Danilo Otoni - Voltemos a 2014, nos dias pós-Copa do Mundo, numa época em que a convivência entre opostos ainda era pacífica. Mais precisamente em Minas Gerais, meu estado.
Eleições batiam à porta. O mesmo período em que o PT estava no poder no Brasil, o PSDB ficara em Minas e os dois disputavam ambos novamente. E assim surgiam os "Zé Apartidários", que pregavam mudança, mas apenas de um lado. Era hilário ler os seus argumentos.
Eu tinha (e tenho) lado. Compactuava com as melhorias do governo Lula/Dilma e, assustado, via Minas Gerais se transformar num feudo policiado pela família Neves. Só faltava o arame farpado pra cercar nossas fronteiras. Os mesmos grupos jogavam, os mesmos grupos ganhavam, os mesmos grupos mandavam e, pasmem, os mesmos grupos se fiscalizavam. Mas numa campanha percorrida em raça e suor da militância, Fernando Pimentel varre o tucanato pra debaixo do tapete. Delícia!
Vem 2015 e o aporrinhamento da direita derrotada, contando com o apoio dos maiores veículos de comunicação e com o imediatismo bobo do povo brasileiro. De uma hora pra outra todas as conquistas sociais viraram sinônimo de moral torpe, todos os governantes de esquerda eram expostos ao opróbrio, e nós, militantes da utopia, éramos rebaixados aos mais vis xingamentos. Dor!
Mas eu me abraçava ao meu estado. Via as manifestações do pato amarelo em forma de micareta na televisão e me resignava com a aparição de champanhes e roupas de etiquetas caras em cada clique fotográfico. Era o que nos governaria, com um golpe mais bon vivant que o planeta Terra já assistiu. A ilegitimidade senhoreava, a justiça soçobrava e o povo, que embalara nos agitos dos domingos de manhã, mais uma vez, era lesado com a anarquia do desgoverno Temer. Mas ainda existe Minas? Podem perguntar. Não há mais. O mesmo passo dado em âmbito nacional é ensaiado por estas bandas. Um vice sedento por um poder que não o pertence, uns aloprados alucinados por cadeiras que não lhes cabem. Mas, ao lutar para que o futuro não repita o passado, fui alijado, tratado como um louco, enganado como um bobo, devorado pelos lobos. Derrotado, sim. Disse adeus e fui embora. Dores!
Só que eu olho e vejo o (verdadeiro) povo que luta, sonha, sofre, vive e vence. E me dedico a eles, àqueles que fazem da terra seu lar e que lutam pelo chão que é seu. Enfim, eu não posso aceitar sossegado qualquer sacanagem ser coisa normal. Pois não há nada a temer senão o correr da luta. Delícias!
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Danilo Otoni
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