Cena do filme Carandiru | Foto: Marlene Bergamo/Divulgação |
Hideo
Augusto Dendini já era lotado no gabinete de Serra no Senado
O
ministro das Relações Exteriores do governo interino de Michel Temer (PMDB),
José Serra (PSDB), nomeou no último dia 4 de agosto um dos policiais militares
envolvidos no Massacre do Carandiru, em 1992, para exercer cago no Itamaraty.
Hideo
Augusto Dendini assumiu um dos cargos mais altos da pasta, denominado DAS 5, de
assessor especial, em caráter transitório, para atuar em Brasília.
Dendini
sentou no banco dos réus pela morte de 111 presos no dia 2 de outubro de 1992,
quando uma rebelião no Pavilhão 9 do Complexo do Carandiru acabou com a invasão
da PM do Estado de São Paulo. Ele fora absolvido. Contudo, o Estado foi
condenado a indenizar filhos de um dos mortos no Massacre.
Na
época, o agora funcionário do Itamaraty era 1º tenente. Em 24 de maio de 2004,
Dendini recebeu promoção para capitão da PM paulista, já comandada pelo atual
governador Geraldo Alckmin (PSDB).
Anteriormente,
Dendini exercia funções no gabinete pessoal de Serra no Senado Federal – hoje
ministro de Temer, o tucano foi eleito como senador por São Paulo, em 2014,
para um mandato de oito anos. Assistente parlamentar sênior, o ex-policial
tinha vencimentos de R$ 14.184,25 na Casa. Em consulta feita no site da
transparência do governo do Estado de São Paulo, é possível ver que Dendini
recebe, atualmente, como aposentado, R$ 14.295,61 líquido.
Todos
os envolvidos na nomeação do ex-PM Dendini foram procurados pela reportagem,
mas nenhum respondeu aos contato realizados.
As
cicatrizes de quem passou pelo Carandiru
Só
quem já foi preso no Brasil conhece as dores e as marcas, eternas, deixadas
pelo sistema penitenciário. Cinco pessoas que passaram pelo Carandiru, o maior
complexo penitenciário que já existiu na América Latina, localizado em São
Paulo, contam suas histórias de vida no documentário Depois das Grades.
A
partir das narrativas de Cristiano Simplício, Edenilson Leal, Aldidudima Salles
e Daniel Gomes, além de Luciana Barbosa, que viveu na Penitenciária Feminina
Sant’Ana, que funciona até hoje dentro do parque da Juventude, onde era o
Carandiru, é possível ter uma noção dos problemas que a desigualdade social
proporciona a muitos brasileiros. Todos tentaram, mas jamais conseguiram
trabalho com carteira registrada após a prisão.
Dois
foram impedidos por solicitações de antecedentes criminais; teve quem conseguiu
aposentadoria através de um benefício de assistência social; e ainda há quem
não se encontrou fora da cadeira e faz o que for preciso para não passar fome.
Em
meio às histórias, analistas debatem a funcionalidade do sistema penitenciário
brasileiro. Isolando o cidadão que infringiu a lei de um ciclo social, a
expectativa é de que ele seja reinserido naquela mesma sociedade. Ou seja, há
contradição no atual modelo, que, segundo cinco pessoas que têm cicatrizes
psicológicas e físicas que a cadeia deixou, não pensa no Depois das Grades.
Colaborou
Luís Adorno.
Fonte:
ponte
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