos são distorcidos com finalidades
golpistas, estes setores são minoritários.
Somos
poucos diante da manipulação midiática.
Mas
estamos aumentando. Enquanto a grande mídia perde audiência rapidamente – e
talvez exatamente por isso ela se arrisca mais pela via fascista – a audiência
dos blogs e das redes sociais críticas à mídia, cresce.
O
crescimento da audiência da blogosfera e das redes sociais críticas à mídia
cresce na mesma proporção em que declina a audiência da grande mídia.
Por
isso o desespero.
Por
isso querem dar um golpe rápido!
Em
2005, éramos alguns gatos pingados. Hoje somos um grupo bem maior.
Quantos
somos?
200
mil? 500 mil? 1 milhão? 10 milhões?
A
luta política não se dá entre todos os 140 milhões de eleitores. Ela se dá
antes num universo bem menor, quiçá um terço disso, ou ainda menos, algo entre
10 a 50 milhões de cidadãos que acompanham a política um pouco mais de perto.
Por
isso a grande mídia tem tanto medo dos blogs, e por isso ela faz de tudo para
criminalizá-los ou asfixiá-los financeiramente.
As
campanhas para que nenhuma estatal, órgão público ou empresa privada anuncie
nos blogs é outra vertente do fascismo midiático.
É
como se a mídia repetisse o gesto dos pichadores da rua de Jô Soares: BLOGS,
MORRAM!
Aliás,
não é isso que repetem, em coro, todos os coxinhas, quando comentam nos blogs?
.
Sempre
que festejam suas vitórias políticas, em geral na esteira do avanço das
conspirações midiáticos-judiciais, eles comentam nos blogs: “agora vocês
ficarão desempregados, perderão seus patrocínios”.
É
como se eles não ficassem felizes com suas vitórias sujas, baseadas em delações
forjadas e teorias manipuladas da mídia.
Eles
apenas ficam felizes com a perspectiva da eliminação do adversário, de
preferência numa câmara de gás.
Entretanto,
nunca vencerão completamente. Poderão esmagar nossa economia, fazer sofrer o
povo, submeter o país novamente aos ditames de nações estrangeiras.
Mas
enquanto restar um fio de consciência, dignidade e independência intelectual no
Brasil, haverá sempre resistência.
E
dessa resistência resultará nossa vitória.
Porque
o fascismo é uma força enorme, terrível, uma doença política que incha rapidamente.
Em algum momento, contudo, ele sempre será derrotado.
A
história, neste sentido, se repete.
A
mídia fascista, portanto, que aproveite bem os seus últimos dias em Paris.
Enquanto
vocês festejam os bombardeios diários sobre nossas cidades, a resistência
cresce nos subterrâneos.
O
nosso dia D ainda vai chegar.
Fonte:
tijolaco
1 Comentários
MELHOR MORRER PELO QUE ACREDITAMOS,DO QUE ATROPELADO ESTÚPIDAMENTE!! 👍👊✋
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