About Me

BVO-news.jpg

Odebrecht delatou donos da Andrade e da Camargo

Fachada da sede da Odebrecht na zona oeste de São Paulo

FOLHA de S. PAULO - Depoimentos prestados por delatores da Odebrecht arrastaram para o centro da Operação Lava Jato sócios de empreiteiras concorrentes, ampliando o interesse dos investigadores sobre a cúpula dessas empresas.

Executivos que participam do acordo de colaboração premiada firmado pela companhia baiana citaram nominalmente em seus depoimentos, pela primeira vez, o principal acionista da Andrade Gutierrez, o empresário Sergio Andrade.

Além disso, no acordo, delatores da Odebrecht relataram acertos em obras nas quais a empresa atuou em consórcio com outras firmas, entre elas a Camargo Corrêa.

Quatro pessoas que acompanham diretamente os desdobramentos da Lava Jato – no meio empresarial e na força-tarefa– afirmaram à reportagem que esses relatos conduzem a investigação na direção de Luiz Nascimento, acionista da Camargo.

Segundo a Folha apurou, embora Nascimento não tenha sido citado nominalmente pelos delatores, o detalhamento de operações feitas em conjunto pela Camargo e a Odebrecht o colocou na mira da Lava Jato. Por isso, ele deve ser chamado pelos procuradores a prestar esclarecimentos.

Nascimento era, entre os acionistas do grupo Camargo, o responsável por manter contato com políticos. Ele já havia sido citado por um delator, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado.

Em seu depoimento, Machado afirmou que recebeu R$ 350 mil em dinheiro vivo das mãos de Nascimento, em 1998, para entregar ao PSDB. Na época, a empresa se limitou a dizer que estava colaborando com as investigações.

Sergio Andrade, por sua vez, aparece pela primeira vez na apuração em menções a contratos de obras no setor elétrico. Ele também deve ser chamado a depor.

Dentro da Odebrecht, as citações a donos de outras empreiteiras são tratadas como um dos conteúdos mais sigilosos do acordo fechado pela empreiteira.

O fato de executivos da empreiteira baiana terem mencionado concorrentes contribuiu para que a Camargo e a Andrade fossem chamadas a se explicar, em uma espécie de "recall", para complementar informações já prestadas nos acordos que cada uma delas firmou com a Lava Jato.

Não está claro se as informações que constam de delações da Odebrecht vão obrigar a uma revisão das multas negociadas nos acordos de leniência firmados pela Camargo e a Andrade com a força-tarefa da Lava Jato.

A Camargo foi a primeira empresa a fazer um acordo do gênero, em 2015. A negociação resultou no pagamento de uma multa de R$ 700 milhões. Já o da Andrade Gutierrez levou ao pagamento de R$ 1 bilhão.

Esses acertos garantem que as empresas possam voltar a ser contratadas pelo poder público. As empreiteiras negociam acordos semelhantes com outros órgãos.

Com o agravamento da situação da Odebrecht na Lava Jato, havia um ressentimento na empresa pelo fato de Emílio Odebrecht ter sido o único dono de empreiteira entre as citadas na operação a ser fortemente implicado, a ponto de ter sido obrigado a também firmar um acordo de delação premiada.

Se a colaboração premiada for homologada, Emílio cumprirá pena de quatro anos em regime domiciliar.

A explicação do Ministério Público para as delações da Camargo e da Andrade não englobarem até agora seus sócios é que elas foram firmadas quando as apurações da Lava Jato estavam em um estágio menos avançado.

Ao longo de todo o processo, a Odebrecht tentou evitar que Emílio, seu principal acionista e presidente do conselho administrativo, integrasse o acordo de delação.

PAI

A participação dele se tornou inevitável, porém, depois que seu filho, Marcelo, ex-presidente da empresa preso desde junho de 2015, disse aos investigadores que assuntos relacionados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva deveriam ser indagados diretamente a seu pai.

Segundo a Folha apurou, a missão de falar sobre os concorrentes não coube a Emíllio, apesar de ele ter conhecimento tanto das citações como do contexto em que elas ocorreram.

OUTRO LADO

Procurada, a assessoria da Andrade Gutierrez afirmou que a empresa "não teve acesso às delações e, portanto, não tem como comentar o teor das mesmas".

Fez questão, porém, de salientar que o sócio da empreiteira, Sergio Andrade, "nunca exerceu cargo executivo na companhia, não tendo poder decisório". "Sendo assim, não faz sentido nenhuma implicação [em investigações da Lava Jato]", concluiu.

A assessoria da Camargo Corrêa afirmou, em nota, que a construtora foi "a primeira grande empresa do setor a colaborar com os órgãos de investigação e a firmar um acordo de leniência com a Justiça, com o compromisso continuado de corrigir irregularidades, aprimorar controles internos e sistemas de compliance".

"Neste sentido, a Construtora Camargo Corrêa reitera que segue colaborando com as autoridades e não comenta especulações", concluiu.

A assessoria da Odebrecht afirmou, também em nota, que "não se manifesta sobre o tema, mas reafirma seu compromisso de colaborar com a Justiça". "A empresa está implantando as melhores práticas de compliance."

Postar um comentário

0 Comentários