GLEISI HOFFMANN
Senadora pelo PT do Paraná. Foi
diretora financeira da Itaipu Binacional e Ministra-Chefe da Casa Civil
Prender o Lula, acabar com Lula, é
resolver os problemas do Brasil!
Acabar com a corrupção, afinal ele é o
grande responsável por todos os desvios de recursos e de conduta ao longo da
história brasileira; acabar com os desequilíbrios da economia, pois foi ele
quem permitiu que muita gente, tratada como vagabunda, tivesse uma renda mínima
e se recusasse ao trabalho quase de graça, encarecendo a produção; acabar com
políticas públicas que aumentam gastos e desequilibram as finanças públicas,
protegendo setores, raças e classes, em detrimento do empreendedorismo, da
força de vontade, do empenho de cada um. Lula não pode voltar, apesar de
ninguém ter perdido com ele, mas o fato de uma parcela da população, que nunca
ganhou, ter ganho mais, o faz "persona non grata".
Conheci o Lula na campanha de 1989.
Fazia movimento estudantil naquela época. No primeiro turno apoiei Brizola. No
segundo, fiz campanha para Lula. Não consigo esquecer o debate fatídico com
Collor em que, dentre outras coisas, foi acusado de ter um aparelho de som
"três em um". Como podia? Um operário?! Com certeza era fruto de
algum desvio. Mas não foi só isso. Naquele segundo turno intensificaram-se as
denúncias. Ele era o maior agitador do Brasil, era comunista. Tinha pacto com
Cuba, com a Rússia, com a China. Fecharia as igrejas, era ateu! Ainda mais, ia
dividir as terras, e também a casa das pessoas!
Afe, como o povo brasileiro poderia
eleger alguém assim?! Collor era meio diferente, de um estado periférico, mas
mais confiável, porque era da elite! O resto da história nós conhecemos.
Agora Lula é acusado de corrupto.
Depois de oito anos no poder e de ser, após Getúlio e Kubitscheck, quem ousou
ter um projeto de desenvolvimento nacional, é acusado de se relacionar com
empreiteiros, beber whisky, de querer ter um apartamento na praia, no Guarujá,
de tê- lo visitado, embora não comprado, de utilizar e investir num modesto
sítio de amigos, de ter um bote de alumínio para pescar no pequeno lago do
sítio. Não pode, um operário, um pobre, que chegou à presidência?! Quem pensa
que é? É praticamente da família, mas não pode sair do quartinho dos fundos,
nem comer o sorvete gourmet, tal qual o personagem de Regina Casé, em "Que
horas ela volta?!".
Não estou santificando Lula, só acho
que os pecados que ele cometeu ou comete não podem ter valor maior na bolsa
celestial. Lembro do Evangelho de Marcos: "Aquele que estiver sem pecado
atire-lhe a primeira pedra", disse Jesus. Esta máxima é a verdade! Não há
quem dela não necessite para si mesmo. Desde os monopólios financeiros,
econômicos, de comunicação até o integrante da clássica classe média
brasileira.
Como disse o professor Aldo
Fornazieri, em artigo que usei na tribuna do Senado, Lula colocou na ordem do
dia a questão da desigualdade, da fome e da exclusão. Buscou justiça e promoção
do bem comum. Nenhum outro político e nenhum outro partido fizeram, de forma
igual ou de maior alcance, a promoção do bem comum como Lula e seu governo o
fizeram.
Nesse sentido, evocando a filosofia
hegeliana, do bem comum, Lula e o PT promoveram a ética mais do que os outros
políticos e mais do que os outros partidos.
Assim, se queremos discutir moralidade
e ética, vamos discutir neste terreno, vamos discutir sobre os bens e feitos
comuns de outros governantes. Ninguém quer que não se investigue, mas apenas
que as investigações aconteçam para todos, não apenas para o PT ou para o
presidente Lula. Para a história ficará claro a condição de vítima de Lula, de
uma ação persecutória conduzidas por adversários, autoridades e setores de
mídia.
Sem inocentar culpados, aceitar essa
perseguição como um dado da realidade, sem questioná-la moral e politicamente,
é uma forma de aceitar a injustiça, pois todos devem ser iguais perante a Lei.
Fonte: brasil247
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