A
bancada do PT no Senado quer o esclarecimento das mortes de dois trabalhadores
rurais ocorridas nesta quinta-feira (07), no acampamento do Movimento dos
Trabalhadores Sem Terra (MST) Dom Tomás Balduíno, na região de Quedas do
Iguaçu, Centro do estado do Paraná, após ação da Polícia Militar.
Nesta
sexta-feira (08), o senador Lindbergh Farias (PT-RJ), vice-líder da bancada, em
nome de todos os senadores, enviou uma representação ao ministro da Justiça,
Eugênio José Aragão, pedindo investigação sobre as mortes dos trabalhadores
Vilmar Bordim e Leomar Bhorbak, além de um número de feridos ainda não
determinado.
O
MST define a ação da PM como “ataque covarde promovido pela PM e por seguranças
da Araupel”, apontando responsabilidade pelos crimes à empresa que ocupa uma
área do governo federal. Vilmar Bordim,
tinha 44 anos, era casado e pai de três filhos; Leomar Bhorbak, de 25 anos,
deixa a esposa grávida de nove meses. Também foram feridos pelo menos mais sete
trabalhadores.
A
versão da Secretaria da Segurança Pública do Paraná, notória pela truculência
demonstrada contra professores da rede pública paraense do início deste ano, é
a de que os policiais militares ambientais, acompanhados da Rondas Ostensivas
Tático Móvel (Rotam), foram vítimas de uma emboscada.
"Os
policiais se deslocaram até a área onde foi registrado o incêndio, pois houve
um crime ambiental, e lá chegando lá foram recebidos em um bloqueio feito pelo
MST, onde vieram elementos do movimento e começaram a efetuar disparos contra a
equipe. De imediato, a equipe se protegeu", afirmou o comandante do 5°
Comando Regional de Cascavel, tenente-coronel Washington Lee Abe.
A
explicação oficial é manca. Não explica, por exemplo, como os policiais foram
vítimas de uma emboscada com tiros, mas os mortos e feridos são apenas
trabalhadores rurais do MST.
Para
reforçar a versão de que os PM foram vítimas, o mesmo coronel Washington Lee
Abe diz que foram apreendidas duas armas e uma faca no acampamento dos
sem-terra, mas não informou que nele vivem 1.500 famílias – o que anula a
pretensa denúncia sobre a presença de armas.
Já
a versão do MST é a de que os trabalhadores que foram vítimas de uma emboscada
na área ocupada. E mais: a polícia impediu o socorro aos que foram feridos no
tiroteio. O MST define o ocorrido como "ataque covarde promovido pela PM e
por seguranças da Araupel".
A
região é área de conflito, desde que a Araupel – empresa que reúne duas grandes
madeireiras do Paraná, hoje dedicadas ao negócio do reflorestamento e da
fabricação de painéis – apropriou-se uma gleba que já foi definida como
pública, de propriedade da União, portanto, destinada à reforma agrária.
Leia
abaixo, na íntegra, a representação apresentada pelos senadores do PT
EXCELENTÍSSIMO
SENHOR MINISTRO DE ESTADO DA JUSTIÇA
EUGÊNIO
JOSÉ GUILHERME DE ARAGÃO
Sr.
Ministro,
A
bancada do Partido dos Trabalhadores no Senado Federal vem por meio deste
solicitar a V. Exa. , com fulcro no art. 1º, III, da Lei nº 10.446/2002, que
proceda à investigação do assassinato de dois trabalhadores rurais,ocorrido no
acampamento Dom Tomás Balduíno, na região de Quedas do Iguaçu, Centro do Estado
do Paraná, ocorrido nesta quinta-feira, dia 7 de abril de 2016. Há, ainda, a
informação de vários feridos.
As
mortes ocorreram por ação de policiais militares. Em nota, a Secretaria
Estadual de Segurança Pública (SESP) afirma que os policiais foram alvos de
emboscada, mas confirmam a informação de que dois agricultores sem-terra foram
mortos e seis ficaram feridos.
O
cenário do conflito reflete parte do clima de tensão que nasce na luta pelo
acesso a terra e contra a grilagem na região. O acampamento Dom Tomás Balduíno,
cuja ocupação teve início em junho de 2014, possui 1500 famílias e fica na
região de Quedas do Iguaçu. Possui 12 alqueires de área aberta, sendo apenas 9
– cerca de 30 hectares – utilizados para o plantio.
A
Polícia Militar do Estado do Paraná possui, infelizmente, um histórico de
violação de Direitos Humanos, que pode ser verificado em tempos mais recentes
como no episódio da greve de professores no ano de 2015, em que a ação com
bombas, cassetetes e gás sobre os trabalhadores chocou o país.
Há,
nesse como em outros acontecimentos, omissão das autoridades policiais do
Estado do Paraná em investigar violações de direitos humanos cometidas pela
Polícia Militar desse Estado, o que justifica a necessidade de atuação do
Departamento de Polícia Federal, para que o Brasil cumpra as obrigações
decorrentes de pactos internacionais
sobre direitos humanos, especialmente, coibindo as violações ao direito à vida, previsto no
art. 4o, no 1, da Convenção Americana sobre Direitos Humanos, da qual é
signatário por força do Decreto no 678, de 6/11/1992.
Ante
o exposto, é a presente representação para requerer a esse ministério:
1) A imediata instauração de inquérito
policial pelo Departamento de Polícia Federal, com o objetivo de investigar os
atos de violência praticados pela Polícia Militar do Estado do Paraná que
culminaram com a morte de Vilmar Bordim e Leomar Bhorbak, dois trabalhadores
rurais, e ferimentos de outros, ainda em número indeterminado;
2) Que as investigações sejam determinadas de
imediato para que as provas sejam preservadas;
3) Seja permitido e garantido o acesso à área
dos defensores de direitos humanos e para que os órgãos federais responsáveis
pela mediação de conflitos fundiários prestem imediata assistência às famílias
do acampamento Dom Tomás Balduíno.
Termos
em que pede deferimento.
Senador
Lindbergh Farias
Vice-líder
– Partido dos Trabalhadores
Fontee
foto: PT no Sendo
Fonte:
redemundonoticias
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