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O Brasil não tem mais política internacional



Uma política internacional supõe uma visão do mundo e projeta o lugar que o país quer ocupar no mundo. Santiago Dantas tinha formulado uma política internacional para o Brasil. A ditadura militar tinha formulado outra. Esta se inseria no mundo da guerra fria. Desde que esta terminou, a direita brasileira não conseguiu formular uma política internacional. A do governo FHC foi a da simples subordinação aos interesses dos EUA, sem nenhuma definição específica do papel do Brasil.
A partir do governo Lula, o Brasil voltou a ter uma política externa soberana, a partir de uma visão dos grandes conflitos mundiais, da visão do Sul do mundo, da possível emergência de um mundo multipolar. O governo do golpe não tem política internacional, por isso colocou no cargo de ministro de Relações Exteriores dois conspícuos e irrelevantes representantes do finado mundo da guerra fria. Tanto Serra como quem o sucede, Aloysio Nunes, projetam no campo internacional, de forma mecânica, os enfrentamentos da direita dentro do Brasil. Atacam governos progressistas com a mesma fúria com que atacam o PT, os sindicatos, os opositores ao golpe.
Ainda mais depois do Brexit e do triunfo de Donald Trump, essa postura ficou ainda mais anacrônica. Quem representa o quê? Trump seria "o partido republicano de porre", segundo o pitbull, que aparentemente o mandaria para aquele lugar, se cruzasse com ele. Órfãos de Hillary Clinton, não sabem para onde correr sem um governo norte-americano como aquele a que estavam acostumados a tirar os sapatos. Eles nem sabem dessa disposição do governo golpista. Mesmo tendo falado ou recebido a mais de 30 chefes de Estado, Trump mandou seu vice falar com Temer – ligou para o Jaburu, provavelmente -, de vice a vice.
Que visão de mundo supõe essa política dos golpistas? O da guerra fria, o da diabolização da Rússia e da China, o da exaltação do destino manifesto dos EUA, o da hostilidade a Cuba e à Venezuela, o do papel de aliado privilegiado, mas absolutamente subalterno do Brasil.
E se esse mundo não existisse mais? E se os EUA retornassem a uma política protecionista? E se as duas cabeças do bloco imperialista desde há mais de um século se distanciassem da globalização neoliberal e renunciassem a seguir dando condução a esse bloco, como ele existiu até agora?
Seria pedir muito aos tucanos que, derrotados sucessivamente nas eleições, de repente invadem o Itamaraty e colocam em prática não uma política, mas uma postura de hostilidade a inimigos externos, destruindo tudo o que foi construído ao longo deste século. Deixando o Brasil na situação mais ridícula que ele jamais ocupou no plano internacional.
Não ha política internacional do governo golpista, porque ele só tem uma visão de ajuste fiscal no plano interno, que corresponderia, no plano internacional, às desastradas políticas de austeridade da União Europeia, que perpetuam a recessão econômica desde 2008, sem prazo para terminar. Um acoplamento à politica do governo de Mauricio Macri que, igual que o de MT, não tem nenhum índice positivo a apresentar. Porque as políticas de ajuste fiscal fracassaram no mundo todo. Em nenhum lugar sua aplicação levou à retomada prometida do crescimento.
Esse vazio, típico de um governo aventureiro, que assaltou o poder com os políticos mais corruptos da história do país, justamente quando as transformações no mundo requerem uma nova política internacional, que aponte para o surgimento de um novo mundo multipolar, que começa a surgir.
Um mundo que pode ter na América Latina de novo um grande protagonista, com as eleições de 2018, podendo recolocar o Brasil nessa nova dinâmica, ter o México e a Argentina somando-se a ela. Mas para isso é preciso compreender o mundo realmente existente, mais além das mentalidades de focinheira que se apropriaram do Itamaraty pela via do golpe.
Fonte: brasil247

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