Aécio Neves e senadores (Imagem: Pragmatismo Político) |
Há um mês, antes da divulgação dos vídeos e dos áudios que comprovaram os crimes de Aécio Neves, o tucano discursou na tribuna do Senado para se defender de delações e de uma reportagem da Veja. Na época, 13 senadores se solidarizaram e garantiram que ele era "íntegro e honesto"
Fábio Góis, Congresso em Foco
Entre os rituais do Senado – instituição inspirada na Câmara dos Lordes da Inglaterra e tida como a expressão máxima do Legislativo brasileiro – talvez o mais teatral deles seja os apartes em plenário como oferenda a discursos de senadores sob graves denúncias de corrupção. Só as acusações com potencial destrutivo considerável merecem ser levadas ao púlpito em que já discursaram Rui Barbosa, Darcy Ribeiro, Juscelino Kubitschek, Artur da Távola. Mas, ultimamente, não tem sido bom negócio tecer loas a quem tenta se justificar na tribuna, geralmente com discursos bem pensados e escritos, para dias depois vir a ser desmascarado pelos fatos.
Aconteceu com Demóstenes Torres. Representante do DEM no Senado entre 2003 e junho de 2012, quando foi cassado, o ex-senador era um procurador respeitado no estado de Goiás e representava a mão pesada da lei até virem à tona suas relações nada republicanas com Carlinhos Cachoeira, contraventor conhecido da mesma Justiça que Demóstenes dizia defender.
Na tentativa de se defender das acusações de que atuava no Congresso para, entre outras coisas, defender os interesses do amigo bicheiro, Demóstenes recebeu em plenário nada menos que 44 apartes calorosos de senadores até então confiantes em sua inocência – entre os quais parlamentares respeitados como Eduardo Suplicy (PT-SP), Cristovam Buarque (na época, no PDT do Distrito Federal) e Pedro Simon (PMDB-RS). Deu no que deu: o parlamentar goiano não só foi cassado, mas posteriormente condenado, em 24 de abril de 2013, à pena de aposentadoria compulsória com vencimentos mensais de R$ 22 mil – para muitos, mais um prêmio do que uma sentença judicial. Ele ainda tenta voltar à ativa no Ministério Público de Goiás.
Há menos de um mês, em 4 de abril, o roteiro se repetiu. Fustigado por diversas acusações de corrupção e alvo de seis inquéritos no STF, o senador afastado Aécio Neves (PSDB-MG) convocou seus pares para o discurso de defesa e a conhecida rodada de apartes de solidariedade. Na ocasião, contestou com veemência reportagem da revista Veja sobre pagamento de propina da Odebrecht por meio de uma conta em Nova York. Aqui neste compêndio de apartes, o objetivo deste site não é entrar no mérito da matéria jornalística, mas lançar luzes sobre o espírito de corpo que une as excelências.
Campeão de citações de delatores e investigações na Operação Lava Jato, Aécio foi à tribuna do plenário e, a plenos pulmões, anunciou que iria à Justiça “punir os culpados” pelo vazamento de informações sigilosas. “Mostrem o banco, mostrem a conta, e essa farsa ficará desmascarada de forma definitiva!”, desafiou, diante de colegas prontos para aparteá-lo no que já é uma sessão histórica de bravatas e poses para as lentes do Senado.
Reveja o discurso no vídeo:
Resultado: o discurso pela moralidade ruiu definitivamente quando Joesley Batista, dono do Grupo JBS e um dos mais temidos delatores da Lava Jato, gravou conversa em que o tucano lhe pede secretamente R$ 2 milhões. Mas não era um inocente pedido de empréstimo, segundo investigadores da força-tarefa, mas uma trama de corrupção que, enfim descoberta, terminaria por levar a própria irmã e mentora, Andréa Neves, além de um primo, para trás das grades em 18 de maio, onde estão até hoje. O próprio tucano está sob ameaça de prisão, à espera de julgamento do STF a partir de pedido formulado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot.
Como este site fez, em 2012, por ocasião do famigerado discurso de Demóstenes, confira abaixo a uma seleção de frases de todos os senadores que defenderam Aécio Neves em plenário. O primeiro foi Paulo Bauer (PSDB-SC), atualmente líder do partido no Senado, que pediu aparte em meio a aplausos para o colega tucano.
A cena durou pouco mais de uma hora e adentrou o horário da ordem do dia, quando são votadas matérias de interesse público em plenário. Aécio discursou entre 16h12 e 16h30 daquela tarde de terça-feira. São 13 senadores a desfilar seu apreço pelo senador mineiro – seis do PSDB, três do PMDB, dois do PSB, um do DEM e um do PPS. Do fim de sua fala ao encerramentos dos apartes (listados abaixo em ordem cronológica), pouco depois das 17h20, transcorreu-se quase uma hora de loas. Vamos a elas.
Paulo Bauer (PSDB-SC)
“Vossa excelência, para nós do PSDB, é um político honrado, é um líder nato. E, acima de tudo, um grande companheiro, que merece nossa solidariedade, nosso apoio. Vai continuar tendo o nosso apreço, e acima de tudo, a nossa fidelidade à sua liderança aqui, no Senado, e no nosso partido”
Tasso Jereissati (PSDB-CE)
“Compartilho da sua indignação, porque, tenho certeza absoluta, para homens sérios, homens de bem, não somente políticos, mas políticos principalmente, não existe nada mais sério, nenhuma acusação, nenhuma derrota mais vil do que ver a sua honra, a sua reputação sendo tentada a ser manchada.”
Antônio Anastasia (PSDB-MG)
“A covardia não tem tamanho. Nós, que assistimos ao vídeo dela [Andréa Neves] em especial, tocado de uma emoção genuína, aquilo doeu fundo no nosso coração e na nossa alma. O que é a injustiça! O que é a maldade! A que ponto a maldade humana chegou para fazer isso!”
Flexa Ribeiro (PSDB-PA)
“Eu diria que sua ida à tribuna para fazer o pronunciamento que fez, para quem o conhece, não seria necessária. Mas vossa excelência vem à tribuna e fala para o Brasil, demonstrando que construiu uma vida de retidão, com caráter, ao longo de toda a sua caminhada. E, através de um momento, de um vazamento seletivo, vem e coloca essa situação que o Brasil inteiro, de forma atônita, vê acontecer ao longo desse tempo todo.”
José Agripino (DEM-RN)
“O Aécio Neves cidadão, de hábitos moderados, não tem nada de hábito de homem rico, nem de homem que convive com a opulência, nada disso. Eu digo isso com o sentimento de quem precisa prestar um testemunho no momento de dificuldade que vossa excelência vive, por uma acusação que eu reputo injusta. Um depoimento de uma pessoa que convive há seis anos e conhece o seu dia a dia, que vai à sua casa – você vai à minha casa, eu conheço os seus hábitos, sei qual é o carro que você usa, sei qual é o vinho que você bebe. Não existe nada que o coloque no patamar dos opulentos, dos que convivem com a improbidade. Nada.”
Raimundo Lira (PMDB-PB)
“Eu estava saindo domingo [2/abr], em torno de 11h30 da manhã, para a missa, com a minha esposa, Gitana, e notei que ela estava lacrimejando os olhos. E eu disse: ‘Gigi, o que é que está acontecendo com você’? E ela disse: ‘Acabei de ver e ouvir o vídeo de Andréa, irmã de Aécio Neves, e fiquei convencida de que ele foi vítima de uma injustiça’ […] aceite o abraço, a solidariedade e o reconhecimento a vossa excelência, de toda minha família.”
Fernando Bezerra Coelho (PSB-PE)
“Conhecendo a trajetória de vossa excelência, só poderia responder a esse ataque falando da sua vida, das suas raízes. Vossa excelência não é um político qualquer, tem berço, formação, serviços prestados ao seu Estado e ao Brasil. […] Eu não poderia me furtar de trazer essa palavra de solidariedade, de apreço, de reconhecimento, e dizer a vossa excelência: cabeça erguida, peito aberto, para enfrentar as mentiras, as meias verdades, mas também para se afirmar como político, para defender a sua biografia, os seus valores e para que a política não se apequene no nosso país.”
Ataídes Oliveira (PSDB-TO)
“Acredito que, depois dessa tempestade, depois dessa dor toda que vossa excelência está passando e a sua família – eu também vi o vídeo da sua irmã Andréa –, depois de toda essa tempestade, virá a bonança, e o joio vai ser separado do trigo.”
Garibaldi Alves Filho (PMDB-RN)
“O que vossa excelência está enfrentando é, certamente, uma perseguição daqueles que não querem vê-lo, novamente, disputando os cargos que sempre disputou – principalmente o mais elevado deles, que foi o da Presidência da República. Fique vossa excelência certo de que esses vazamentos assim feitos, da maneira como o são, não irão denegrir a sua honra, a sua dignidade e o que vossa excelência representa na vida política brasileira.”
Cristovam Buarque (PPS-DF)
“Conversando com o senador [Waldemir] Moka [PMDB-MS], aqui ao lado, ele estava dizendo da firmeza como o Aécio traz o assunto – ele demonstra firmeza, que, portanto, é um indicador que tranquiliza seus pares. Eu o felicito por ter trazido o assunto e pela firmeza com que falou e concordo que é preciso abrir tudo, ter transparência, para que não fiquemos todos nós sob essa permanente suspeição.”
Cássio Cunha Lima (PSDB-PB)
“Eu quero apenas destacar o essencial: não existe conta em Nova York e não existe sequer a delação. Veja a que ponto nós chegamos! A resposta enfática que vossa excelência traz da tribuna do Senado é negando, de forma cabal, peremptória e convincente, a existência da conta e, mais do que isso, a inexistência de delação fazendo referência a essa conta, que não é trazida no bojo da matéria. O advogado do suposto delator faz referência clara a esse aspecto.”
Antônio Carlos Valadares (PSB-SE)
“Eu quero dizer que votei em vossa excelência para presidente da República. E vossa excelência sabe os adversários cruentos que eu tenho em Sergipe e o quanto se aproveitam desse episódio para incriminá-lo. Mas eu tenho certeza absoluta de que, com vossa excelência levando as provas da verdade contra as acusações que lhe imputam, a Justiça haverá de lhe dar o devido valor, como nós que participamos do Senado e que conhecemos sua família.”
Eunício de Oliveira (PMDB-CE)
“Senador Aécio Neves, eu conheço vossa excelência e tenho convicção de que vossa excelência não viria a essa tribuna se não tivesse certeza da injustiça que lhe foi cometida. Então, tenha também a nossa solidariedade.”
Fonte: pragmatismopolitico
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