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A estabilidade da exclusão POR FERNANDO BRITO


A conversa de que o ano que vem repetirá o déficit público deste ano, já avantajado para R$ 170,5 bilhões, tem duplo sentido de entendimento, ambos verdadeiros.
Primeiro, está sendo inflada propositalmente, de tal forma que sua fixação, afinal, em R$ 150 bilhões ou pouco mais seja vista como “uma vitória da equipe econômica”, como se fosse o “gol de honra” de um time que está perdendo de goleada.
Segundo, e mais grave, é que este “rombo” será causado muito menos pelo aumento das despesas – que é inevitável em um país carente como o nosso – e  muito mais pela estagnação – e isso é otimista – das receitas públicas.
Os nossos colunistas econômicos, incondicionais do neoliberalismo e oferecidos porta-vozes do financismo que domina a economia brasileira vão chiar, mas o tal “dever de casa”, no Brasil, simplesmente não pode ser feito senão com o país em crescimento.
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O gráfico aí ao lado, que você pode ampliar com um clique, mostra a trajetória do gasto social no Brasil. Foi “filado” do excelente blog do professor de Economia Fernando Nogueira da Costa, da Unicamp, e mostra, num só olhar, duas coisas: o de como eles crescem mesmo em governos contracionistas, como o de Fernando Henrique e como eles saltam nos governos desenvolvimentista, para padrões que dificilmente se conseguirá reverter.

Não há como arrancar superávits à base de tesoura, porque não há pano para cortar e o pouco que se tem nem mesmo cobre nossas vergonhas. E a entrega do país não resolve sequer o endividamento – a dívida dobrou no governo lesa-pátria de FHC – porque se dá na bacia das almas, levando nos juros mais do que se deixa nas privatizações.
De onde, então, cortar?
Alguém pode imaginar que as administrações públicas dos estados e dos municípios possam ainda “enxugar” despesas, estando – como estão – à beira do caos ou já dentro dele, como é o caso do Rio de Janeiro?Ou que o aglomerado corrupto-fisiológico que Michel Temer arrumou para sustentá-lo –  que apenas pior, mas não é original, porque o PT ou qualquer outro depende da montagem de uma base que, olhada de perto, federá – vai permitir docilmente que se tribute quem tem, tirando a receita do sufoco?
É muito mais fácil – e logo veremos – acabar com as manchetes negativas do que com os fatos negativos.
Os exemplos são muitos; fico no último.
Ontem, divulgou-se o número de falências e concordatas.
No “Brasil da Crise”, que acabou no dia 12 de maio, com o afastamento de crise, isso teria destaque. No Brasil do “vai dar certo, mesmo dando errado”, vai para o último parágrafo da matéria a informação de que “tomando-se apenas o mês de junho, os pedidos de falência cresceram 22,8% sobre junho do ano passado e 20,2% sobre maio. Os pedidos de recuperação judicial subiram 77,7% sobre junho de 2015 e 21,5% sobre maio”.
Não haverá, salvo algum chacoalhão de escala mundial –  e a sobra de capitais tem servido de amortecedor eficiente para estes – afundamento ou saltos para cima da economia mundial que favoreçam uma entrada de capitais maior do que a que temos e o melhor que se pode esperar é um quadro de estagnação, que só aos tolos poderá iludir com “queda nas quedas” dos índices econômicos.
O dólar caiu? Leia o ótimo artigo de João Paulo Kupfer, hoje, no Estadão: “(…)na maior parte dos países, o mercado de câmbio contratado é o mais líquido, mas, no Brasil, o total diário negociado nesse mercado fica, em média, três a cinco vezes abaixo do volume movimentado no mercado de derivativos de câmbio”. A retração do valor do dólar só vem afundar mais ainda o setor produtivo brasileiro.
O que chamam de “estabilidade” é  a manutenção do status quo de um país que se conforma com a eternização da exclusão.
E o tempo da exclusão é o passado, nunca mais o futuro.

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