O senhor Jair Bolsonaro, aquele que você ouviu dizer, durante a campanha, que era preciso devolver ao professor a autoridade em sala de aula, acaba de esbofetear o magistério e tirar dos professores o pouco de autoridade que eles tentam manter, ainda, ao referendar, em entrevista à Bandeirantes, a ideia estapafúrdia e policialesca da deputada estadual eleita em Santa Catarina pelo PSL Ana Caroline Campagnolo para que os estudantes gravem as aulas, para supostamente registrarem “episódios de doutrinação”.
De agora em diante, em qualquer classe, com a bênção presidencial, qualquer estudante (ou até a turma inteira, por que não?) está autorizada a levantar o celular e apontar para o professor ou professora que estiver falando de qualquer coisa. Liberados, portanto, para não prestar atenção ao que está sendo dito, porque não devem ser muitas as pessoas que conseguem gravar e manterem-se atentas ao que se diz.
Se o professor ou professora quiser repreendê-lo, poderá alegar que “o Presidente autorizou” e que estava fazendo isso por que o mestre estava tentando doutriná-lo, mesmo que a aula seja sobre “produtos notáveis”. Ou se valer de um trecho, apenas, do que é dito para simular “propaganda” esquerdista e usar isso como ferramenta de intimidação e vingança por notas baixas.
O assunto é grave e mereceu, em Portugal, regulamentação específica no Estatuto do Aluno e Ética Escolar, que estabelece os direitos e os deveres do aluno dos ensinos básico e secundário, lei editada em 2012.
(…)Art.10:
r) Não utilizar quaisquer equipamentos tecnológicos, designadamente, telemóveis, equipamentos, programas ou aplicações informáticas, nos locais onde decorram aulas ou outras atividades formativas ou reuniões de órgãos ou estruturas da escola em que participe, exceto quando a utilização de qualquer dos meios referidos esteja diretamente relacionada com as atividades a desenvolver e seja expressamente autorizada pelo professor ou pelo responsável [pelos] trabalhos ou atividades em curso;
s) Não captar sons ou imagens, designadamente, de atividades letivas e não letivas, sem autorização prévia dos professores, dos responsáveis pela direção da escola ou supervisão dos trabalhos ou atividades em curso, bem como, quando for o caso, de qualquer membro da comunidade escolar ou educativa cuja imagem possa, ainda que involuntariamente, ficar registada;
t) Não difundir, na escola ou fora dela, nomeadamente, via Internet ou através de outros meios de comunicação, sons ou imagens captados nos momentos letivos e não letivos, sem autorização do diretor da escola;
Se, em lugar de estimular o “dedurismo”, o sr. Bolsonaro se interessasse em saber como as coisas funcionam em sistemas educacionais sérios e de alto rendimento, como o português, não diria asneiras deste tipo e, sobretudo, não comprometeria ainda mais a indisciplina e o esvaziamento da autoridade do professor.
Ou, se não quiser ter muito trabalho, basta perguntar aos seus tutores fardados se nos colégios militares isso seria permitido.
Mas, ao que parece, aqui basta a tese idiota de que “não tem problema se você não estiver fazendo algo errado” e, claro, o papai “bombado” e a mamãe “preparada” do anjinho que quiser usar o celular como intimidação ao professor vão logo sair em defesa do ‘valente’ dedo-duro.
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