Ex-executivos da Odebrecht detalham esquema de caixa 2 de partidos
Além das denúncias contra chapa Dilma-Temer, um dos executivo falou também de doações a pedido de Aécio Neves.
G1 - Dois executivos da Odebrecht prestaram depoimento nesta quinta-feira (2) ao TSE, no Rio, e falaram de um esquema de caixa dois para abastecer a campanha de 2014. O tribunal investiga o abuso de poder econômico na chapa Dilma-Temer. E um dos executivos falou também de doações a pedido de Aécio Neves.
As testemunhas entraram pela garagem e os advogados chegaram em silêncio para os depoimentos realizados a portas fechadas. As instalações do Tribunal Regional Federal, no Rio, foram cedidas para a audiência do Tribunal Superior Eleitoral.
Benedito Barbosa da Silva Junior e Fernando Reis foram ouvidos como testemunhas no processo que tramita no TSE, a pedido do PSDB, para apurar suposto abuso de poder político e econômico da chapa Dilma-Temer, na eleição de 2014. O ministro do TSE, Herman Benjamin, conduziu os depoimentos.
Os depoimentos de Fernando Reis e de Benedito Barbosa duraram pouco mais de três horas. De acordo com advogados, eles confirmaram ao ministro informações contidas nos acordos de delação premiada feitos com a operação Lava Jato.
Primeiro falou Benedito Junior, que era presidente da Odebrecht Infraestrutura e foi preso temporariamente em fevereiro do ano passado, na 23ª fase da Lava Jato, e depois liberado pela Justiça. Para os investigadores, ele era a pessoa que Marcelo Odebrecht acionava para tratar de compromissos políticos.
A Polícia Federal encontrou na casa dele planilhas que mostravam doações feitas pela Odebrecht a mais de 200 políticos de 24 partidos.
Benedito Junior disse que ficou definido em reunião com Marcelo Odebrecht e os executivos da companhia que o grupo ia contribuir com R$ 200 milhões para todas as campanhas em 2014 - inclusive a presidencial. Era o valor limite que a Odebrecht tinha para dar em contribuições.
Dos 200 milhões, segundo Benedito, 120 milhões de reais foram por dentro, em doações oficiais; 40 milhões via cervejaria Itaipava - o que eles chamam de doação por terceiros -; e 40 milhões foram por fora.
Benedito disse que não sabe quanto foi para a campanha presidencial e que não tinha todo o controle para quem foi destinado o dinheiro. Mas que os R$ 200 milhões foram efetivamente pagos.
Benedito Junior disse também que o então candidato à presidência pelo PSDB, Aécio Neves, pediu doações em 2014 e que a Odebretch pagou R$ 9 milhões por meio de caixa dois. R$ 6 milhões foram para apoiar três candidatos: Antonio Anastasia, que disputou o Senado pelo PSDB, Pimenta da Veiga, candidato tucano ao governo de Minas Gerais, e Dimas Fabiano Toledo, então candidato do PP à Câmara dos Deputados. Os outros R$ 3 milhões foram pagos a Paulo Vasconcellos, o marqueteiro da campanha de Aécio.
Em nota, o PSDB informou que "o senador Aécio Neves solicitou, como dirigente partidário, apoio para inúmeros candidatos de Minas e do Brasil a diversos empresários, sempre de acordo com a lei". A nota diz também que "o empresário Marcelo Odebrecht, que dirigia a empresa, declarou, em depoimento ao TSE, que todas as doações feitas à campanha presidencial do senador Aécio Neves em 2014 foram oficiais".
O TSE também ouviu Fernando Reis, alvo de mandado de condução coercitiva na 26ª fase da Lava Jato, em março do ano passado. Ele era presidente da Odebrecht Ambiental. Segundo a Polícia Federal, foi citado em troca de mensagens sobre a entrega de valores em espécie.
Os advogados de Dilma e Temer alegaram sigilo do processo para não revelar detalhes dos depoimentos e negaram irregularidades na arrecadação da campanha eleitoral.
"Não houve nenhuma propina na campanha de Dilma e Temer e, principalmente, vinda da Odebrecht. Tudo aquilo que for trazido ao processo e for falso e errado, nós vamos apontar", diz Flávio Caetano, advogado de Dilma Roussef.
"O conteúdo do que disseram aqui, quanto da delação, ainda é sigiloso, então até que isso seja revelado, infelizmente, a gente não tem como contribuir mais", afirma Gustavo Guedes, advogado de Michel Temer.
No depoimento de quarta-feira (1º), Marcelo Odebrecht disse que Aécio pediu R$ 15 milhões para a campanha de 2014 e que sugeriu que o dinheiro fosse entregue a aliados. Marcelo não esclareceu se seria doação oficial ou caixa dois e disse que não sabe se o pagamento foi feito. O PSDB afirmou que Marcelo Odebrecht foi explícito ao afirmar que toda a doação para a campanha de Aécio Neves foi feita de forma oficial.
A Odebrecht não informou se Fernando Reis e Benedito Junior ainda são funcionários. Declarou que está em curso o processo de desligamento de colaboradores e definição das novas funções daqueles que permanecem.
A assessoria de Anastasia afirmou que ele nunca tratou com qualquer pessoa ou empresa sobre assunto ilícito.
O advogado de Pimenta da Veiga não comentou.
A defesa de Dimas disse que ele jamais esteve na Odebrecht e não conhece nenhum funcionário da empresa.
Em nota, a cervejaria Itaipava declarou que "todas as doações feitas pelo Grupo Petrópolis seguiram estritamente a legislação eleitoral e estão devidamente registradas".
Não conseguimos contato com o marqueteiro Paulo Vasconcellos.
0 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam a opinião do BVO - Blog Verdades Ocultas. Se achar algo que viole os termos de uso, denuncie. Leia os termos de uso do Blog Verdades Ocultas para saber o que é impróprio ou ilegal.