Marcello Lavenère e Cláudio Lamachia: O ex e o atual da presidente da Ordem dos Advogados dos Brasil |
por
Conceição Lemes
Nesta
segunda-feira, a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) entra com pedido de
impeachment contra a presidenta Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados.
O
presidente nacional da OAB, Cláudio Lamachia, sustentará que Dilma cometeu
crime de responsabilidade devido às “pedaladas fiscais”.
Para
Juliano Costa Couto, presidente da OAB/DF, além das chamadas pedaladas fiscais,
a delação premiada do senador Delcídio do Amaral e os “grampos” de conversas
entre a presidenta, o ex-presidente Lula e outras autoridades, tornaram
inviável a continuidade do governo.
Marcello
Lavenère, conselheiro da OAB e ex-presidente da entidade, discorda totalmente.
“Não
há condições jurídicas para que se possa iniciar um processo de impeachment
contra a presidenta Dilma”, afirma em entrevista exclusiva ao Viomundo.
O
ex-presidente da OAB tem cacife e conhecimento jurídicos para posicionar-se
assim. Há 23 anos, ele entregou a Ibsen Pinheiro, então presidente da Câmara
dos Deputados, o pedido de impeachment que resultou na saída de Fernando Collor
da Presidência da República.
Ele
mesmo explica:
*
Para que se possa iniciar um processo de impeachment é preciso que a autoridade
tenha cometido um dos crimes capitulados na Constituição.
*
No caso da presidenta Dilma, não é possível apontar nenhum dos comportamentos
criminosos que seriam capazes de levar ao impeachment. Logo, como não existe
prática delituosa da presidenta, não se justifica um processo de abertura de
impeachment.
“Como
não se tem o fundamento jurídico, pede-se o impeachment da presidenta por um
ato político, um ato de divergência político-partidária ou um ato de
divergência de política de governo”, expõe. “Alguém com interesses diversos do
que governo que está aí. Essas pessoas estão utilizando o processo do
impeachment como um golpe político para afastar a presidenta que foi eleita por
54 milhões de brasileiros.”
–
Mas a OAB vai entrar com pedido de impeachment nesta segunda…
“Na
reunião do Conselho da OAB, não houve decisão no sentido de que a Ordem
entraria com pedido de impeachment, como se diz que vai acontecer
segunda-feira”, alerta Lavenère. “O tom do debate foi outro. O de abrir o
processo de impeachment para se poder investigar se a presidenta cometeu crimes
ou não.”
Lavenère
participou da longa reunião dos conselheiros da OAB, realizada em Brasília no
dia 18 de fevereiro.
“Quase
todos se manifestaram sobre a matéria. No final, se decidiu pela aprovação do
pedido para fins de investigação e não de um julgamento do processo. O
julgamento final será no Senado da República”, conta-nos.
“Só
que, infelizmente, depois das discussões, o que a OAB divulgou foi além do que
foi efetivamente decidido”, denuncia. “A de que o presidente da Ordem vai entrar com pedido de impeachment contra a
Dilma.”
–
O senhor está dizendo que o presidente da OAB
está tomando uma posição que não foi a decisão aprovada na reunião dos
conselheiros?!
Lavenère
— Se não foi o presidente, pelo menos a diretoria, porque o presidente não age
sozinho. Penso que eles não estão interpretando corretamente o que foi
decidido.
Eu
acho equivocado o pedido. Ele se desviou da autorização inicial. A OAB não foi
autorizada a entrar individualmente com
o processo de impeachment sem fazer
nenhuma referência ao que já está iniciado na Câmara.
–
Quando se fala em OAB, o que vem à memória de muitos é a OAB dos anos 60,70,
80. Entidade que na época da ditadura defendeu bravamente as garantias
constitucionais e os direitos dos cidadãos. O que aconteceu com a OAB, que hoje
tem uma postura pró-golpe?
Lavenère
– Realmente, a OAB sempre foi muito ciosa das garantias constitucionais, dos
direitos das pessoas,bem diferente do que está acontecendo.
Eu
penso que houve um processo de alteração da consciência política dos advogados.
Antigamente os advogados eram mais politicamente motivados. Mas com a
redemocratização, esse entusiasmo pelas coisas mais políticas, mais coletivas,
cedeu espaço na cabeça dos advogados e hoje eles têm uma mentalidade mais
individualista.
De
modo que essa mentalidade mais individualista, a inserção de boa parte dos
advogados, especialmente dos conselheiros na classe média alta, a influência
dessa campanha moralista, udenista, midiática, como na época do Getúlio,
criaram no espírito dos advogados uma ideia equivocada.
–
Mas a OAB, que deveria assumir uma posição essencialmente jurídica, está
assumindo uma posição golpista?
Lavenère
— Eles não aceitam que se diga que é uma atitude pró-golpe ou golpista.
Só
que a realidade é outra. Muitos advogados estão bastante desgostosos com a
decisão da Ordem em relação ao impeachment. Ela não corresponde à sua biografia
nem ao seu histórico.
A
OAB, na verdade, está sendo censurada por muitos juristas e advogados. Para eles, ela tomou a canoa errada, no
sentido de que esse pedido de impeachment é evidentemente um golpe, uma manobra
política, de quem perdeu a eleição, e não se conforma em ter perdido.
–
Então, a atual postura a OAB dá à sociedade civil o direito de tachá-la de
golpista?
Lavenère
– A OAB não teve o cuidado de se acautelar, para que não pudesse parecer que
ela também estava fazendo uma manobra, fazendo um golpe.
Como
o processo de pedido de impeachment da presidenta Dilma é evidentemente uma
manobra política de quem perdeu a eleição, a
OAB se arriscou a entrar nesse mesmo barco, nessa mesma onda
revanchista.
Infelizmente,
hoje a OAB, com essa posição em relação ao impeachment, dá às pessoas direito
pensarem de que ela é golpista. Ou de que, pelo menos, não se posicionou contra
o golpe, que é o que o resultado desse processo de impeachment.
Em
resumo: a OAB, juntando-se aos golpistas, assumiu o risco de ser equiparada a
eles. É o que está acontecendo.
Fonte:
viomundo
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