Encontro do Rio do Carmo e do Rio Gualaxo do Norte, ainda com rejeito da barragem da mineradora Samarco |
Do estadão
Desabrigados
pela lama enfrentam preconceito e desconfiança em Mariana
Crianças de distritos
devastados pelo rompimento da barragem da Samarco são chamadas de ‘pé de lama’
na escola, enquanto seus pais são vistos como ‘aproveitadores’ por quem
dependia da mineração para viver. Segundo os atingidos, a discriminação é
‘diária’
MARIANA - Seus filhos são chamados de “pés de lama” na escola. Quando fazem compras, recebem olhares de discriminação ao apresentar seus cartões de débito, fornecidos pela Samarco. Tiveram de ler no principal jornal local que eram “aproveitadores” e exploravam a mineradora. Passado um ano do dia em que tiveram de correr pela vida, deixando para trás todos os bens, os moradores do subdistrito de Bento Rodrigues, em Mariana, Minas Gerais, são discriminados como se fossem eles a causa da tragédia que atingiu o município.
O Estado começa neste domingo, 30, uma série especial sobre o primeiro ano da tragédia causada pelo rompimento, em 5 de novembro de 2015, da Barragem de Fundão, da Samarco, empresa controlada pela Vale e pela BHP Billinton, que deixou desabrigadas 1.500 pessoas – 236 famílias de Bento, 108 de Paracatu de Baixo e 8 de Gesteira, em Barra Longa –, além de prejudicar a economia e o abastecimento de água de 27 cidades de Minas Gerais e do Espírito Santo. Ainda hoje, a lama da barragem continua a tingir o Rio Gualaxo do Norte, que deságua no Rio do Carmo e segue para o Doce.
No centro de Mariana, nas praças durante o dia e nos bares à noite, pipocam histórias atribuídas a moradores de Bento. “O cara tinha uma vaca, agora fala para a Samarco que eram cem”, disse à reportagem o dono de um bar. “O rapaz disse que tinha um cofre cheio de dinheiro em casa que a lama levou. Acharam o cofre e não era nada disso”, emendou um cliente na conversa.
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