Mulher participa de ato contra violação de garota carioca. ANTONIO LACERDA EFE |
Eloisa
Samy, que acompanha adolescente vítima de estupro, considera conduta imprópria
Alessandro Thiers é titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática
Eloisa
Samy, advogada da adolescente carioca que teve imagens de sua violação
distribuídas pela Internet, anunciou que vai pedir a saída de Alessandro
Thiers, titular da Delegacia de Repressão aos Crimes de Informática da Polícia
Civil do Rio, sob o argumento de que ele adota uma conduta inadequada para o
caso. "Há machismo do próprio delegado. Ele perguntou para ela se ela
tinha por hábito fazer sexo grupal." Samy elogia a responsável pela
Delegacia da Criança e Adolescente Vítima, Cristina Bento, que também
acompanha. "Ela foi irreprochável, a pessoa mais sensível, ao lado do
psicólogo. Agora o delegado coloca mais três homens na sala. Mesmo com a
comoção em torno do caso, isso aconteceu", contou ao EL PAÍS neste sábado.
Ativista
de direitos humanos, a advogada ofereceu assistência jurídica à garota e sua
família. Para Samy, a insistência de Thiers de que é necessário um exame de
corpo de delito para falar em estupro não é aceitável. "A palavra da
vítima da basta em caso de estupro de uma mulher. Se tivesse sido um furto de
celular, de um relógio, isso não aconteceria. O que precisava além do vídeo que
mostrando a moça desacordada, nua, para que a palavra da vítima fosse
reconhecida e legitimada? As imagens são cristalinas."
No
vídeo publicado na Internet, a moça aparece desacordada em uma cama, enquanto
homens a filmam. Um deles exibe sua pelves ensanguentada. "Olha como que
tá. Sangrando. Olha onde o trem passou. Onde o trem bala passou de
marreta." A divulgação das imagens, em que os envolvidos também mencionam
que "mais de 30" a "engravidaram", deram origem à apuração
do caso.
Na
sexta, três suspeitos de envolvimento no caso prestaram depoimentos e foram
liberados. Um deles, Lucas Perdomo Duarte Santos, de 20 anos, que teve
relacionamento com a adolescente no ano passado, afirmou à polícia que não
manteve com a moça relações sexuais com penetração. Segundo o Estado de S.
Paulo, o advogado de Santos, Eduardo Antunes, admitiu que Souza expôs foto da
jovem no WhatsApp. Raí de Souza, de 18 anos, disse ter mantido relações sexuais
consentidas com a adolescente e afirmou que as imagens foram feitas por seu
celular, mas que não é responsável pela divulgação.
"A
polícia só vai pedir algum tipo de prisão se for comprovada a existência do
crime e se houver necessidade", afirmou o delegado Thiers, segundo a
Folha. "A gente está investigando se houve consentimento dela, se ela
estava dopada e se realmente os fatos aconteceram. A polícia não pode ser
leviana de comprar a ideia de estupro coletivo quando na verdade a gente não
sabe ainda", disse.
Após
prestar depoimentos, todos foram liberados, o que foi criticado por Samy.
"Como essas imagens chegaram na Internet, por mágica? Eles confessaram que
compartilharam", diz a advogada. Divulgar imagens de menores de idade - a
garota tem 16 anos - é crime previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente
(ECA) com pena de prisão de três a seis anos. Em 2009, a lei 12.015 do Código
Penal Brasileiro foi alterada e passou a considerar, além da conjunção carnal,
atos libidinosos não consentidos como crime de estupro.
Santos
e Souza afirmam que a moça não foi estuprada - referindo-se à prática sexual
com penetração - e afirmam que um grupo
chegou à casa em que se cometeu o crime na Zona Oeste do Rio após um baile
funk. A adolescente diz que, depois de encontrar Souza, acordou no imóvel
rodeada de homens armados. De acordo com a advogada Eloísa Samy, o crime
aconteceu no domingo, e não na sexta dia 20, como a garota havia dito
inicialmente. No primeiro depoimento, ainda de acordo com Samy, ela ainda
estava confusa, sob efeito de dopagem. "Ela segue sendo alvo de ameaças
verbais no Facebook. O vídeo segue sendo compartilhado. Ela começa a apresentar
sinais de síndrome do pânico", afirma a advogada.
"Fui
a um baile. Fui ao encontro ao meu ex na casa dele e dormi. Quando acordei,
acordei em outra casa. A luz estava acesa e havia um montão de gente em cima de
mim", disse, em entrevista ao jornal O Globo. Ela disse ter sido
violentada "em todos os lugares em que você possa imaginar",
inclusive com objetos. "Tem outro vídeo, só dos objetos... eu chorei e
fiquei batendo neles".
Não
é a primeira vez que a advogada Eloísa Samy e o delegado Alessandro Thiers se
cruzam em um caso. Samy esteve entre as 23 pessoas denunciadas à Justiça e que
chegaram a ter a prisão decreta em 2014 sob a acusação de planejar e participar
de protestos violentos no Rio durante a Copa do Mundo. Thiers foi o responsável pelo inquérito, que os acusava de formação de quadrilha.
Fonte:
elpais
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