Nas mensagens pelo celular de Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez, PF descobre referências a encontros que teriam sido realizados em abril de 2012 com o então vice-presidente da República Otávio Azevedo, Michel Temer e Eduardo Cunha. Foto: Estadão
Do Estadão
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Nas milhares de mensagens encontradas no celular do ex-presidente da Andrade Gutierrez Otávio Azevedo, a Polícia Federal encontrou referências a três encontros entre o empreiteiro e o então vice-presidente Michel Temer em anos eleitorais, 2012 e 2014, intermediados pelo ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
A própria assessoria do presidente em exercício confirma que, pelo menos em 2014, Temer se encontrou com o executivo no gabinete da vice-presidência, onde Azevedo anunciou que faria doações ao PMDB. A assessoria, contudo, disse que Temer não se recorda da presença de Cunha, que não consta nos registros oficiais do gabinete e tampouco do motivo para ele ter aparecido como “intermediador” do encontro.
Segundo a assessoria, o presidente em exercício sempre manteve “relação institucional” com o empreiteiro e não precisava do contato de Cunha para intermediar o encontro.
As mensagens de SMS entre Azevedo e Cunha revelam que, no dia 4 de abril de 2012, o empresário se atrasou para um encontro com o peemedebista e o vice-presidente. Na ocasião, nem mesmo o executivo sabia que Temer estaria presente. “O Michel cansou de te esperar e foi embora, fiquei só eu”, disse Cunha. As mensagens não deixam claro, porém, onde seria o encontro. A própria assessoria de Temer diz que ele não se recorda deste evento.
Azevedo, então, responde:”Você é que me interessa. O Michel é um grande líder e eu não poderia incomodá-lo. Mas na verdade não sabia que ele estaria aguardando com você. Estou chegando, mas tem alguma merda acontecendo na cidade”, disse. O peemedebista ri.
O DIÁLOGO ENTRE CUNHA E OTÁVIO EM 2012 (A ORDEM DAS MENSAGENS ESTÁ DE BAIXO PARA CIMA)
Já em 30 de julho de 2014, ano em que tanto Cunha quanto Temer disputavam as eleições, o executivo foi procurado pelo empresário. Cunha chegou a ligar duas vezes para o empresário pela manhã, mas Azevedo justificou que estava em um evento da Confederação Nacional da Indústria, CNI, e pediu para falarem mais tarde.
O peemedebista, então, pergunta quando o executivo vai embora de Brasília e para onde ele vai, e os dois acabam combinando de se encontrar na manhã seguinte, às 8h. Mais tarde naquele mesmo dia, porém, Otávio Azevedo diz que ainda vai ligar para confirmar o encontro, explica que estava com o senador e então candidato a presidência Aécio Neves (PSDB) e que iria se encontrar com a outra candidata, Dilma Rousseff (PT), as 15h.
O DIÁLOGO DE 2014 (A ORDEM DAS MENSAGENS ESTÁ DE BAIXO PARA CIMA)
Querendo agilizar a situação, Cunha então sugere que o empresário vá ao Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, encontrar com ele e com Temer. “Vc pode sair e ir ao Jaburu, me encontra e ao Michel se quiser”, afirma o deputado que ainda diz para o empreiteiro escolher a hora que quiser que ele “adaptaria” o resto.
Os dois confirmam o horário para as 14h e Cunha acaba avisando a mudança do endereço do encontro para o gabinete da vice-presidência, ao que Otávio Azevedo responde com “Ok”. Este encontro foi confirmado pela assessoria de Temer, que, contudo, diz que o presidente em exercício não se recorda de Cunha na reunião.
Quatro meses depois, há registro de marcação de um novo encontro de Temer com Azevedo, na residência oficial do vice. Em 7 de agosto de 2012, Cunha escreveu para Azevedo: “Tá confirmado 20h30 Jaburu”. No relatório não há registro de resposta do executivo. A assessoria do peemedebista diz não ter o registro do encontro entre Temer e Otávio Azevedo no Jaburu.
As mensagens do celular de Otávio revelaram o assédio que o empreiteiro recebia de políticos, sobretudo de Cunha, com quem chegou a discutir alterações “sigilosas” em Medidas Provisórias, que são alvo da Operação Zelotes que investiga o lobby de empresas para alterar MPs no Congresso. Paralelamente às negociações, o peemedebista também passou dados de contas dele e do ex-ministro Henrique Alves para que Otávio fizesse doações.
Ao jornal O Globo, Cunha alegou que não se recordava dos assuntos dos encontros.
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