Lamachia, presidente da OAB |
por Kiko Nogueira
O
presidente nacional da OAB, Cláudio Lamachia, achou que ninguém interromperia
seu show na segunda, dia 28, quando foi entregar o pedido de impeachment da
entidade a Eduardo Cunha.
Um
tumulto aconteceu entre grupos pró e contra o governo. Gritos de “A verdade é
dura, a OAB apoiou a ditadura”, referindo-se à posição da ordem em 64,
sufocaram o clássico debilóide “A nossa bandeira jamais será vermelha” (espero
sinceramente que você nunca precise ser defendido por uma besta que ache normal
falar isso em 2016).
Lamachia
conseguiu protocolar o documento, mas sem o acompanhamento das câmeras de TV,
como estava no script do seu sonho. No início da tarde, ele havia recebido um
manifesto, assinado por 140 profissionais, contra sua decisão. Segundo ele
mesmo, havia outros dois no mesmo teor.
Apesar
do barulho e da evidente insatisfação de muitos dos membros da OAB, ele acha
que “não há racha nenhum. Imputo isso a uma leviandade.”
“Tivemos
uma votação do plenário do Conselho Federal apreciando um voto que tem mais de
40 folhas e tivemos, ao fim, uma decisão de 26 bancadas contra uma que votou
contrária ao ajuizamento do pedido de impeachment da presidente da República.
Foi uma decisão democrática, e tomada após mais de 10 horas de debate”,
declarou.
Marcello
Lavenère, conselheiro e ex-presidente da OAB, contou outra história para Conceição Lemes, do Viomundo. “Na reunião do Conselho da OAB, não houve decisão
no sentido de que a Ordem entraria com pedido de impeachment”, afirmou.
“O
tom do debate foi outro. O de abrir o processo de impeachment para se poder
investigar se a presidenta cometeu crimes ou não. Quase todos se manifestaram
sobre a matéria. No final, se decidiu pela aprovação do pedido para fins de
investigação e não de um julgamento do processo. O julgamento final será no
Senado da República”.
“Só
que, infelizmente, depois das discussões, o que a OAB divulgou foi além do que
foi efetivamente decidido”, diz Lavenère. Para ele, “o presidente ou a
diretoria” tomou uma atitude que não foi aprovada naquele fórum.
Lamachia,
um gaúcho boa pinta de 45 anos, já tinha conseguido os holofotes ao agasalhar a
condução coercitiva de Lula, a respeito da qual não viu “problema algum”.
“Eu
posso dizer que estou, seguramente como todos os brasileiros, também
estarrecido com esse fato que hoje nós estamos vivenciando”, ironizou,
referindo-se à corrupção no governo.
Preferiu
a demagogia ao invés de se deter sobre a aplicação de uma medida que só poderia
ser utilizada no caso do cidadão deixar de atender a uma intimação judicial.
O
pedido protocolado por Cládio Lamachia é um samba do crioulo doido que foi
esmiuçado pelo advogado Ivo Pugnaloni numa carta aberta.
Mas
chama a atenção a egotrip do causídico — que está, afinal, na raiz de seu mico.
No texto, ele dá a deixa: “Ulysses Guimarães costumava afirmar que missão não
se pede. Aceita-se. Para cumprir com sacrifício, e não proveito”.
Continua:
“Ao ser comunicado que a relatoria do presente feito me fora incumbida, não foi
outra a frase que me veio à mente. Afinal de contas, dentre tantos notáveis que
abrilhantam este colegiado e dele fazem a voz constitucional do cidadão,
atribuir a mim (que tenho de idade o que muitos aqui possuem de cátedra) a
relatoria de um julgamento histórico, poderia parecer algo inusitado”.
Seu
compromisso é se “desincumbir desse mister com honestidade intelectual, isenção
política, fundamentos exclusivamente jurídicos e extremo respeito às
divergências naturais a um tema palpitante, que traz consigo a passionalidade
político-partidária e ideológica comuns a uma discussão que diz respeito ao
futuro da Nação.”
Em
outras palavras, Lamachia aceitou esse fardo docemente constrangido, como se
fosse um gigantesco sacrifício pessoal — quando, na verdade, está aproveitando
uma chance de aparecer e ganhar dividendos com isso.
Se
a ideia é combater a “roubalheira”, faz sentido entregar o papelório a um
sujeito como Eduardo Cunha? Lamachia tomou carona num momento dramático, jogou
gasolina na fogueira, mostrou a divisão na organização que preside e saiu do
Congresso em seu tamanho real — qual seja, diminuto.
“É
claro que a política não é o ofício da bagatela, a pragmática da ninharia. Quem
cuida de coisas pequenas, acaba anão”, disse Ulysses Guimarães. “É terrível o
ofício dos que dependem da opinião pública.”
Veja o vídeo
Fonte:
diariodocentrodomundo
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