Ofício nº 581/2016/GR/UNIR
Porto Velho, 31 de outubro de 2016.
A Sua Excelência o Senhor Raphael Luís Pereira Bevilaqua Procuradora da República Ministério
Público Federal
Rua José Camacho, 3307, Embratel, Porto Velho –
RO
Assunto:
PR-RO-00024749/2016.
Referência:
Recomendação
14/2016/MPF/PR-RO/GABPRDC.
Senhor Procurador,
Com nossos
cumprimentos, em atenção à Recomendação 14/2016/MPF/PR- RO/GABPRDC informamos
que foi acatada a primeira Recomendação, no sentido de instaurar o procedimento
administrativo interno, sob a forma de Processo Administrativo Disciplinar –
PAD, tendo sido instaurada Comissão Processante por meio da Portaria nº
984/2016/GR/UNIR, de 31/10/2016, que terá sessenta dias para concluir seus
trabalhos. Preventivamente, também foi providenciado o afastamento do servidor
das suas atividades docentes, até a conclusão dos trabalhos processantes, por
meio da Portaria n° 985/2016/GR/UNIR, de 31/10/2016.
O segundo item
da Recomendação no sentido de que a Universidade Federal de Rondônia (UNIR)
promova amplo debate em toda comunidade acadêmica sobre a questão da misoginia,
homofobia e os limites da liberdade de expressão com relação aos discursos de
ódio, bem como a promover oficinas com os seus docentes sobre esses temas, não
poderá ser atendida no prazo fixado de cinco dias úteis, tanto por razões
teóricas, quanto práticas.
Do ponto de
vista teórico a manifestação do “discurso de ódio” não é primazia da UNIR, nem
do Brasil. Observa-se na contemporaneidade em praticamente todos os países um
antagonismo virulento entre esquerda e direita e entre conservadores e
liberais. Mesmo as democracias mais consolidadas, como a americana e as
europeias, encontram-se em uma encruzilhada
teórico-ideológica, resultante do esfacelamento das diferentes ideologias e do estado de bem-estar social.
O que a
princípio era um debate no plano das ideias transbordou para o senso comum e
para posições pessoais, apequenando o debate que deveria ser de ordem
acadêmica. As pessoas se sentem ameaçadas ora pelos imigrantes pobres de países
em guerra que buscam melhores condições de vida nos países desenvolvidos, ora
pelos “diferentes” de sua própria população, provocando xenofobia,
etnocentrismo e exclusão. Os novos líderes políticos captam e amplificam estes
sentimentos nas suas plataformas eleitorais.
Não é por falta
de esforço institucional que aqui ou acola irromperá manifestações dessa
natureza. O processo social é dinâmico e envolvente. A UNIR recepciona em seus
diversos cursos a temática dos direitos humanos como parte integrante dos seus
respectivos cursos, quer seja como temática de forma transversal, quer seja
como conteúdo especifico. Cite-se ainda a oferta de cursos específicos de
especialização como: SEGURANÇA PÚBLICA E DIREITOS HUMANOS ou GÊNERO E
DIVERSIDADE NA ESCOLA.
Entretanto, por mais que se invista do ponto de
vista acadêmico, a construção de uma nação é um processo cultural permanente,
complexo e multifacetado que transcende os bancos escolares. A locomotiva desse
processo são os movimentos sociais quer sejam transformadores do status quo, quer sejam conservadores.
Do ponto de
vista prático trata-se de um episódio isolado que não representa esta IFES.
Antes dele não há registro de intolerância, misoginia ou homofobia no ambiente
universitário. A UNIR vive o constante exercício de buscar ser uma Universidade
plural e democrática, sem cerceamento à livre expressão das ideias e opiniões,
permitindo a convivência civilizada entre as diferentes orientações religiosas,
sexuais e políticas.
Este episódio
isolado ressalte-se, não pode ser tomado como paradigma definidor do ambiente
cotidiano da Universidade. Desnecessário, portanto, que se invista tempo e
energia em debates e oficinas com docentes. O repúdio quase unânime colhido
pelo episódio nas redes sociais demonstra a vitalidade do pensamento acadêmico.
A diversidade, como a sustentabilidade, pluralidade cultural, orientação
sexual, ética, direitos humanos, são temas transversais tratados no cotidiano
da Instituição, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais.
Respeitosamente,
reafirmamos que a UNIR é suficientemente capaz de entender e providenciar as
ações que julgar mais eficazes para que não se repita este episódio, sem tolher
a liberdade de cátedra ou homogeneizar o pensamento dos seus docentes. Isto
significa que mesmo opiniões “erradas” devem ser toleradas, pois dão a
oportunidade para que, na contestação, o debate público seja enriquecido.
Por outro lado,
mesmo promovendo debates e oficinas com docentes a presença seria optativa.
Ainda que a administração conte com meios e maneiras de obrigar a presença em
“eventos educativos”, nada indica que as pessoas modifiquem suas opiniões. A
crença de que o conhecimento modifica o comportamento, embora desejável pelos
iluministas, é falsa. Além disso, as pessoas comparecem apenas às reuniões em
que o grupo reafirma e compartilha suas próprias convicções. Assim, prega-se
aos convertidos, inutilizando o esforço pedagógico.
Diante disso, a
UNIR acata a primeira recomendação, instaurando os procedimentos
administrativos internos conforme documentos em anexo. Mas defende a sua autonomia enquanto Instituição de
Educação Superior para o não atendimento a segunda recomendação pelas razões
expostas acima.
Atenciosamente,
Prof. Dr. Ari Miguel Teixeira Ott
Reitor Pro Tempore
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