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A destruição de um país





Os indivíduos em geral e a as coletividades, quase sempre, movem-se em função de desejos e objetivos. Por uma década, reaprendemos a acreditar que o caminho para alcançá-los eram o Brasil em desenvolvimento e o nosso próprio desafio de, neste ambiente, alcançarmos o progresso pessoal: o “fazer um curso” ou graduar-se, “abrir um negócio”, comprar uma casa, um automóvel e assim por diante.

Havia lugar para os pequenos sonhos de cada um no grande sonho de um país.

O governo nacionalista e inclusivo que nos permitia estas aspirações, infelizmente, não foi capaz de interferir no outro patamar, este subjetivo, onde se acomodam desejos e aspirações humanas: a compreensão que, se era essencial o objetivo individual, a realização deste dependia, inapelavelmente, do ambiente econômico-social que passáramos a ter.

Acho curioso – e trágico – que a discussão hoje na esquerda seja sobre falta de critérios mais “morais” nas alianças que fez para governar por uma década – e apenas isso, porque , depois de 2013, o governo passou apenas a responder às crises e não mais a dirigir o processo político.

O quadro político-parlamentar do Brasil é, há muito tempo, este desastre que assistimos hoje. Um pouco melhor aqui ou ali, talvez, mas em geral assim: miúdo, fisiológico, acanalhado, ávido por recursos eleitorais (que vinham, claro, de empresas que visavam lucros e privilégios), quando não de enriquecimento pessoal. Controlá-lo é o passo essencial para qualquer governo e muito mais difícil é para um governo que pretenda transformar o país: mudar é muito mais difícil que manter o status quo de uma sociedade injusta.

Só os pueris podem acreditar que uma seita de “puros e castos” converterá a sociedade ao tal padrão – que ironia! – “Fifa”. Nem mesmo, estamos a ver, quando esta seita – nem tão casta, nem tão pura – tem, como tem o sistema judicial brasileiro, o poder de denunciar, prender, fuçar, grampear, escavar – e sem consequência alguma – os escaninhos da vida de cada cidadão.

O resultado da “onda” moralista está aí, diante de nós: um país arruinado, onde o ceticismo se tornou a regra, onde a desesperança venceu a vontade, onde a estagnação sufocou o desejo de progresso, onde a drenagem de nossas riquezas para a ser apontada como “salvação” e onde todos nós nos embrutecemos.

Quem, agora, pensa em “fazer um curso”, “abrir um negócio”, “conseguir uma promoção”, comprar uma casinha, exceto uma pequena camada da população?

Como, se o debate nacional é “onde vamos cortar”, “como vamos taxar mais” o “o que vamos vender” ou “a quem vamos prender e condenar”?

Todo processo de transformação no Brasil sempre foi abortado com o fórceps do moralismo, desde Vargas. Da UDN dos punhos de renda, aos coxinhas da paulista, passando pelas senhoras católicas e lacerdistas, sempre veio da classe média o combustível humano para as fogueiras da Inquisição, que são as chamas da treva.

Há uma pequena chance – e apenas porque aqueles tempos de progresso são recentes e se personalizam em Lula – de retomarem-se um projeto de vida e de país onde o crescimento econômico seja mais importante que os cortes orçamentários, onde investir seja a forma de avançar, onde incluir seja a fórmula para o progresso social, onde o ódio não seja mais a pauta da política.

Os “purismos” – sejam os étnicos, os religiosos, os morais – sempre foram capas hipócritas da crueldade humana e social. A nossa força sempre foi o contrário: o Brasil diverso, mestiço, cheio de pecados que fomos expurgando com o tempo, sempre que tivemos liberdade e mesmo quando tivemos tantas eras autoritárias.

Ainda mais quando vemos que os nossos santos não são nada franciscanos e, de seus berços de farturas, mostram um desprezo supremo pelo sofrimento da população.

Fonte: tijolaco

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