247 – Os economistas liberais perderam a paciência com o interino Michel Temer e com o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. O motivo é o rombo fiscal cada vez maior, apesar das promessas de ajuste fiscal. O mesmo se aplica aos jornalistas que abraçam esse discurso.
Para o economista Samuel Pêssoa, da FGV, Meirelles está cada vez mais parecido com Joaquim Levy, que foi incapaz de aprovar seu ajuste fiscal. “É só resgatar a trajetória, porque vimos esse filme com a Dilma e o Levy no ano passado: quando as medidas importantes para o ajuste fiscal chegaram ao Congresso, foram desfiguradas, e a sinalização agora é que o governo Temer e sua equipe econômica, por melhor que seja, podem reproduzir o mesmo enredo”, afirma.
O jornalista Fernando Dantas, do Estado de S. Paulo, avalia que Temer e Meirelles têm abusado da sorte, confiando na melhor liquidez internacional para atravessar o período atual. "O governo não deveria contar com a sorte. Não deveria, portanto, em seus cálculos sobre como reconduzir as contas públicas brasileiras a um estado saudável e plenamente solvente, ter como pressuposto que prosseguirão neste e nos próximos anos tanto o cenário internacional de alta liquidez e apetite de risco quanto a trajetória do deflator do PIB acima do IPCA. Tampouco deveria pressupor que vai vencer tudo no Congresso", diz ele.
Vicente Nunes, colunista do Correio Braziliense, diz que Meirelles tem escorregado com frequência e que o clima na Fazenda já foi bem melhor do que agora. "Pois, passados quase três meses do governo de Michel Temer, o clima entre os auxiliares de Meirelles já não é de tanta autoconfiança. Há um certo descontentamento com o encaminhamento que vem sendo feito pelo governo, sob o argumento da interinidade, nas negociações com o Congresso que podem desfigurar o prometido ajuste fiscal. Com diz um dos técnicos, 'algo de muito estranho está acontecendo e o resultado pode ser muito ruim'”.
"Meirelles sentiu o baque das concessões que foi obrigado a fazer. Nos últimos dias, reuniu-se com vários integrantes de sua equipe para construir um discurso de que tudo está bem, que, tão logo o impeachment definitivo de Dilma Rousseff seja aprovado, tudo será diferente e o governo adotará medidas duras e, se preciso for, impopulares, para cumprir todas as metas assumidas. Quando, porém, um ministro precisa fazer esse tipo de convencimento com sua equipe deve-se botar as barbas de molho. O risco de fracasso entrou no horizonte da Fazenda", diz ainda Vicente Nunes.
Miriam Leitão, do Globo, confirma essa tese e diz que o mercado já olha para o governo Temer e sua equipe econômica com desconfiança cada vez maior. O economista Alexandre Schwartsman, por sua vez, diz que, enquanto o gasto público continuar crescendo – Temer ampliou o rombo em mais de R$ 100 bilhões – o Brasil estará condenado a um crescimento medíocre."Não há como sonhar com uma recuperação vigorosa como na saída de outras recessões, pelo contrário: o fardo do setor público há de garantir crescimento medíocre ainda por muitos anos", afirma.
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