WANDERLEY GUILHERME DOS SANTOS
Cientista político, autor de vários livros na área. Seus artigos são publicados originalmente no blog Segunda Opinião
É
falsa a tese de que o Judiciário se sobrepôs ao Executivo e ao Legislativo. A
verdade aterradora é que um grupo de procuradores e juízes-bomba acuou as três
instituições da ordem democrática usando a chantagem de se auto explodir,
instalando, no ato, o estado natural da desordem.
Utilizando
um sistema estalinista de espionagem pública e doméstica, sem exceção de
pessoas, investigadas ou não, conseguiu a adesão de corpos profissionais, agora
sem pudor de promover farsas nazistas de julgamentos prévios e sumários.
Sentenças proferidas antes de exame processual, degradação acusatória como
substanciação das peças da promotoria, leviandades jornalísticas arroladas como
provas irrefutáveis, fatos consumados com apelos à emoção popular, levaram
associações profissionais e empresariais a aderir à ilegalidade, tentativa de
salvar a face da impotência e medo de seus anéis.
Com
técnicas de bombardeio durante vinte e quatro horas por dia, pânico psicológico
e duplo discurso afirmando fazer o oposto do que efetivamente faz, o grupo de
fanáticos já defende sem disfarce a doutrina tirânica de que os fins justificam
os meios, subscrita pelos órgãos de comunicação, crônicos sócios das aventuras
ditatoriais do País.
É
verdadeira a tese de que parte considerável da sociedade brasileira e das
autoridades de que depende a integridade democrática tem se mostrado conivente
com medidas de duvidoso fundamento jurídico, buscando apaziguar as bestas, tal
como os primeiros ministros europeus diante do nazismo e fascismo ascendentes.
As
redes sociais festejam a próxima caça às bruxas do meio artístico, intelectual,
sindical e de profissionais liberais, sem que sejam denunciadas e punidas, sim,
punidas, porque convidam à violência e à destruição. Não é recente a revelação
das sementes fascistas de parte da opinião pública brasileira. O fenômeno é
consubstancial às sociedades capitalistas, e só contido por condições
econômicas favoráveis e instituições democráticas vigilantes. À intolerância do
irracionalismo sucumbem todos os países, se a oportunidade se lhe oferece, como
o provam os péssimos espetáculos contemporâneos das civilizadas sociedades
nórdicas, pós-crise de 2008.
A
dignidade conquistada pelos pobres e miseráveis, negros, mulheres e minorias
discriminadas, não seria esquecida pelo reacionarismo nacional, cultivador de
ressentimento e ódio, semeador de ameaças, à espreita da primeira ocasião para
vingança. Ela veio de contrabando em investigação pertinente e fundamentada,
substituindo personagens e acrescentando ao contingente de comprovados vilões
os responsáveis políticos pelo combate à miséria e à discriminação.
A
sanha vingativa repudia a legalidade e dispensa os ritos jurídicos, certa do
silêncio cúmplice dos liberais brasileiros. Estes, outra vez, consomem a ilusão
de que não é com eles. Pois a eles chegarão todos os excessos cometidos em nome
da purificação política. A vingança conservadora promete cobrar enorme preço
pela ousadia de quem a ignorou. Prometem fogo e prometem sangue. Os liberais
serão corresponsáveis pela insanidade coletiva, programada pelo grupo de
arruaceiros judiciários e inflamada pela imprensa totalitária.
Fonte:
brasil247
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